Secretária das propinas da Odebrecht diz não conhecer Palocci
Maria Lúcia Guimarães Tavares prestou depoimento ao juiz federal Sergio Moro nesta sexta-feira
Maria Lúcia Guimarães Tavares, ex-secretária do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, o departamento de propinas da empreiteira, prestou depoimento ao juiz federal Sergio Moro nesta sexta-feira. Por videoconferência, ela falou na condição de testemunha de acusação na ação penal que tem como réus, entre outros, o ex-ministro Antonio Palocci, o ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht, o marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura.
Diante de Moro, Maria Lúcia, que trabalhou por onze anos no setor de propinas e foi a primeira funcionária da Odebrecht a fechar acordo de delação premiada, disse que encaminhou pagamentos relacionados à planilha “Programa Especial Italiano”, mas não conhece Palocci e não sabe a quem se refere o codinome italiano. Segundo o Ministério Público Federal, este era o apelido do ex-ministro na empreiteira.
“Só conheço da televisão”, respondeu a ex-secretária, quando Palocci foi colocado diante da câmera para que ela o reconhecesse. Ela também disse não saber quem é e nunca ter visto o ex-assessor de Palocci Branislav Kontic, também réu na Justiça Federal.
O único codinome das planilhas da Odebrecht cujo “dono” a ex-secretária conhece é “Feira”, referência à mulher do marqueteiro João Santana, Mônica Moura. De acordo com Maria Lúcia, ela só soube do apelido de Mônica porque a mulher de Santana foi até a sede da Odebrecht duas vezes para “saber endereço para pegar um dinheiro e também levar uma conta”.
Questionada pelo MPF, a ex-secretária da Odebrecht confirmou que os pagamentos feitos a Mônica Moura pertenciam à “contabilidade paralela” da empreiteira. Réus na mesma ação penal que Antonio Palocci, Santana e Mônica foram condenados ontem por Sergio Moro a 8 anos e 4 meses de prisão cada um, em outra ação penal da Lava Jato.
A primeira delatora da Odebrecht
Foi na casa de Maria Lúcia que a Polícia Federal apreendeu, na 23ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Acarajé, as primeiras planilhas com codinomes e valores do setor de propinas.
Os documentos e as revelações da ex-secretária em sua delação premiada levaram à deflagração da 26ª fase da Lava Jato, que mirou o setor montado pela Odebrecht especialmente para o pagamento de propinas e levou à cadeia os executivos que o comandavam.
“Recebia uma planilha com codinomes, com valores e datas de entrega. Esperava o chefe mandar para mim para os endereços e passava para os prestadores de serviço”, relatou a Moro.
“Eles mandavam fazer o serviço, pra mim aquilo era normal. Mas depois com o tempo eu fui verificar que aquilo era ilícito. Eu nunca procurei querer saber. Foi minha ignorância, foi meu erro, não procurar saber o porquê daquilo. Eu já estava há muito tempo na empresa, fui fazendo”, afirmou a ex-secretária ao juiz.