Enquanto se esforçava para conciliar a rotina do doutorado com o ensino para alunos do fundamental de uma escola pública de Curitiba, a professora Vanessa Simões, 39, soube por colegas de uma oportunidade única. Um programa americano ofereceria um curso, todo pago, para dez professores brasileiros interessados em ensinar ciências espaciais. Vanessa se inscreveu, sem muita expectativa, mas foi selecionada e, ao longo do curso, uma surpresa ainda maior: ela e seus alunos enviariam um experimento para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).
Pedagoga há pelo menos 20 anos, hoje ela atua em um laboratório de práticas de ciências e tecnologias, onde tem contato com alunos de diversas turmas do ensino fundamental de quatro escolas municipais. O curso do Programa Limitless Global Educator, organizado pelo Limitless Space Institute (LSI) em parceria com a IHS Towers, tinha tudo a ver com isso: a ideia era capacitar professores de ciências brasileiros e nigerianos para falar sobre exploração espacial.
O projeto
As atividades para os 20 selecionados começaram em janeiro e os encontros duas vezes por mês durariam até dezembro. Já nos primeiros meses ela descobriu que participaria de um concurso, em parceria com a Nasa: junto de seus alunos, ela deveria aproveitar os conhecimentos do programa para pensar em um experimento para ser realizado na ISS. “No começo eu achei fantástico, mas só depois eu percebi o quão difícil seria”, disse Simões a VEJA. “Então eu selecionei alunos de 4º e 5º ano, ensinei os conceitos básicos e aí, então, eu comecei a anotar todas as ideias.”
Os projetos foram os mais mirabolantes, de fazer explosões de glitter a enviar carros tunados, mas após várias reuniões das crianças com a Kaci Heins, diretora do LSI, eles selecionaram a mais factível: colidir bolinhas para testar os princípios da conservação e transferência de momento, conceito da física que descreve propriedades dos movimentos.
Os 20 professores foram levados para Houston, nos Estados Unidos, entre 7 e 13 de julho. Lá eles conheceram uma das bases de lançamento da Nasa, um centro de treinamento de astronautas, além de muitos cientistas e empresários da área, para quem apresentaram os projetos. “Montei a apresentação de slides junto com os alunos, para que, mesmo de longe, pudessem explicar o experimento idealizado por eles”, ela afirma.
A ideia dela foi selecionada e, agora, diversas reuniões estão sendo realizadas para alinhar os últimos detalhes, que vão desde o material das bolinhas até a melhor data para envio do experimento, o que deve acontecer em 2025. Depois que for realizado e filmado com uma câmera de última geração, os dados serão enviados para a Terra para serem analisados pela professora e seus alunos.
Legado
A expectativa é que, além do ensino, o projeto também sirva para ajudar a construir o conhecimento que fundamentará projetos de exploração espacial no futuro. Até lá, o curso continua. “Trocar essa experiência com pessoas de outros países é muito enriquecedor e nos faz refletir sobre a nossa experiência como professores e sobre como o ensino de ciência no Brasil precisa ser melhor desenvolvido”, afirma Vanessa. “Mas o mais importante é trazer isso para as crianças. Ver a ciência acontecendo desde pequenininhos é uma experiência que vai ficar para a vida toda.”