Promoção do Ano: VEJA por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

A ousada proposta de cientistas para a criação de um cofre na Lua para apocalipse

Depósito seria usado para salvaguardar células vivas de seres terrestres e, assim, protegê-las de uma eventual catástrofe no planeta

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 ago 2024, 08h00

Em 2001, um grupo internacional propôs a criação de um grande depósito que pudesse salvaguardar grãos de todo o mundo. Diante dos crescentes conflitos globais e de um cenário de crises climáticas, a ideia saiu do papel sete anos depois, com a inauguração, na Noruega, do Silo Global de Sementes de Svalbard — também conhecido como Cofre do Apocalipse. A rede de túneis, encravada no permafrost em Svalbard, no norte da Europa, em uma montanha a 1 300 quilômetros do Polo Ártico, foi construída para durar ao menos dois séculos e proteger milhões de sementes de terremotos, explosões e dos efeitos das alterações do clima. Agora, contudo, há dúvidas a respeito da capacidade do local para resistir intacto.

O sistema foi posto à prova em 2017, quando um inverno inusualmente quente, consequência do acelerado aquecimento global, causou um alagamento que colocou em risco espécies preservadas no cofre ártico. Não houve prejuízos, mas o acidente inspirou ideias dignas de ficção. Em recente artigo publicado no Bio­Science, periódico científico da Universidade de Oxford, pesquisadores americanos de Harvard e do Instituto Smith­so­nian propõem a criação do que chamaram de biorrepositório lunar, um almoxarifado cósmico da vida terrestre. “No futuro, nós precisaremos de depósitos muito mais seguros”, defende a autora, Mary Hagedorn, pesquisadora do Instituto Havaiano de Biologia Marítima.

A proposta é ousada: aproveitar uma das crateras no polo sul da Lua, onde as temperaturas se aproximam de 200 graus negativos, para instalar um cofre que não precise de humanos ou de energia para proteger os valiosos itens. Nesse caso, não se trata só de sementes, mas de células vivas de seres fundamentais para a nossa biodiversidade — serão dezenas de coleções de células de bactérias, corais, plantas, insetos, aves e mamíferos, todas prontas para serem clonadas e fecundadas no caso de uma catástrofe global.

NA NORUEGA - Banco de sementes: ameaçado pelo aquecimento global
NA NORUEGA - Banco de sementes: ameaçado pelo aquecimento global (Steffen Trumpf/DPA/Getty Images)

Parece algo afeito apenas à ficção científica, impossível de ser realizado. Do ponto de vista técnico, contudo, o projeto não significa nenhum absurdo. Enquanto Estados Unidos e China propõem missões tripuladas permanentes no nosso satélite natural ainda na próxima década, missões anteriores já trataram da engenharia necessária para a construção de um desses biorrepositórios.

Continua após a publicidade

O verdadeiro desafio é geopolítico. Em um mundo cada vez mais polarizado, que enfrenta crises simultâneas, não será fácil reunir nações em torno de um objetivo de longo prazo e extremamente caro. Além disso, há os conflitos éticos. Políticas internacionais de proteção planetária buscam defender a Terra de qualquer contaminação por formas extraterrestres de vida. Para alguns cientistas, o contrário também deveria ser assegurado.

Apesar das dificuldades, as motivações por trás da proposta merecem toda a atenção. Existem atualmente 1 700 desses bancos espalhados pelo mundo. Enquanto o maior deles é ameaçado pelo derretimento do solo congelado, o permafrost, outros são destruídos por guerras, como a da Ucrânia, ou ameaçados por conflitos civis, como na Síria. Ainda assim, há quem defenda, literalmente, manter os pés no chão. “Lua e Marte não são opções para os seres humanos”, diz Mauro Galetti, ecologista, escritor e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “A melhor solução é resolver os problemas da Terra, em especial as desigualdades e a crise ambiental.”

Não é o caso de abrir mão das opções que temos. Também para a pesquisadora Mary Hagedorn, é mais urgente agir por aqui, começando pela educação e pela preservação do ambiente que nos alimenta e mantém vivos. “Agora, é inegável que precisamos de planos B, C e D”, afirma a cientista americana. Hagedorn faz parte do seleto grupo de pesquisadores que começou a planejar os primeiros testes para estudar a viabilidade de células e equipamentos no espaço. Nunca é demais usar a ciência para entender melhor de onde viemos, onde estamos e para onde poderemos ir.

Publicado em VEJA de 16 de agosto de 2024, edição nº 2906

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

3 meses por 12,00
(equivalente a 4,00/mês)

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.