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“Será resposta errada à sociedade”, diz suspeito de mandar matar Marielle

Preso ontem pela polícia por supostamente estar relacionado a outro duplo homicídio em 2014, ex-vereador Cristiano Girão falou com exclusividade a VEJA 

Por Marina Lang Atualizado em 31 jul 2021, 10h19 - Publicado em 31 jul 2021, 08h00

O ex-vereador Cristiano Girão Matias, preso na última sexta-feira, 30, é um homem de muitas palavras. Em uma hora e meia de entrevista, cedida com exclusividade a VEJA há exatos sete dias antes de ser preso, negou todas as acusações que lhe foram imputadas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, pelo Ministério Público estadual – e, posteriormente, em uma proposta de delação ainda não homologada de Júlia Lotufo, viúva do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, morto na Bahia em 2020. Demonstrava-se preocupado com a hipótese, até aquele momento não materializada, de ser preso a qualquer instante. Garantiu, contudo, que não iria fugir. Ele foi detido por agentes da Delegacia de Homicídios durante a madrugada de ontem, saindo da confecção da mulher, Ednalva Marinho Brum, local em que trabalhava atualmente em São Paulo. 

Aos 49 anos, contou, também, que se tornou pai recentemente: sua filha, uma bebê de 11 meses, estivera no hospital dias antes da entrevista por conta de uma intoxicação alimentar. Tem outras duas filhas de relacionamentos anteriores, de 12 e 20 anos. 

Girão foi acusado pelos investigadores e tornado réu pela justiça por ser o mandante de um duplo homicídio do casal André Henrique da Silva Souza, o Zóio, e Juliana Sales de Oliveira, ocorrido em 2014 na Gardênia Azul, bairro da Zona Oeste em que nasceu, cresceu e formou seu reduto eleitoral antes de ser preso sob acusação de formação de quadrilha, em dezembro de 2009. Souza, o alvo da emboscada, estaria disputando a região enquanto Girão estava preso na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia. 

Quem teria executado o crime, segundo investigadores, foi o PM reformado Ronnie Lessa, que é réu pelas mortes da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. O elo entre Girão e Lessa foi documentado a partir de uma pesquisa que o último fez no Google, um mês antes da morte de Marielle e Anderson, e por meio de testemunhas que assistiram Lessa, supostamente, executando os assassinatos. O indiciamento, feito pelo ex-titular da DH Moysés Santana, virou uma denúncia feita no dia 19 de julho deste ano e que foi aceita pela 3ª Vara Criminal do Rio.

SEMELHANÇAS - Denúncia: morte de casal em 2014, que teria como executor Ronnie Lessa, envolve Girão e pode ajudar a elucidar o caso da vereadora morta -
SEMELHANÇAS - Denúncia: morte de casal em 2014, que teria como executor Ronnie Lessa, envolve Girão e pode ajudar a elucidar o caso da vereadora morta – (./.)

A possível encomenda das mortes de 2014 colocou Girão como o atual suspeito nº 1 de requisitar o assassinato da parlamentar do PSOL a Lessa. Nesta linha de investigação, a motivação do crime seria uma vingança contra o partido, mas, principalmente, contra Marcelo Freixo, padrinho político de Marielle que presidiu a CPI das Milícias de 2008 e fez com que parte do império paramilitar de 226 milicianos do Rio se esfarelasse.

Classificado como “xerife” da Gardênia Azul no Relatório Final da comissão, Girão foi preso três meses após a conclusão do documento, em plena Câmara dos Vereadores carioca. Alega que parte da sua renda captada na quebra de sigilo naquela época (entre 1 e 2 milhões de reais em um período de cinco anos) veio de seus empreendimentos e shows de funk que agenciava. Passou oito anos atrás das grades, boa parte deles confinado em três penitenciárias federais (Mossoró, Campo Grande e Porto Velho). Foi solto em regime de liberdade condicional no final de 2016, período em que Marielle se elegeu com mais de 45 mil votos, e beneficiado por um indulto do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2017. Desde então, morou em Natal, no Rio Grande do Norte, e estabeleceu residência fixa em São Paulo a partir de julho de 2017. 

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O senhor mandou matar a vereadora Marielle Franco? Você acha que se eu tivesse envolvimento em querer matar alguém eu iria lá na Câmara dos Vereadores para botar a minha cara? [Sete dias antes da morte de Marielle, Girão registrou presença na Casa Legislativa]. Não fui escondido, passei normalmente como qualquer outro cidadão. É a casa do povo. Não estava impedido de entrar em nenhuma repartição pública. Acho isso uma covardia. Se não tivesse ido à Câmara, ninguém saberia que eu estive no Rio de Janeiro, não iria aparecer. É um fato. Dizer que sou o principal suspeito por eu ter ido à Câmara e por causa da CPI e que Marielle estava nela… Nem sabia que Marielle estava na CPI! Não lembro sequer dos meus assessores, vou lembrar de uma pessoa do Freixo de lá atrás? Não tem nexo. Se você quer fazer mal a alguém, você vai lá na porta da pessoa e depois executa a pessoa? Pelo amor de Deus. As pessoas querem tirar o foco de alguém.

O que o senhor sabe sobre a Marielle? Nunca ouvi falar dessa moça. Sinto muito por ela e pela família, espero que os mandantes venham à tona realmente. Espero que seja esclarecido porque não sou só eu quem está sofrendo, tem outras famílias também sofrendo com essa perseguição. Várias pessoas tiveram suas vidas viradas de cabeça para baixo por causa disso. 

Queria deixar um recado para a família de Marielle: se eu for preso como mandante, que eles continuem buscando o real mandante, porque não fui eu. Vão dar uma resposta errada para a sociedade. Uma resposta errada. Nunca mandei matar Marielle ou ninguém. 

Veredora do PSOL foi assassinada em março de 2018
Vereadora Marielle Franco (PSOL), em sessão na Câmara no ano de 2017 (Facebook/Reprodução)

Como uma das partes interessadas em provar sua inocência, o senhor sabe, então, quem mandou matar Marielle? Bom, para eu procurar saber eu tenho que voltar a morar no Rio. E isso é uma coisa que eu não quero. Se eu soubesse, já teria falado. O que tem hoje a meu respeito contra mim é a ida à Câmara dos Vereadores ou ficar na churrascaria durante o dia 14 de março de 2018? Aí as pessoas jogam como querem. O lugar é agradável. Disseram que passei dez horas na churrascaria, é uma mentira, cheguei lá por volta das 17h e saí à 00h. 

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Não é o que consta no seu depoimento à DH, a que VEJA tem acesso. Na delegacia o senhor disse, e está com sua assinatura, que chegou às 14h e foi embora depois de 00h. Não foi 14h, não, cheguei às 16h, 17h, e fiquei até por volta das 23h. 

Por que Júlia Lotufo lhe apontou como um dos mandantes da morte de Marielle? Ela falou que seria eu, o vereador [Marcello Siciliano] e o [Domingos] Brazão. Parece que a promotora disse: “A senhora sabe que o Siciliano e o Brazão são rachados e não se falam?” Aí já começa a enfraquecer mais ainda o negócio. Para mim ela deve estar querendo acobertar alguém com isso. 

Quem? Ela é mulher do Adriano. Ou realmente ela está querendo acobertar alguém ou não sabe de porra nenhuma. Está querendo se beneficiar na Justiça, porque é fácil pegar os nomes que estão sendo batidos hoje. Aí ela diz que o Girão teria mandado porque ele não estava contente com as atividades dela no Gardênia e na Cidade de Deus. O que eu tenho a ver com a Cidade de Deus? O que eu tenho a ver com a Gardênia, se lá tem o Siciliano? Se lá tem o Brazão? 

