Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Teatro Amazonas: como Manaus fincou espaço no circuito cultural

Sede do Festival Amazonas de Ópera encontrou lugar definitivo no mapa de espetáculos internacionais. Conheça a história desse símbolo do Ciclo da Borracha

Por Victor Affonso e Emilãine Vieira, para Abril Branded Content
Atualizado em 19 Maio 2017, 17h22 - Publicado em 17 Maio 2017, 17h11
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Teatro Amazonas, em Manaus
    Teatro Amazonas, em Manaus (iStock/Getty Images)

    Há 120 anos, quem imaginaria que a majestosa casa de ópera construída entre quintais cobertos por capim e barro na longínqua Manáos, como a cidade de Manaus ainda era chamada, se tornaria um dos maiores expoentes culturais do país? Com sua famosa cúpula nas cores da bandeira do Brasil, o Teatro Amazonas guiou o desenvolvimento dessa capital ao longo do século 20, foi elevado a Patrimônio Histórico Nacional e passou a figurar como um dos principais cartões-postais da Região Norte por ser o que sempre foi: uma grande ode à arte.

    Publicidade

    Entre todos os gêneros artísticos que o Teatro Amazonas homenageia, a ópera é o principal. Não apenas pelo fato de que o primeiro espetáculo apresentado no local, o avant-première de La Gioconda em 1897, tenha sido uma encenação operística. Mas também porque foi por meio dessa arte que o Teatro se consolidou mundialmente, muito devido à força do Festival Amazonas de Ópera (FAO), cuja 20ª edição segue até o dia 4 de junho. Produzida pela Secretaria de Estado de Cultura, a edição deste ano é a primeira realizada inteiramente com recursos da iniciativa privada, com patrocínio master do Bradesco Prime, após o governo do Amazonas brecar, ainda em 2016, verba para mais de 20 eventos culturais realizados pelo estado. A programação no Teatro Amazonas engloba, ao todo, quatro concertos e duas óperas, apresentadas em 16 sessões. Um dos destaques da programação é a montagem da ópera Tannhäuser, de Richard Wagner, encenada nos dias 14, 17 e 20 de maio. Ingressos aqui.

    Publicidade
    Montagem da ópera Tannhäuser, de Richard Wagner, no XX Festival Amazonas de Ópera. Com patrocínio master do Bradesco Prime, o FAO deste ano teve início no dia 7 de maio e segue até 4 de junho (Wander Luis/Secretaria de Cultura do Amazonas)

    Teatro ditou crescimento

    Se hoje artistas fazem de tudo para estar no palco do Teatro Amazonas, o caminho até a inauguração do local não foi fácil nem rápido. O plano de tirar o projeto do papel surgiu em 1881, mas os trabalhos só tiveram início três anos depois. As atividades tinham ritmo lento e ainda ficaram paralisadas entre 1886 e 1893, levando o então governador Eduardo Ribeiro a assumir a responsabilidade sobre o Teatro. O jovem político de origem maranhense, mulato e sem fortuna tinha ideias ambiciosas e utilizou a obra como ponto-chave de seu plano de expansão urbana.

    É preciso entender o contexto que se vivia. Apesar de Manaus ter sido uma das primeiras cidades brasileiras a contar com energia elétrica, a província do Amazonas sobreviveu em situação de isolamento até o fim do período monárquico, em 1889, e tinha dificuldades em atrair investidores. Com a autonomia administrativa provida pela Proclamação da República, os excedentes econômicos passaram a gerar investimentos públicos e privados, geralmente traduzidos em obras de melhorias na capital. O governo as usaria como propaganda, na tentativa de arrecadar cada vez mais fundos, na maioria de estrangeiros.

    Publicidade

    Após diversas alterações desde o projeto original, o Teatro foi finalmente inaugurado, no dia 31 de dezembro de 1896 – ainda inacabado internamente –, quando Eduardo Ribeiro já havia deixado o cargo de governador. No livro Manaus – História e Arquitetura, Otoni Mesquita explica que a casa guiou o padrão arquitetônico de Manaus no início do século 20, servindo como protótipo da cidade que se queria. Em cerca de uma década, o povoado bucólico virou uma capital exótica e cosmopolita, numa onda de crescimento comercial e efervescência cultural que tomou conta da região.

