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Tráfico de drogas via aplicativos de relacionamento cresce na pandemia

Com bares fechados e baladas impedidas de ocorrer, traficantes intensificam o e-commerce ilegal

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jun 2020, 13h27 - Publicado em 5 jun 2020, 06h00

A pandemia causou quedas bruscas nos negócios e provocou novas normas de comportamento dos consumidores. Praticamente nenhum setor escapou ileso à crise, incluindo o movimento de venda de drogas. O indicador mais forte do fenômeno é o que ocorreu no maior mercado do país para os bandidos. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo mostram queda de 32% nas apreensões no mês de abril, comparado ao mesmo período do ano passado (2 957 registros ante 4 321). Segundo as auto­ridades, essa questão tem relação direta com o isolamento social, necessário durante os tempos de Covid-19. Sem a oportunidade de oferecer suas mercadorias em bares, baladas e festas, os traficantes enfrentam dificuldades. Para tentarem reduzir os prejuízos, os criminosos seguiram o exemplo de outros setores de comércio e resolveram escoar seus produtos via e-commerce. Muitos deles intensificaram a venda de drogas com aplicativos de relacionamento, tendo como consumidor final pessoas que moram em bairros centrais de grande cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Salvador. Na comodidade de casa, o usuário cria uma conta no app, faz o “match” com o fornecedor (tradução: entabula uma conversa produtiva movida por interesses comuns), solicita a mercadoria e o produto chega até ele levado por motoboy. “Os traficantes têm o mesmo perfil social dos clientes, ou seja, também são de classe média, e agem por conta própria, não são ligados a facções como o PCC”, afirmou a VEJA um policial paulista com experiência em investigações do tipo. “Por esses canais, oferecem principalmente cocaína e ecstasy.”

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Um dos aplicativos mais utilizados pelos traficantes é o Grindr, voltado para o público gay masculino, mas a polícia já flagrou bandidos usando o Tinder para negociar drogas. A abundância de anúncios quase explícitos nesses canais dá uma dimensão da popularidade atual desse tipo de e-commerce. Cientes do anonimato garantido pela internet, muitos criminosos criam perfis com nomes autoexplicativos: “Vendo TK e Key”, com as abreviações de cocaína e quetamina, anestésico de cavalo com efeitos psicoativos. Outros usam emojis para anunciar o menu disponível: bala (ecstasy), folha (maconha) e raio (cocaína e quetamina). “De março para cá, notamos um aumento significativo na venda de drogas por aplicativos, o que chamamos de ‘biqueira digital’”, diz Tarcísio Otoni, delegado-chefe do Departamento Especializado de Narcóticos do Espírito Santo. “Quem recorre aos aplicativos para comprar drogas é gente de classe média alta e rica, que não quer sair de bairros bem localizados para adqui­rir entorpecentes na periferia. Ainda mais durante o isolamento social, quando há menos carros e gente na rua”, completa o policial.

E-COMMERCE - Perfis anunciam a venda de drogas sem cerimônia pelo aplicativo Grindr, e conversas com traficantes: usuário pode pagar o produto no cartão e receber a droga por motoboy em questão de minutos (./.)

A relação entre traficante e consumidor é facilitada pelo recurso da geolocalização dos aplicativos. Assim, o bandido consegue acionar sua rede para entregar a mercadoria em menos de uma hora, na maioria dos casos — e aceita pagamento em dinheiro ou cartão. O papelote de cocaína em São Paulo é comercializado por 30 reais (em dinheiro) e 35 reais (no crédito). O preço do delivery não é cobrado em pedidos acima de quatro papelotes. Há transações mais vultosas. Cada grama da droga sintética da moda, o MDMA, varia entre 150 e 200 reais. Já o comprimido de ecstasy começa em 35 reais. Alguns traficantes mandam imagens do entorpecente aos clientes potenciais.

O trabalho de repressão a esses crimes é complexo. Para criar uma página em um aplicativo basta apenas um e-mail, na maioria das vezes. Ou seja, um mesmo bandido pode ter perfis diferentes para chamar menos atenção e dificultar o rastreamento dos endereços eletrônicos. Em 2017, após três meses de trabalho, a 4ª Divisão de Investigações sobre Entorpecentes de São Paulo identificou e prendeu onze pessoas que utilizavam o Grindr para essa finalidade. O trabalho durou três meses e contou com autorização judicial para que policiais pudessem se passar por clientes para efetuar os flagrantes. Foram presos homens e mulheres que tinham como base hotéis e flats nos Jardins e em Moema, bairros nobres de São Paulo. Em um dos endereços havia balança de precisão e centenas de saquinhos para embalar a cocaína. O desafio agora é multiplicar ações do tipo para coibir o crescente e-commerce das drogas em tempos de pandemia.

Publicado em VEJA de 10 de junho de 2020, edição nº 2690

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