Alvo de ameaças após entregar à Polícia Federal (PF) um dossiê que mostra as relações próximas das facções criminosas com o alto escalão da polícia local e, mais grave, também com personagens da política, o deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM) disse que teme por sua vida .
Na segunda-feira 17, o presidente da Câmara, Arthur Lira, enviou um ofício à superintendência da PF no Estado solicitando reforço na segurança pessoal do deputado. O congressista conta que passou a receber ameaças depois de repassar às autoridades documentos que teriam sido produzidos pelo serviço de inteligência da própria Secretaria de Segurança do Amazonas.
“Precisar desse tipo de proteção é uma derrota pessoal. Vou andar com proteção para andar dentro do meu próprio Estado. É uma humilhação”, afirmou o deputado, que se projetou na política com bandeiras de combate ao tráfico e a facções. “É como se o crime organizado estivesse dizendo: ‘quem manda aqui somos nós’. Acho que o Estado brasileiro não pode se curvar a esse tipo de coisa”, completou.
No dia 4 de janeiro, Mandel foi alvo de uma abordagem da PM quando trafegava numa avenida de Manaus. Segundo ele, os policiais apareceram de repente, interceptaram o carro e apontaram uma arma para sua namorada. Afirma que a abordagem truculenta não foi obra do acaso, mas parte de um processo de intimidação que vem sofrendo desde que pediu à Polícia Federal, no fim do ano passado, a apuração do dossiê:
Por que o senhor acha que a abordagem da PM foi uma retaliação? Essa ação truculenta foi uma sequência das intimidações e insinuações que já estavam ocorrendo nos dias anteriores, após à denúncia que fiz a PF sobre a ligação da alta cúpula das forças militares com algumas facções criminosas que, aparentemente, se infiltraram na Secretaria de Segurança Pública.
Que tipo de intimidações o senhor recebeu? Foram insinuações que atingem a honra de pessoas com as quais me importo. Foram provocações e exposições da intimidade da minha esposa e algumas questões relacionadas a minha própria atuação parlamentar. Temo pela minha vida. Por isso, levei o caso para a PF e solicitei a proteção.
Qual é o grau de relação entre as forças de segurança pública do Amazonas e de políticos com facções criminosas? É como se as facções tivessem sequestrado o poder de estado e passado a comandá-lo. Membros das forças de segurança participaram de grupos de extermínio, de ações de chantagem e extorsão de garimpeiros. A atividade criminosa permeia os crimes ambientais, permeia o tráfico de drogas e se assemelha ao funcionamento de milícias. Por isso, pedi ajuda ao presidente da Câmara. Para mim, é uma derrota pessoal. Precisar de proteção para andar dentro do meu próprio Estado é uma humilhação. Por outro lado, foi uma vitória do ponto de vista político, porque entendi que a partir desse momento não estou sozinho. Tenho o Congresso inteiro do meu lado.