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Como são feitos os testes de bombas nucleares?

O potencial destrutivo das bombas atômicas é testado no subsolo e fornece indicadores objetivos que revelam se, de fato, trata-se de uma arma mortal

Por Leticia Fuentes Atualizado em 2 Maio 2017, 11h04 - Publicado em 28 abr 2017, 15h29

O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, pediu em sessão especial do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta sexta feira, que a comunidade internacional aumente as pressões em relação à Coreia do Norte, que seria uma resposta à exibição de material bélico e testes nucleares do país. Mas, para analistas internacionais, Kim Jong-Un, está apenas começando a mostrar o poder das armas norte-coreanas, e outro experimento atômico (o sexto da nação nos últimos dez anos) pode estar por vir.

Desde que o país começou a divulgar o sucesso de seus ensaios nucleares, em 2006, a tensão com os Estados Unidos tem aumentado. Isso se torna ainda mais grave diante da possibilidade de que a nação asiática possa ter alcançado tecnologia suficiente para produzir sua própria bomba de hidrogênio, muito mais potente do que uma bomba atômica comum. A princípio, especialistas duvidaram dessa possibilidade, uma vez que os tremores detectados durante o último teste, em janeiro de 2016, eram mais parecidos com os de uma bomba atômica. Se Kim Jong-Un efetivamente possuir uma bomba de hidrogênio e decidir atirá-la em algum outro país, os efeitos podem ser até 4.000 vezes mais devastadores do que a bomba que explodiu em Hiroshima, durante a II Guerra Mundial.

Apesar do perigo que isso pode representar, nenhum desses dispositivos foi efetivamente utilizado pela Coreia do Norte, e sua aplicação está restrita a testes  ensaios para conferir o poder de bombas atômicas e de bombas de hidrogênio são feitos da mesma forma. Confira como são feitos esses testes e quais seus efeitos:

Qual a diferença entre um teste e uma real explosão nuclear?

Desde 1963, por determinação do Tratado de Interdição Parcial de Ensaios Nucleares, testes envolvendo bombas nucleares não devem ser feitos na atmosfera (incluindo o espaço) ou sob a água  atualmente, todos são feitos no subsolo. Para isso, os cientistas escolhem uma vasta área em terra firme e cavam um buraco com quase um quilômetro de extensão, no qual a bomba é inserida e, depois, coberta com camadas de areia e cimento. Dessa forma, a explosão, assim como os resíduos, ficam contidos no subterrâneo, sendo impossível de retirá-los depois. Por mais perigoso que isso pareça  considerando que lixo radioativo fica depositado a apenas algumas camadas abaixo do solo  pesquisadores garantem que esse é, atualmente, o método mais seguro.

É seguro fazer testes atômicos?

“Os testes são bem controlados. O maior perigo é quando a matéria contaminada vem acidentalmente à superfície”, afirma a física Emico Okuno, professora sênior especialista em radiação e física nuclear do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). “Além disso, se [o local do teste] não estiver bem vigiado, é possível que pessoas curiosas mexeram ali e se contaminem.”

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O mesmo não poderia ser dito antes do tratado internacional, quando os testes eram comumente realizados na atmosfera. Basicamente, o método consistia em fazer o dispositivo explodir no mar ou a alturas elevadas (normalmente, elas eram colocadas no topo de uma montanha, de uma torre ou até lançadas de aviões)  o que fazia com que toda a radiação fosse para as nuvens após a explosão, precipitando-se na forma de chuvas, ou para a água, contaminando uma região muito maior do que o ponto onde a bomba foi lançada.

Um exemplo foram os testes nucleares realizados pelos Estados Unidos no atol de Bikini, em 1946. Os americanos chegaram ao local onde fica o atol, o arquipélago das Ilhas Marshall, no Oceano Pacífico, equipados com modernas câmeras e dispositivos para registrar a histórica explosão e mostrá-la ao mundo. “Nem Hollywood tinha máquinas tão sofisticadas”, afirma Okuno. Na época, por conta dos testes, uma comunidade local teve de abandonar a área e mudar-se para uma ilha vizinha. Depois, com o fim dos experimentos, os antigos habitantes do atol foram impedidos de retornar, porque o solo, a água e os cocos (base de sua alimentação) se tornaram radioativos.

Qual a potência das bombas que podem ser testadas?

Mesmo com a regulação dos procedimentos para realizar testes nucleares atualmente não existe uma restrição em relação à potência da bomba que pode ser experimentada. A Coreia do Norte diz ter iniciado sua série de testes com uma bomba em miniatura de 1 quiloton (o equivalente a 1.000 toneladas de dinamite)  já no quinto teste (e último, até então), especialistas estimam que o explosivo ensaiado chegava a 20 quilotons, praticamente a mesma potência da bomba atômica lançada em Nagasaki durante a II Guerra Mundial. A explosão foi tão potente que provocou um terremoto de magnitude 5 na Escala Richter próximo ao local em que o teste foi feito, no Nordeste da Coreia do Norte.

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Como saber se um teste foi bem sucedido?

Segundo Okuno, o critério para determinar o sucesso do teste é a verificação do potencial destrutivo da bomba  e, para isso, indicadores objetivos são medidos. O valor numérico da potência da bomba, as ondas de calor, a magnitude dos tremores na região e outras características mensuráveis são alguns dos indícios avaliados pelos especialistas durante o teste.

Porém, de acordo com a professora, há registros de experimentos passados que, há até pouco tempo, também utilizavam animais para estudar os possíveis danos causados pela explosão. “Em testes realizados pelos Estados Unidos, o pelo de ovelhas era raspado e elas eram colocadas em locais próximos à explosão. Assim, seria possível ver o efeito das queimaduras causadas na pele”, explica Okuno. “Alguns também utilizavam casas típicas japonesas, com manequins dentro delas e monitores de radiação, para medir os estragos causados pela explosão.”

O Brasil tem armas nucleares?

Nosso país já cogitou fazer seus próprios testes de armas nucleares. Em 1980, logo após o fim do regime militar, a Força Aérea Brasileira (FAB) construiu um enorme buraco estrategicamente localizado dentro de uma base militar no Pará. Em meio à selva amazônica, explosões de bombas atômicas seriam realizadas no subsolo. Até o momento, nenhuma evidência comprovou, efetivamente, que qualquer teste tenha chegado a ocorrer no local.

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Como as operações eram sigilosas (e, até hoje, a FAB nega que o buraco tenha sido escavado com essa finalidade), o assunto caiu no esquecimento até que, na década de 1990, o então presidente Fernando Collor determinou que o buraco fosse tapado. Ainda que a realização de testes nucleares desperte opiniões contraditórias, o Brasil tem capacidade de produzir uma estrutura para testes atômicos. “Não é simplesmente abrir um buraco no chão e pronto. Isso envolve muita tecnologia”, diz Okuno.

Embora a FAB nunca tenha revelado qual era a verdadeira utilidade da estrutura, a especialista, assim como outros cientistas, acreditam que poderia, sim, se tratar de uma preparação para testes nucleares. “Hoje em dia é até difícil dizer se realmente a ideia foi abandonada”, afirma.

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