Queria que você visse isso aí. Se Marielle foi à Gardênia, se ela de fato pisou na Gardênia. Porque a mulher [Júlia] fala das atividades dentro da Gardênia. [De acordo com assessores, Marielle nunca esteve no bairro ou fez qualquer tipo de ação por lá]

Pedi ao meu advogado para entrar com uma representação contra ela por falsa comunicação de crime. Assim que ele tiver acesso ao termo, vai tomar as providências. 

Julia Lotufo posa para foto com miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime
Julia Lotufo posa para foto com miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime (MPRJ/Reprodução)
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O senhor tem algo contra o Marcelo Freixo? Sentiu vontade de se vingar dele? Nunca tive nada contra o Freixo. Essa história de que eu ameacei o Freixo, que eu ia me vingar do Freixo… Isso é uma aberração. Se fosse fazer mal a alguém, se isso fosse da minha índole, seria a [deputada estadual] Cidinha Campos. Ela batia todo o dia em mim no programa [de rádio] dela. Dizia que eu era o preso dela, que ela me prendeu, que ela fez, que ela aconteceu. E eu não quero o mal dela, quero que ela viva 200 anos. Se alguém for cobrar algo dela, vai ser Deus, não vai ser eu.  

O senhor é o chefe da milícia de Gardênia Azul? Eu nunca mais voltei para a Gardênia Azul desde 2009. As pessoas continuam me atrelando, mas veja quantas guerras tiveram lá dentro com um monte de líderes. Desde quando eu saí de lá, aquilo lá virou um Deus nos acuda. Mas eu continuo sendo apontado como líder. Não tenho nenhuma ligação e nem quero. Não tenho nada, não quero saber de crime, não sou criminoso. Não vivo do crime, não estou aqui para tirar nada de ninguém. Quero tirar esse estereótipo da minha vida. Não aguento mais ser rotulado de miliciano. 

O senhor conhece o Ronnie Lessa? Mandou que ele matasse o PM Rodrigo Zóio em Gardênia Azul no ano de 2014, quando estava em presídio federal? Nunca vi esse Lessa na minha vida, nem nunca falei com ele. Esse tal de Zóio nunca ouvi falar também. Quem levou ele para a Gardênia e como foi eu desconheço. Não sei o que aconteceu ou o que ocasionou isso. Não posso ser o mandante de todos os crimes do Rio de Janeiro. Fui apontado como mandante da morte do Felix [Tostes, inspetor da Polícia Civil, um dos primeiros líderes da milícia de Rio das Pedras e assassinado em 2007], do Nadinho [Josinaldo Francisco da Cruz, ex-vereador, outro líder do grupo paramilitar de Rio das Pedras, também indiciado na CPI das Milícias e assassinado em 2009], depois do Marcelo [Diotti da Mata, então marido da ex-mulher de Girão, assassinado em uma emboscada em 14 de março de 2018, mesma noite da vereadora do PSOL]. E, agora, a morte da Marielle. 

Mas por que o Lessa não faz uma delação? 

Já fizeram proposta para ele em duas ocasiões, mas ele se recusou. Alega ser inocente e que, por isso, não vai falar. Quando o delegado veio aqui [fazer busca e apreensão, em setembro de 2020], disse que ele iria delatar e eu gritei um “Glória a Deus” tão grande porque ficaria livre desse pesadelo. No lugar dele, eu faria, porque ele está colocando toda a vida dele, a família dele, na desgraça. 

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Então o senhor acompanha as notícias do caso. Como não, minha filha? Meu nome está envolvido no caso! Não vivo fuçando, mas vejo jornal toda hora e aparece. Ligo o jornal de manhã, à tarde e à noite e passa isso. Podem até dizer que sei demais, mas nem jornal eu posso ver agora? 

