Santa Catarina vem batendo um triste recorde nacional. É a unidade da federação que registrou mais casos de prefeitos presos por corrupção. Nos últimos quatro anos, 28 foram detidos por desvios de recursos públicos. O estado tem 295 municípios e as prisões representam 9,4% dos gestores.
A corrupção e os malfeitos são suprapartidários. Envolve prefeitos do PSDB, PL, MDB, PT, PP, Podemos, PSD, Republicanos, Patriota, PSL e PSD. As principais fraudes envolvem pagamento de propina, contratos superfaturados de asfaltamento, coleta de lixo, transporte escolar e até serviços funerários.
A série de operações policiais começou em agosto de 2020, com a prisão de Orildo Severgnini, prefeito do município de Major Vieira. Ele é o único dos presos apanhados ainda na legislatura passada, mas foi através dele que o Ministério Público de Santa Catarina e a Polícia Civil começaram a rastrear os demais.
Orildo presidia a Federação Catarinense de Municípios (Fecam). Em 2020, a polícia encontrou mais de 320 mil reais em espécie na casa do prefeito — a ponta do iceberg de um esquema de fraudes em licitações de obras públicas, desvio de verbas e lavagem de dinheiro.
A partir de uma varredura em dezenas de contratos públicos, a maioria na área de coleta de lixo, o MP e a Polícia Civil flagraram outros 27 prefeitos. