A madeira está entre os mais antigos materiais de construção do mundo. Acredita-se que a primeira estrutura com partes de troncos de árvores tenha sido erigida há mais de 10 000 anos, no norte da África. Desde então, perdeu terreno primeiro para a pedra e, depois, para a alvenaria. Mas nunca deixou de ser usada, como mostram as vilas flutuantes do delta do Rio Mekong, no sudeste asiático, ou as comunidades ribeirinhas da Amazônia brasileira. Agora, ambiciosos projetos arquitetônicos, a maior parte deles na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, estão dando tração a uma ressurreição madeireira. As razões, dizem os especialistas, são em grande parte ambientais. Edifícios leves, atraentes e robustos feitos com a matéria-prima natural são considerados alternativas amigáveis ao concreto.
Do ponto de vista de sustentabilidade, a pegada de carbono é mínima, porque a madeira absorve CO2 durante o crescimento. Já a indústria do cimento é responsável por cerca de 8% das emissões globais de dióxido de carbono. Além disso, a madeira de construção é um material renovável — espécies como o pinus e o eucalipto, provenientes de áreas de reflorestamento controlado, são biodegradáveis, diferentemente do concreto, que não é facilmente reciclável.
Chamado “madeira em massa”, o movimento tem como objetivo construir arranha-céus e outros edifícios com compostos de madeira em vez de aço e concreto. Uma recente mudança no código internacional de construção permitiu que as estruturas atinjam até dezoito andares. Os projetos são feitos com as “madeiras engenheiradas”, técnica de colagem de tábuas ou lamelas tratadas para aumentar a resistência e melhorar a estabilidade estrutural — além de tudo, elas são projetadas para resistirem ao fogo. “É uma excelente técnica para o futuro da construção civil”, disse a VEJA a arquiteta Danielle Khoury Gregorio, consultora em estratégias sustentáveis. “Oferece um desempenho excepcional, tanto do ponto de vista estrutural quanto ambiental.”
Exemplos dessa nova tendência não faltam. Entregue em agosto de 2022, o Ascent, uma torre de apartamentos de 25 andares em Milwaukee, nos Estados Unidos, tornou-se a estrutura de madeira maciça mais alta do mundo, com 86,5 metros, superando o Mjøstårnet, na Noruega, com 84,5 metros. No fim do ano passado, o Conselho da Cidade de Nova York aprovou o uso de madeira maciça para edifícios de até 26 metros de altura — o que equivale a seis ou sete andares. Em Chicago, há um projeto batizado de River Beech que propõe a construção de uma torre de oitenta andares.
No Canadá, o governo da Columbia Britânica está empenhado em expandir a indústria da construção em madeira, investindo em fábricas para a produção de matéria-prima para os prédios que poderão ter até doze andares. Na Suécia, a construtora Atrium Ljungberg está à frente da ambiciosa Cidade de Madeira de Estocolmo. Localizada na zona industrial de Sickla, ela se estenderá por mais de 250 000 metros quadrados. O canteiro de obras deve ser inaugurado em 2025 e as primeiras unidades são prometidas para os dois anos seguintes. Serão 25 quarteirões, com trinta edifícios sustentáveis, 7 000 novos escritórios e 2 000 residências. Tudo feito de madeira.
Acompanha-se com entusiasmo as vantagens de fazer subir estruturas de madeira. Por serem pré-fabricadas e entregues prontas para a instalação, autorizam a aceleração das obras e, claro, economia. Em vez de casas falantes e sistemas inteligentes, tudo plugado em algum tipo de mecanismo robótico, o futuro da arquitetura e do urbanismo pode estar, afinal, nas árvores, que há milênios se tornaram exímias produtoras de lares. Um passo atrás, cauteloso e inteligente, é sempre bem-vindo para a humanidade.
Publicado em VEJA de 5 de Julho de 2023, edição nº 2848