Mas vou lhe falar de coração: eu, no lugar dele [Lessa], vendo minha família ser desgraçada do jeito que a dele está sendo, iria acabar com isso de uma vez por todas. 

Por que o senhor acha que o Lessa não fez uma delação? Não sei, não conheço ele, não posso falar por ele. Não sei nem se foi ele, mas se foi mesmo ele, deveria ser homem o suficiente para bancar essa situação. Não é deixar os outros agora ficarem se ferrando todos, a família, todo mundo. Todo mundo vivendo em apreensão. 

Ronnie Lessa: o PM reformado alega que era colecionador e que suas armas desapareceram, mas foi condenado pelo seu descarte
GATILHO – Ronnie Lessa, acusado de atirar em Marielle: próximo da milícia (Pablo Jacob/Agência O Globo)

Por que o senhor esteve na Câmara do Rio sete dias antes de Marielle ser assassinada?  Estava fazendo um tratamento, eu e minha esposa, para gravidez. Fui ao Rio para consultar meu médico de confiança. Aí fui visitar meus colegas, meus pares. Fui preso dentro da Câmara, né? Em dezembro de 2009. Todo mundo veio me consolar, me dar apoio. Nunca mais voltei, foi uma oportunidade única que eu tive. Se você saísse do seu trabalho, mas tivesse a oportunidade de voltar para tomar um café com seus amigos, você não iria? Claro que iria!

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Então o senhor é amigo do Chiquinho Brazão, para cujo gabinete se dirigiu em 7 de março de 2018? Não sou amigo do Chiquinho Brazão. [Ir ao gabinete] não quer dizer que você é amigo. Até porque eu fui, sim. Tinha uma relação com ele de par, atuávamos em Jacarepaguá. Quando fui à Câmara, fui falar com o presidente [Jorge Felippe, ex-presidente da Casa Legislativa]. E o Chiquinho, quando fui preso, foi o cara que mais me deu apoio na hora. Mas todos me deram apoio, inclusive o presidente. Conheci o Domingos Brazão [irmão de Chiquinho e apontado pela ex-procuradora geral da República, Raquel Dodge, como “arquiteto” do feminicídio de Marielle] enquanto deputado, durante campanhas políticas, nas eleições de 2006 e 2008. Nunca fui amigo dos irmãos Brazão. O fato de eu conhecer não significa que sou envolvido com as coisas deles. 

Como o senhor caiu no centro das investigações do caso Marielle? Eu atribuo isso à politicagem. Sou uma pessoa que tem uma notoriedade, um nome. Tinha representatividade em Jacarepaguá, era agente público, entrei para o Corpo de Bombeiros com 17 anos. Assumi uma responsabilidade muito cedo, já nos anos 90, e me tornei uma referência na comunidade [Gardênia Azul]. Minha mãe era agente de saúde, trabalhava em um posto, então era natural que as pessoas nos procurassem na nossa casa. Então problemas de saúde e de segurança eram [resolvidos] na minha casa. Tudo era muito difícil naquela época. Tive uma lan-house e alugava fitas de vídeo, DVD, aquilo foi um sucesso porque não tinha. Isso na década de 90, então levei oportunidade a pessoas menos favorecidas. Começaram a ocorrer alguns assaltos, e alguns vizinhos comerciantes me acionavam por ser da área de segurança. Eu chamava a viatura ou abordava aquela situação – se não fizesse, estaria prevaricando por ser um agente público. Teve uma noite em que eu estava esperando uma menina passar, estava de olho nela. Ela saía do serviço tarde, por volta da meia noite, e um comerciante estava com um problema de briga de bar e me chamou. Acabei indo, resolvi o problema, chamei a viatura. Sugeri que ele procurasse um segurança junto com os comerciantes do entorno para cuidar. Foi assim que surgiu a segurança no local. Aí as pessoas me pediram para vir candidato, o que tirou espaço dos políticos profissionais dentro da comunidade. Muitos líderes comunitários foram eleitos, e os tradicionais perderam terreno. Aí veio a CPI das Milícias. E 99% dos indiciados são agentes públicos.

