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Suzane von Richthofen, 14 anos depois

De casamento marcado, a jovem que ajudou a matar os pais a pauladas em 2002 quer ter filhos, abrir uma confecção e levar uma vida anônima

Por Ullisses Campbell
Atualizado em 5 jun 2017, 10h34 - Publicado em 26 ago 2016, 22h32

Suzane von Richthofen continua quase tão bonita quanto era aos 19 anos de idade, quando planejou e participou do assassinato de seus pais, Manfred e Marísia von Richthofen. Pelo crime, foi condenada a 39 anos de prisão. Levada no dia 8 de novembro de 2002 para o xadrez do 89º Distrito Policial de São Paulo, desde então praticamente não saiu mais da cadeia. A foto acima mostra a última vez em que isso aconteceu. Foi no início deste mês, quando ela obteve autorização para deixar a Penitenciária Feminina Santa Maria Eufrásia Pelletier, em Tremembé, para passar o Dia dos Pais em liberdade. Todo preso que está em regime semiaber­to, já cumpriu um sexto da pena e apresentou “boa conduta carcerária” tem direito ao benefício das saídas temporárias. No quesito bom comportamento, Suzane parece imbatível, como mostram os depoimentos colhidos por VEJA. Paulo José da Palma, o promotor responsável pelo acompanhamento de sua pena, por exemplo, diz que a jovem “foi elogiada em todas as prisões por que passou”. A diretora da Penitenciária de Tremembé, a quem Suzane chama de “mãe”, costuma caminhar pelo pátio de braços dados com ela. A forma como a jovem parece ter se adaptado à vida no cárcere chamou também a atenção do criminologista Alvino Augusto de Sá, integrante de um grupo que recentemente conduziu uma entrevista com ela na cadeia. “Suzane nos recebeu com um sorriso bem aberto. Estava tão à vontade no ambiente que pediu que nos sentássemos.” A jovem que ajudou a matar a pauladas os próprios pais, segundo essas descrições, é dócil, meiga e gentil. Não é uma opinião unânime.

Há dois anos, quando conquistou o direito ao regime semiaberto, Suzane passou por um teste psicológico que concluiu que ela é dotada de “egocentrismo elevado” e “agressividade camuflada”, além de ser “manipuladora, insidiosa e narcisista”. A conclusão é semelhante ao que dizem, com outras palavras, algumas das pessoas com quem Suzane conviveu na cadeia. Um agente penitenciário que trabalha há dez anos em Tremembé, por exemplo, conta que a jovem costuma modular o tom de voz conforme o interlocutor. “Fala com as detentas de um jeito e faz voz de menininha quando está na frente de um carcereiro ou de alguém de quem ela quer alguma coisa.” Uma presa que convive diariamente com ela diz que foi por pragmatismo e nenhum outro motivo que Suzane se envolveu em 2014 com Sandra Ruiz, veterana de Tremembé conhecida como Sandrão, famosa por sua força física e disposição de violar as regras da prisão (chegou a regredir do semiaberto para o fechado em 2011 por desafiar agentes penitenciárias). “A Suzane nunca gostou de mulher. Ela jogou charme para o Sandrão para virar a primeira-dama da cadeia e ser protegida e respeitada.” A própria Sandra Ruiz, ou Sandrão, disse a VEJA ter dúvidas sobre as motivações que levaram a ex-namorada a se aproximar dela — e também a deixá-la: “A Su é um enigma. Nunca se sabe o que está sentindo de verdade”. Recém-promovida ao regime aberto, Sandra Ruiz é lacônica ao falar da ex. “Digo só que ela desgraçou a minha vida.”

Suzane fez outras vítimas. Em 2009, a jovem relatou a uma juíza que o promotor Eliseu José Gonçalves, da Vara do Júri e de Execuções Penais de Ribeirão Preto, havia mandado buscá-la duas vezes na cela a pretexto de tratar de uma denúncia de maus-tratos por agentes penitenciárias. Numa das ocasiões, afirmou, ele ordenou que lhe trouxessem um lanche e a cumprimentou com dois beijinhos no rosto. Suzane disse que se sentiu assediada, e a denúncia foi parar na Corregedoria. A colegas, Gonçalves, que acabou punido com suspensão de 22 dias, garantiu que foi a jovem quem se insinuou para ele. A VEJA, disse apenas: “Prefiro ouvir falar do diabo mas não quero ouvir o nome dessa moça”.

O promotor Luiz Marcelo Negrini, que cuidava da execução da pena de Suzane quando ela estava no regime fechado, diz que a “capacidade de manipulação” é um traço marcante da detenta. “Isso fica evidente nas relações pessoais que cria. Uma hora ela é homossexual, outra hora assume o papel de hétero. E assim vai se envolvendo com as pessoas e descart­ando-as, de acordo com o que lhe convém.”

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Sandrão agora é passado. Suzane está noiva do marceneiro Rogério Olberg e já marcou a data do casamento: abril de 2017, quando deverá conseguir nova autorização para saída temporária, no feriado da Páscoa. Foi para encontrar o noivo que ela se arrumou toda no Dia dos Pais — maquiada e com o tom loiro dos cabelos reforçado por tintura, vestia top azul, jeans colado ao corpo e casaco, como aparece na foto que abre esta reportagem. Olberg, irmão de uma colega de cela de Suzane, é a sua única referência no mundo exterior. Desde que, em 2014, por motivos não esclarecidos, ela rompeu com seu advogado e tutor, Denivaldo Barni, não recebeu mais visitas na cadeia. Com o irmão mais novo, Andreas, não fala há dez anos.

Na saída do Dia dos Pais, Suzane passou a maior parte dos cinco dias de liberdade na casa do noivo, em Angatuba (SP), cidadezinha de 20 000 habitantes. Quando se aventurou na rua (tomou sorvete e comprou roupas novas), foi sempre de óculos escuros. Sua pena termina em abril de 2040. Mas bem antes disso ela pode passar para o regime aberto. No ano que vem, essa possibilidade voltará a ser discutida. Se for libertada, diz a amigos, pretende ter filhos, montar uma confecção, aproveitando a experiência da cadeia (ela trabalha na oficina de costura), e viver uma vida anônima. Para isso, terá de torcer para que o mundo esqueça o que um dia foi capaz de fazer uma linda menina de olhar angelical e voz — às vezes — muito meiga.

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