A nova onda dos museus do futuro
Instituições se reuniram no Brasil para discutir perspectivas, dificuldades, ancestralidade e decolonialismo
Antropologia, arqueologia e história natural são temas frequentes em museus, historicamente construídos para que a humanidade não se esqueça do passado. Há pouco menos de 10 anos, no entanto, uma nova onda tem invadido essas instituições: os museus voltados para o futuro.
O Brasil é sede de um dos protagonistas desse movimento. Inaugurado em 2015, o Museu do Amanhã é um espaço para as ciências que tem como objetivo oferecer uma visão dos mais diferentes futuros possíveis. No final de setembro, ele abrigou o quinto encontro presencial do Forms, uma aliança entre museus com essa mesma perspectiva.
A reunião contou com a presença de representantes de instituições que vieram de diversas regiões do mundo, como Alemanha, México, Colômbia e Austrália. Nesta edição, em encontros fechados e abertos ao público, o objetivo foi discutir os desafios dessas organizações e o papel da ancestralidade na construção de um futuro sustentável.
“Todo museu, sim, deve olhar para o passado e, a partir disso, construir novos presentes’, afirma Ricardo Piquet, Diretor-Presidente do Museu do Amanhã, em entrevista à VEJA. “O amanhã é hoje e hoje é o momento de agir e atuar para que possamos usufruir do futuro próximo.”
O decolonialismo também foi a tônica da discussão. De acordo com Piquet, esse tipo de reunião multilateral, em especial aqui na América do Sul, é importante para que todos os lados tenham a humildade de aprender uns com os outros. Enquanto instituições locais podem absorver tecnologias, os países desenvolvidos podem aprender com a gestão de recursos das organizações dos países em desenvolvimento, por exemplo.
A conversa vem em momento oportuno. No último mês, a Organização das Nações Unidas anunciou que, na metade do caminho até 2030, apenas uma minoria dos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável estão aptos a serem realizados. Esse tipo de conversa pode ajudar a alcançar esses objetivos.
“Como um bem público, esse é um setor extremamente popular e confiável. Temos a responsabilidade de pensar no futuro e de envolver os nossos visitantes no processo de criação de melhores perspectivas e melhores probabilidades”, diz Miranda Massie, diretora e fundadora do Museu do Clima, em Nova Iorque. De acordo com ela, as exposições, que fazem refletir sobre o presente e mostrar que existem muitas pessoas lutando por um bem comum, têm sido bem recebidas pelos visitantes.
A ideia da reunião veio de uma iniciativa da instituição brasileira. Desde o seu nascimento, ela inspirou diversas outras, como o Futurium e o Biotopia, ambos na Alemanha, e o Climate Museum, nos Estados Unidos. Em 2018, essas e outras organizações passaram a se reunir para discutir essas perspectivas e, desde então, criaram uma parceria duradoura de troca de conteúdo e experiência – um benefício de não depender apenas de peças e relíquias.