Um mês após tragédia, sem-teto seguem no Largo do Paissandu
Prefeitura admite impasse, mas diz que a maior parte das vítimas do incêndio do edifício Wilton Paes de Almeida já foi atendida
Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 1 jun 2018, 17h42 - Publicado em 1 jun 2018, 09h34
Segundo município, 126 famílias permanecem no Largo do Paissandu, no centro de SP, um mês após desabamento de edifício (Nacho Doce/Reuters)
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Passado um mês do incêndio e desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, que deixou sete mortos no centro de São Paulo, ainda não há solução oficial à vista para o acampamento de sem-teto que surgiu na sequência no Largo do Paissandu. Segundo dados da própria prefeitura, 126 famílias, algumas com até cinco crianças, se amontoam em barracas, em meio a lixo e roupas sujas.
“A gente fica aqui e eu estou esperando que venham dar moradia para a gente. Disseram que vão dar no dia 13”, disse a desempregada Deise da Silva Rodrigues, de 32 anos, mãe de cinco filhos, a mais nova ainda sendo amamentada, ao repetir alguns dos boatos que correm entre as barracas.
Deise já recebe auxílio-moradia da prefeitura, por ter perdido a casa em um incêndio ocorrido na Favela do Moinho, na Barra Funda, há três anos. Usava parte do dinheiro para viver na ocupação. Ao perder o lar para o fogo pela segunda vez, tenta sobreviver mantendo as crianças perto de vista e esperando ajuda pública.
A prefeitura admite que existe um impasse sobre o atual acampamento e destaca que a maior parte das vítimas da tragédia já foi atendida. O posicionamento foi dado com base em visitas da Assistência Social concluídas um mês antes do incêndio, nas quais foram cadastradas 171 famílias no local — com vistas a uma futura desocupação. Do cadastro prévio, 144 famílias foram localizadas. “Algumas já vão receber o segundo cheque (de 400 reais de auxílio-aluguel)”, disse o secretário da Habitação, Fernando Chucre.
As 126 famílias atualmente no Largo não estão nessa lista. Para elas, “o que a prefeitura pode fazer é todo dia ir lá oferecer abrigamento”. “É a ferramenta que temos”, ressaltou Chucre. Por noite, a prefeitura paga sssenta pernoites para vítimas do incêndio. E soluções menos negociadas estão fora da mesa. “Existem garantias individuais de que o cidadão pode permanecer nos lugares. Não tenho, como força de Estado, falar ‘vem aqui e sai'”, disse o secretário da Segurança Urbana, José Roberto Rodrigues.
1/33 Dom Odilo Scherer visita local onde prédio desabou no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)
2/33 Escavadeira remove escombros de prédio do Largo do Paissandu, na região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)
3/33 Famílias sem-teto que moravam no edifício Wilton Paes de Almeida recebem alimento de voluntários, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)
4/33 Famílias sem-teto que moravam no edifício Wilton Paes de Almeida recebem alimento de voluntários, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)
5/33 Bombeiros combatem incêndio no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)
6/33 Bombeiros trabalham no combate ao incêndio que atingiu o edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018 (Gustavo Basso/NurPhoto/Getty Images)
7/33 Escavadeira remove escombros após o edifício Wilton Paes de Almeida desabar no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 02/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)
8/33 Bombeiros trabalham no combate ao incêndio que atingiu o edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 01/05/2018 (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)
9/33 Bombeiros trabalham no combate ao incêndio que atingiu o edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 01/05/2018 (Nelson Almeida/AFP)
10/33 Bombeiros trabalham no combate ao incêndio que atingiu o edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 01/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)
11/33 Bombeiros trabalham no combate ao incêndio que atingiu o edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo (SP) - 01/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)
12/33 Menina de uma família sem teto que morava no edifício Wilton Paes de Almeida toma café da manhã doado por voluntários no Largo do Painsandu, em São Paulo- 02/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)
13/33 Bombeiros trabalham para extinguir possíveis focos de incêndio no local de desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no centro de São Paulo - 02/05/2018 (Nacho Doce/Reuters)
14/33 Bombeiros trabalham entre os escombros de um prédio de 26 andares que veio ao chão após incêndio no centro de São Paulo - 01/05/2018 (Rovena Rosa/Agência Brasil)
15/33 Prédio de 26 andares desabou durante um incêndio de grandes proporções no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo. A Igreja Evangélica Luterana, que fica ao lado do prédio em chamas, também pegou fogo e parte da estrutura desabou - 01/05/2018 (Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress)
16/33 Prédio de 26 andares desabou durante um incêndio de grandes proporções no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo. A Igreja Evangélica Luterana, que fica ao lado do prédio em chamas, também pegou fogo e parte da estrutura desabou - 01/05/2018 (Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress)
17/33 Prédio de 26 andares desabou durante um incêndio de grandes proporções no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo. A Igreja Evangélica Luterana, que fica ao lado do prédio em chamas, também pegou fogo e parte da estrutura desabou - 01/05/2018 (Felipe Rau/Protegido: Estadão Conteúdo)
18/33 Prédio de 26 andares desabou durante um incêndio de grandes proporções no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo. A Igreja Evangélica Luterana, que fica ao lado do prédio em chamas, também pegou fogo e parte da estrutura desabou - 01/05/2018 (Nelson Almeida/AFP)
19/33 Bombeiros trabalham entre os escombros de um prédio de 26 andares que veio ao chão após incêndio no centro de São Paulo - 01/05/2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)
