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América foi inicialmente povoada por três ondas migratórias da Ásia, diz estudo

Durante muito tempo havia dúvida sobre a origem dos habitantes do continente americano. Segundo os pesquisadores, este estudo põe fim ao dilema

Por Da Redação
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h30 - Publicado em 12 jul 2012, 09h24

Os primeiros habitantes da América chegaram ao continente há mais de 15.000 anos, em três ondas migratórias vindas da Ásia, segundo o estudo de uma equipe internacional de cientistas publicado nesta quarta-feira pela revista Nature.

O estudo do genoma de uma ampla seleção de tribos indígenas americanas, do Canadá à Terra do Fogo (no extremo sul do continente americano), demonstra que a população procede de pelo menos três ondas migratórias de habitantes asiáticos que teriam chegado ao novo continente através do Estreito de Bering, na Sibéria. Durante as eras glaciais – há mais de 15.000 anos -, o Estreito permaneceu congelado e serviu como ponte entre os continentes asiático e americano.

Embora os analistas calculem que tenham ocorrido pelo menos três grandes migrações, a maioria das tribos descende da primeira delas, conhecida como os ‘Primeiros Americanos’, já que as outras duas se limitaram à América do Norte. “Durante anos se debateu se os habitantes da América procediam de uma ou mais migrações através da Sibéria, mas nossa pesquisa põe fim a este dilema: os nativos americanos não procedem de uma só migração”, disse o cientista colombiano Andrés Ruiz-Linares, do University College de Londres, e autor principal do estudo (veja no quadro ao lado as principais hipóteses sobre a ocupação da América).

De onde vieram os índios?

As teses sobre a ocupação da América

50.000 ANOS

Algumas evidências apontam uma colonização mais antiga para a América, de até 50.000 anos. Esse é o dado obtido pela brasileira Niède Guidon na Serra da Capivara, no Piauí. A datação não foi feita com ossos humanos, mas com carvão vegetal associado ao que a arqueóloga considera antigas fogueiras. Essa hipótese é aceita por poucos pesquisadores, que acreditam que o carvão usado na datação pode ser resultado de um incêndio natural. A pesquisadora também identificou pedras que teriam sido usadas para cortar há 50.000 anos. Data posterior (40.000 anos) foi obtida num sítio do México pela arqueóloga Silvia González, a partir de cinza vulcânica associada a antigas pegadas humanas – mas outros pesquisadores, analisando os mesmos dados, dizem ter havido erro no procedimento. Fonte: Revista Aventuras na História

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15.000 ANOS

É a tese defendida pelos autores da pesquisa descrita nesta reportagem, com base na análise genética dos índios americanos, do Canadá ao extremo sul do continente. É igual à tese defendida pelo antropólogo brasileiro Walter Neves, com base no esqueleto de Luzia, de 11.000 a 12.000 anos, encontrada no sítio arqueológico de Lagoa Santa, na Grande Belo Horizonte, Minas Gerais. Para Neves, Luzia é a evidência de que os antepassados dos índios vieram pelo Estreito de Bering há 15.000 anos e aos poucos ocuparam o continente. É a tese mais aceita.

11.400 ANOS

É a data defendida por parte dos arqueólogos americanos (chamados de Clovistas), com base em objetos como pontas de flechas e de lanças encontradas em um sítio arqueológico do Novo México. Essa tese sustenta que houve apenas uma entrada pelo Estreito de Bering.

Maior pesquisa genética – É a maior pesquisa genética de nativos americanos até o momento, e nela os cientistas analisaram mais de 364.000 variações, detectadas no DNA de 52 tribos indígenas americanas e de 17 grupos siberianos.

A análise foi dificultada pela presença de material genético procedente de migrações posteriores, principalmente dos europeus e africanos que chegaram à América a partir de 1492. Por isso, os pesquisadores se centraram apenas nas seções do genoma que procediam totalmente dos nativos americanos. “Tecnicamente, o estudo dos povos nativos americanos representa todo um desafio devido à presença generalizada de traços europeus e africanos nos grupos nativos”, disse Ruiz-Linares.

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Em ondas – A primeira onda migratória – os ‘Primeiros Americanos’ – teria se deparado com um continente desabitado e seguiu rumo ao sul pela costa do Pacífico, deixando povoações em sua passagem, um processo que teria durado cerca de mil anos e cujas linhagens podem ser rastreadas no presente.

No entanto, o DNA de quatro tribos da América do Norte demonstra que houve pelo menos duas outras ondas migratórias: a segunda percorreu a costa do Ártico até a Groenlândia, e a terceira se dirigiu rumo às Montanhas Rochosas. Essas duas levas teriam sido protagonizadas por indivíduos mais próximos à etnia han, predominante na China, do que os ‘Primeiros Americanos’.

Ao avaliar o material genético da tribo dos aleútes e dos inuítes, habitantes do leste e oeste da Groenlândia, os pesquisadores constataram que metade de seu DNA procedia dos integrantes da segunda migração.

No caso dos membros da tribo canadense chipewyan, que viviam entre as Montanhas Rochosas e a baía de Hudson, os especialistas descobriram que tinham 10% do material genético em comum com os protagonistas da terceira leva migratória.

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O DNA dessas quatro tribos do Norte – aleútes, inuítes do leste, inuítes do oeste e chipewyan – contém material das três ondas migratórias, mas a maior parte corresponde à primeira. Isso significa que os habitantes asiáticos da segunda e terceira ondas teriam se relacionado com os primeiros que chegaram à América.

Segundo Ruiz-Linares, isso fica demonstrado pela menor diversidade genética dos nativos da América do Sul, cujo DNA é mais próximo ao dos ‘Primeiros Americanos’. “O povoamento do México rumo ao sul parece ter sido relativamente simples, com poucas misturas após a separação dos povos (até a chegada dos europeus em 1492)”, disse o pesquisador.

(Com Agência EFE)

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