Mas consta, no Relatório Final da CPI das Milícias, que o senhor cobrava taxas de moradores e comerciantes. Não estou aqui para criticar a ação da CPI, é como e por que ela foi feita. Minha visão e de alguns é que ela foi feita para coibir a possibilidade de eleição de líderes comunitários. Sou empresário desde os anos 90 e cometi um erro crasso de depositar todo o dinheiro na minha conta. Fazia eventos. Quando um empresário do funk contratava algum dos meus agenciados, ele tinha que depositar 50% na minha conta, e era minha conta pessoal. Não tinha uma empresa do segmento de funk. Quando fizeram a quebra do meu sigilo, passou 1 milhão de reais, 2 milhões de reais na minha conta num período de cinco anos. Passou, não nego. Só que ninguém apontou a ilicitude do dinheiro. Foi fácil dizer que era ilegal. Mas eu estava cerceado e não tive como fazer minha defesa. Tenho os comprovantes para mostrar, cerca de 800 000 reais provenientes de agenciamentos de shows em todo o país. Eu me afastei desse meio, mas ainda tenho um estúdio para produzir e fazer mixagens de músicas. 

Então o senhor se considera fora do crime organizado do Rio de Janeiro? A CPI das Milícias foi injusta com o senhor? A CPI das Milícias em si foi até justa. Mas eu só quis contar por que foi começada, o foco foi político. Nunca tive nada contra a CPI, aliás, pelo contrário: ela me ajudou a ser visto. Para quem não me conhecia, começou a me conhecer politicamente. O único problema que tive na CPI foi a deputada estadual Cidinha Campos. Ela começou a falar um monte de asneira, e eu provei a ela que não. A Cidinha bateu no peito dizendo que eu havia matado a minha empregada doméstica, que tinha sumido com a mulher e arrancado seus seios. Mas levei ela viva na Corregedoria dos Bombeiros, ela levantou a blusa para mostrar que isso não havia acontecido. Cidinha tentou me atacar na CPI das Milícias, mas lembrei que o filho dela frequentava as minhas festas de rua, tomava uísque e fumava charuto comigo. Aí ela disse que eu estava ameaçando a família dela. Vai entender? Fui bombardeado, tudo o que eu falava era usado contra mim. O único problema que tive na CPI foi esse. 

Fui perseguido politicamente pelo [Sérgio] Cabral [ex-governador do Rio]. Era um cara que gostava muito de mim até deixar de gostar, me chamava de “meu craque”. Na pacificação da Cidade de Deus [em 2009] fui com minha então mulher, agora ex. Lá dei uma notícia que ele não gostou, que a minha mulher viria como candidata a deputada estadual no ano seguinte, em 2010. Mas ele queria que todos concentrassem apoio ao candidato dele, que era o filho. A partir daí, comecei a ser um mal maior. Eu vi a expressão [facial] dele mudar na hora. Fui perseguido. Cabral mandava todo mundo para o presídio federal e de lá ninguém saía. 

Qual sua principal atividade econômica hoje? Minha mulher é formada em moda e tem um ateliê. A gente fabrica roupas durante a madrugada. Tem os colaboradores, e a gente passa o dia todo e a madrugada fabricando e confeccionando para mandar para lojas. Trabalhamos de acordo com o que o cliente pede.

Como é sua vida em São Paulo? Do trabalho para casa, da casa para o trabalho. Sou muito pacato. Vivo assombrado. Eu não ostento, não vivo de ostentação, quero cuidar da minha filha pequena, das outras duas eu não consegui. Sou um ser humano, tenho sentimentos também. Você sabe como é São Paulo, uma cidade muito difícil. Evito sair. Temo pela minha família e de repente me vejo pensando: “será que vão entrar aqui em casa e matar todo o mundo?”.

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