20/33 Bombeiros trabalham entre os escombros de um prédio de 26 andares que veio ao chão após incêndio no centro de São Paulo - 01/05/2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)
21/33 Prédio desaba durante incêndio no centro de São Paulo (@bombeirospmesp/Divulgação)
22/33 Bombeiros tentam extinguir um incêndio em um edifício no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo - 01/05/2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)
23/33 Prédio desaba após incêndio no Largo do Paissandu, próximo à Avenida Rio Branco, na República, no centro de São Paulo. O local já pertenceu à Polícia Federal, mas estava desativado e ocupado irregularmente - 01/05/2018 (Willian Moreira/Futura Press/Folhapress)
24/33 Prédio desaba após incêndio no Largo do Paissandu, próximo à Avenida Rio Branco, na República, no centro de São Paulo. O local já pertenceu à Polícia Federal, mas estava desativado e ocupado irregularmente - 01/05/2018 (Willian Moreira/Futura Press/Folhapress)
25/33 Bombeiros trabalham em meio aos escombros de um edifício no Largo do Paissandu, região central de São Paulo - 01/05/2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)
26/33 Bombeiros trabalham em meio aos escombros de um edifício no Largo do Paissandu, região central de São Paulo - 01/05/2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)
27/33 Bombeiro tenta confortar uma mulher durante incêndio em um edifício ocupado por moradores sem-teto no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo - 01/05/2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)
28/33 Bombeiros trabalham em meio aos escombros de um edifício no Largo do Paissandu, região central de São Paulo - 01/05/2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)
29/33 Homem chora após ser resgatado de um edifício em chamas no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo - 01/05/2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)
30/33 Bombeiros trabalham em meio aos escombros de um edifício no Largo do Paissandu, região central de São Paulo - 01/05/2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)
31/33 Bombeiros trabalham em meio aos escombros de um edifício no Largo do Paissandu, região central de São Paulo - 01/05/2018 (Leonardo Benassatto/Reuters)
32/33(Reprodução/Google/VEJA)
33/33 Prédio desaba durante incêndio no centro de São Paulo (@bombeirosPMESP/Divulgação)
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Experiência
“Nesse tipo de caso, é comum que você tenha um acidente que envolva 100 (pessoas) e apareçam 300 se dizendo moradores”, afirmou o secretário, ao justificar a decisão. Mas Chucre admite que parte da ocupação do Wilton tinha famílias com “perfil transitório” — o que é um complicador.
“Uma família em algum momento pode ter passado por aquele edifício por um dia, uma semana, por um período indeterminado. Não temos controle sobre esse período.” Por causa disso, segundo ele, há 77 casos que estão sob análise, e deverão receber o benefício a partir do mês que vem.
Mesmo assim, a inclusão nos programas não é garantia de que o acampamento se desfaça. Há 26 famílias, por exemplo, que estão recebendo o benefício e permanecem lá, conforme a própria administração municipal. “A única coisa que quero é trabalhar. Sou segurança. Mas preciso ter um endereço para dar para o patrão”, diz Keliane Mendes da Costa, de 34 anos, que já trabalhou como manicure e como segurança.
Como ela, muitos usam o benefício municipal como “um complemento de renda”, nas palavras do secretário. Não existe auditoria sobre os valores ofertados, e a prefeitura também não indica moradias para as quais pessoas possam se dirigir.
As famílias de sem-teto passam o dia na praça, em barracas de camping doadas. Varrem a sujeira de um lado para o outro, fazem “gatos” (ligações irregulares) nos postes de iluminação para terem tomadas para os celulares e se dividem em uma cozinha coletiva. Esta está repleta de sacos de arroz e de feijão também doados. Mas não há nenhuma geladeira – “e aí não tem mistura”, segundo uma das moradoras. Também não há banheiros com água corrente nem chuveiros, o que faz com que cada um se vire como pode para a higiene pessoal.
O ritmo de doações vem caindo. Os moradores só não sabem se é por causa da greve dos caminhoneiros — “ou pelo fato de as pessoas estarem nos esquecendo” — como dizem alguns.
Negociações
A prefeitura, o governo do Estado e a União iniciaram negociações para viabilizar a construção de um empreendimento habitacional voltado para a população de baixa renda no terreno onde antes ficava o Edifício Wilton Paes de Almeida.
A ação incluiria a liberação de verba para reforma de outros edifícios de posse da prefeitura na área central da cidade. Os valores finais ainda estão em discussão, que não tem prazo para ser encerrada. As moradias não iriam para ex-moradores do Wilton. A prefeitura seguirá a fila de moradia do município.
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Desaparecidos
Neste momento, duas pessoas ainda são consideradas desaparecidas pelas autoridades. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), são elas Eva Barbosa da Silveira, 42 anos, e Gentil de Souza Rocha, 53.
Apesar do fim das buscas nos escombros, segue o trabalho pericial em material coletado no local. Dos seis prédios interditados por precaução no entorno do edifício, até o momento cinco já foram liberados: nos números 132 e 138 do Largo do Paissandu; 40 e 52 da rua Antônio de Godoy e o edifício Caracu.
Na semana que vem, um relatório técnico vai definir quais são as intervenções necessárias no edifício Joamar, o último interditado, e o proprietário do imóvel será acionado para fazer os reparos.
Moraes libera ida de Fernando Collor à prisão domiciliar
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes concedeu nesta quinta-feira, 1º, prisão domiciliar ao ex-presidente Fernando Collor. Ele foi condenado a oito anos e dez meses por corrupção e lavagem de dinheiro em um dos casos da operação Lava Jato. Collor terá que usar tornozeleira eletrônica e continuará com o passaporte suspenso.
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