    Continua após a publicidade
    Teatro Amazonas
    Coube ao Instituto de Engenharia e Arquitetura de Lisboa conceber o projeto do Teatro Amazonas, em 1883. Um ano depois, após mudanças na escolha do local e trâmites burocráticos pelo custo da empreitada, os trabalhos tiveram início. A casa está localizada no centro de Manaus (iStock/Getty Images)

    Luxo de primeiro mundo

    Nenhum entrave era capaz de ofuscar a imponência do Teatro Amazonas. Com arquitetos, pintores e escultores da Europa, a mão de obra era praticamente toda importada, assim como os materiais – com exceção apenas da madeira. Os números da construção impressionam até hoje: são 198 lustres de cristais venezianos, sem contar com o principal da sala de espetáculos, de bronze inglês; aço escocês para as 22 colunas; e 36.000 peças de cerâmica esmaltada e telhas vitrificadas importadas da região francesa de Alsácia para a cúpula. Já o Salão Nobre conta com cerca de 12.000 pedaços de madeira nobre, até hoje apenas encaixados, dispensando o uso de cola ou pregos.

    Publicidade

    A exemplo de Eduardo Ribeiro, outro nordestino fincaria seu nome na história também pelo trabalho realizado no Teatro Amazonas: o artista pernambucano Crispim do Amaral ficou responsável pela decoração interna – menos do Salão Nobre, que foi entregue ao italiano Domenico de Angelis. No teto da sala de espetáculos é onde está uma das peças mais emblemáticas do local. Mesmo sem sua assinatura, uma pintura de Amaral representa quatro alegorias que remetem à tragédia, ópera, dança e música.

    Sala de Espetáculos do Teatro Amazonas
    Crispim do Amaral é o autor das pinturas do teto e de dois panos de boca da Sala de Espetáculos do Teatro Amazonas (Acervo/Secretaria de Cultura do Amazonas)

    Os mistérios da construção

    Em seus 120 anos, o cartão-postal se submeteu a diversas restaurações, que guardam curiosidades. A primeira grande reforma ocorreu em 1929, no auge da crise da borracha, quando, em questão de poucos anos, Manaus deixou de controlar 98% do mercado mundial de extração de látex e passou a responder por menos de 5% desse setor. Mas foi na reforma seguinte, entre 1972 e 1974, que surgiu um dos muitos mistérios que envolvem a construção: qual a cor original do prédio?

    Publicidade

    Seguindo suposições de pesquisadores e historiadores, o cinza-azulado foi tido como original e a pintura da parte externa, então rosa, foi substituída pelo tom. Mesmo que parte da população manauara não concordasse com o rosa do Teatro na época, por achá-lo “cafona”, a sobreposição causou rebuliço na cidade. Na restauração seguinte, em 1989, a insatisfação pública venceu e, graças a outras evidências históricas, como documentos antigos, o tom rosa imperial segue até hoje.

    Continua após a publicidade

    Mas nem todos os mistérios estão resolvidos. Prova disso é que, em 2012, durante o restauro da pintura externa, alguns mosaicos feitos com folhas de ouro foram descobertos sob nomes na fachada do edifício, encobertos pelas reformas anteriores. E as palavras pintadas ao redor do prédio, sempre brancas, se revelaram azuis. Os recém-descobertos mosaicos dourados permanecem expostos.

    Publicidade
    Foto história mostra o Teatro Amazonas com pintura cinza-azulado
    Em reforma realizada entre 1972 e 1974, o Teatro Amazonas foi pintado de cinza-azulado. Ele permaneceu com essa cor até 1989, quando voltou a ser pintado de rosa imperial (Domingos Cavalcanti/Dedoc)

    Legado cultural

    Nos anos 1980, o Teatro Amazonas ganhou status de elefante branco, pois não recebia atividades constantes nem servia como atrativo para a população. Segundo Otoni Mesquita, apenas no fim da década de 1990, com a primeira edição do Festival de Ópera e a posterior implantação de outros festivais, como o de Cinema e Jazz, é que houve uma formação de público, que se mantém fiel até então, tornando o espaço mais utilizado atualmente do que em qualquer outra época. Hoje, o Teatro abriga a Amazonas Filarmônica, que também ajudou a consolidar o Programa de Música Erudita e Artes do Amazonas.

    Desde a apresentação de La Gioconda pela famosa Companhia Lírica Italiana em 7 de janeiro de 1897, muitos artistas de diversos gêneros contribuíram para a história do Teatro – como o tenor espanhol José Carreras, a banda americana de rock The White Stripes, as britânicas do grupo Spice Girls, o ex-integrante da banda Pink Floyd Roger Waters, a cantora Bibi Ferreira e a atriz Fernanda Montenegro, para citar alguns. O local também serviu como inspiração para obras, como em 1982, quando foi cenário para o longa-metragem Fitzcarraldo, de Werner Herzog, ou como pano de fundo no romance policial português Longe de Manaus. Seja em que época for, a beleza, grandiosidade e importância do Teatro Amazonas prometem durar e impressionar por mais alguns séculos.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.