O presidente Michel Temer iniciou a semana celebrando os bons números da economia, e na quarta-feira parecia atormentado com os boatos de que estava prestes a renunciar, depois que o jornal O Globo começou a publicar trechos da fenomenal delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, gigante mundial de carne processada. No dia seguinte, porém, quando veio a público o áudio de uma conversa entre ele e Joesley, o presidente voltou a respirar. Antes, parecia que a frase fatídica — “Tem que manter isso aí, viu?” — era a forma com que Temer estava dando aval explícito à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, preso há sete meses em Curitiba e dono de uma biografia notória. Com a divulgação do áudio, disseminou-se, entre os aliados do presidente, a leitura de que houvera um exagero. Temer comemorou: “A montanha pariu um rato”. O presidente diz a frase fatídica na gravação, mas é preciso uma certa amplitude interpretativa para concluir que estava dando apoio à compra de um preso. Na sexta-feira, a íntegra das delações dos irmãos Batista veio a público — e o governo voltou a respirar por aparelhos. Num lance politicamente significativo, O Globo publicou um editorial pedindo a renúncia de Temer: “Nenhum cidadão, cônscio das obrigações da cidadania, pode deixar de reconhecer que o presidente perdeu as condições morais, éticas, políticas e administrativas para continuar governando o Brasil”.
Ainda que não se possa acusar Temer de ter maquinado o silêncio de Cunha, a conversa que ele manteve com Joesley Batista é absolutamente inapropriada. O presidente recebeu o empresário em encontro fora da agenda, à noite, no Palácio do Jaburu. No fim da conversa, ainda festeja o fato de Joesley ter conseguido chegar à residência oficial sem identificar-se na portaria. O conteúdo da conversa, no entanto, é ainda pior. Temer ouve, sem esboçar um mínimo sinal de surpresa, o relato de crimes que o empresário vem cometendo. Joesley relatou que estava “segurando” dois juízes e pagando uma mesada de 50 000 reais a um procurador que, infiltrado, vinha lhe repassando informações sigilosas. Em casas de família, uma cena dessas acaba com a decretação de voz de prisão. No Palácio do Jaburu, Temer disse “ótimo, ótimo”. Em linguagem jurídica, expôs-se à acusação de prevaricação.
(Com reportagem de Thiago Bronzatto, Laryssa Borges, Hugo Marques e Marcela Mattos)
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