A morte de jovens no Brasil é uma chaga: segundo o Atlas da Violência 2019, com dados de 2017, a taxa de homicídios entre pessoas de 15 a 29 anos chega a 69,9 por 100 000, mais que o dobro do índice geral (31,6). E o ano de 2019 contribuiu para perpetuar o problema. Em 13 de março, Guilherme Taucci Monteiro, 17, e Luiz Henrique de Castro, 25, inspirados no massacre de Columbine, nos Estados Unidos, abriram fogo na escola Raul Brasil, em Suzano (SP). Mataram oito pessoas, antes de Monteiro atirar em Castro e se suicidar. Foi a terceira maior ocorrência do tipo da história em uma escola brasileira. Cinco vítimas tinham entre 15 e 17 anos. Outro caso que gerou grande comoção foi o de Ágatha Vitória Félix. Em 20 de setembro, a garota, de 8 anos, morreu atingida por um tiro de fuzil disparado por um PM no Complexo do Alemão, no Rio, quando voltava para casa, com a mãe, em uma Kombi. O policial Rodrigo José de Matos Soares, que está preso e se tornou réu no início de dezembro, disse ter reagido a bandidos que haviam atirado de uma moto, versão negada por várias testemunhas. Outra intervenção desastrada da PM acabou sendo responsável por um saldo trágico em Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo. Na madrugada de 1º de dezembro, durante um baile funk, nove jovens, com idade entre 14 e 23 anos, foram encurralados em ruas estreitas e morreram pisoteados ao fugir de bombas de gás e balas de borracha lançadas pelos soldados. O governador João Doria (PSDB) aceitou uma comissão externa para apurar o caso e falou em rever os protocolos da PM. Diante do quadro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou o excludente de ilicitude, mudança na lei que permitiria amenizar as punições a policiais por mortes em confrontos, e ela foi retirada do pacote do ministro da Justiça, Sergio Moro, em votação três dias após o episódio de Paraisópolis.
Publicado em VEJA de 1º de janeiro de 2020, edição nº 2667