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Medo, solidariedade e improviso: a pandemia numa das maiores favelas de SP

Em Paraisópolis, ideia é transformar mansões vazias no entorno em hospitais de campana; morador tenta fazer quarentena em casa onde mora com 15 pessoas

Por Mariana Zylberkan
Atualizado em 20 mar 2020, 19h26 - Publicado em 20 mar 2020, 15h02

Sem um plano específico do poder público para tentar barrar a disseminação do coronavírus nas favelas, que têm como característica o alto adensamento populacional, os moradores de Paraisópolis, uma das maiores aglomerações urbanas desse tipo em São Paulo, têm criado mecanismos próprios de prevenção. “O poder público está deixando as favelas à sua própria sorte. Não vi o prefeito, governador e presidente falar a palavra ‘favela’ até agora”, diz o líder comunitário Gilson Rodrigues. 

Em Paraisópolis, estão sendo convocados cerca de 400 voluntários para monitorar casos suspeitos e confirmados – cada um será responsável por acompanhar 50 casas e seus moradores. A medida deve ser replicada a outras localidade no país que integram a o chamado G10, grupo de líderes comunitários das maiores favelas do país: Rocinha (RJ), Rio das Pedras (RJ), Heliópolis (SP), Paraisópolis (SP), Cidade de Deus (AM), Baixadas da Condor (PA), Baixadas da Estrada Nova Jurunas (PA), Casa Amarela (PE), Coroadinho (MA) e Sol Nascente (DF). 

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Sem perspectiva de leitos suficientes de UTI diante da perspectiva de aumento do número de casos graves, Rodrigues planeja alugar mansões vazias localizadas próximas à entrada de Paraisópolis para transformá-las em hospitais de campana a partir da doações de colchões. Está sendo organizada também uma “vaquinha” online para angariar doações para a compra de álcool em gel, marmitas e cestas básicas que serão distribuídas aos moradores.

Diante do grande número de diaristas e profissionais liberais que moram em Paraisópolis e têm perdido a fonte de renda devido à pandemia, há o plano de criar um manifesto pedindo uma bolsa emergencial de transferência de renda. “As faxineiras estão sendo dispensadas, ouvem dos patrões que só vão voltar ao trabalho depois que a epidemia passar”, disse Rodrigues.

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Outra questão problemática tem sido a inviabilidade de pacientes considerados suspeitos cumprirem a quarentena. O cuidador de idosos Marcus Vinicius Conceição dos Santos, 22, apresentou sintomas da doença e foi orientado pelo médico a ficar em casa afastado de parentes, mas ele vive em uma residência com outras 15 pessoas, incluindo os pais com doenças crônicas.

Apesar de ter problema respiratório e, portanto, ser considerado um paciente de risco, ele conta que não pôde fazer o exame para testar o coronavírus porque não havia kits suficientes na UBS (Unidade Básica de Saúde) onde foi atendido. “Me falaram que iam priorizar pessoas com febre alta”, disse.

O cuidador afirma que ficou assustado com a possibilidade de ter passado o vírus para os idosos sob sua responsabilidade. “Se eu tiver com isso mesmo, coloquei todo mundo em risco. Para mim foi um choque”, diz ele, que tem ficado em um quarto improvisado na casa para tentar se manter longe dos familiares. “Não tem como eu não vê-los, o contato existe pela necessidade de usar todos os cômodos da casa. Tentamos nos manter afastados e falamos por mensagem de celular”, conta ele que tem usado máscaras de proteção disponibilizadas pelo seu empregador já que o posto de saúde onde foi atendido não lhe disponibilizou o acessório. 

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Cômodo da casa onde Marcus Vinicius faz quarentena em Paraisópolis (Arquivo pessoal/VEJA)
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