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Testemunha acusa filho de Chico Rodrigues de corrupção na pasta da Saúde

Servidora e empresária relatam como funcionava esquema ilegal em órgão controlado por senador de Roraima

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 out 2020, 09h19

O senador Chico Rodrigues (DEM-RR), ex-vice líder do governo Bolsonaro, foi flagrado pela Polícia Federal tentando esconder 33 000 reais na cueca. Sob pressão pública, o parlamentar foi forçado por seus colegas a se licenciar do cargo por quatro meses. A ideia era abafar o escândalo. Mas, na prática, o problema ainda continua. O congressista será substituído pelo seu filho e sócio, Pedro Rodrigues, que, conforme revelou VEJA, também é acusado de desvio de dinheiro público controlado pelo Ministério da Saúde.

A trama começou do jeito tradicional da velha política, aquela que o presidente Jair Bolsonaro prometia combater. Em julho de 2019, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) aproveitou a sua proximidade com o Planalto para emplacar um aliado num órgão do Ministério da Saúde. Com a anuência da bancada de seu estado, ele indicou Adriano de Almeida Corinthi para o comando do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Leste de Roraima. A unidade faz parte de um grupo de 34 entidades públicas espalhadas pelo Brasil para prestar atendimento a populações indígenas e que se tornaram feudos políticos. Ao tomar posse, o apaniguado mudou a equipe e passou a analisar os contratos com fornecedores.

Após ser exonerada de sua função, a servidora Maria Madalena Ferreira Gomes, ex-chefe de logística do DSEI Leste de Roraima, decidiu contar tudo o que sabia à Polícia Federal. Em um depoimento sigiloso, ela revelou que “os verdadeiros donos” do órgão eram Pedro Rodrigues, filho do senador, e Jean Frank Padilha Lobato, apontado como operador do parlamentar. Em entrevista a VEJA, Maria Madalena detalhou como funcionava o suposto esquema de arrecadação de propinas. De acordo com ela, os fornecedores tinham que desembolsar até 20% do valor do contrato. Caso contrário, os recursos não seriam liberados ou os serviços poderiam ser suspensos. “O Pedro Rodrigues operava o esquema para o pai. Era ele quem pedia e pegava a propina que variava de 10% a 20% do valor dos contratos”, diz ela.

O relato do esquema ilegal no DSEI Leste de Roraima é confirmado pela empresária Barbara Letícia Pantoja Gomes. Responsável pela fornecedora de alimentos Dona Chicoria, ela diz que recebeu uma ligação de um tal de Jean que se identificou como assessor do senador Chico Rodrigues e que propunha um encontro com o parlamentar em Brasília. Após a empresária declinar do convite, o interlocutor disse que ela deveria comprar alimentos de um integrante do grupo dele. Barbara se recusou. Com isso, os pagamentos para a sua empresa começaram a atrasar. Indignada, ela resolveu prestar um depoimento à Polícia Federal no qual disse acreditar que “a motivação desses atrasos é justamente forçar a ceder à pressão e ingressar nesse esquema de ‘parceria’”. Procurada por VEJA, a empresária confirmou que foi chantageada e que, até hoje, sente medo de ter revelado o esquema para as autoridades.

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Diante dessas acusações e de outras testemunhas, a Polícia Federal iniciou uma investigação sigilosa para apurar a suspeita de fraudes em licitações no Distrito Sanitário Especial Indígena Leste de Roraima. O caso foi remetido em maio deste ano ao gabinete da ministra Cármen Lúcia, porque há indícios do envolvimento de Chico Rodrigues. No mês seguinte, o indicado do parlamentar para comandar o órgão foi exonerado pelo então ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello.

Procurado por VEJA, Adriano Corinthi admitiu que foi indicado por Chico Rodrigues, negou a existência do esquema de corrupção, disse que foi vítima de uma represália orquestrada por um grupo político ligado a um ex-senador e fez um diagnóstico dramático da situação do DSEI Leste de Roraima. “Os fornecedores se juntam com funcionários para manter o sistema como estava e fazem um estrago. É um conluio perigoso. Aquilo lá não tem conserto”, afirmou ele. “Eu pedi para sair. Sou muito pequeno nesse contexto de briga. Não dava para continuar mesmo”, desabafou.

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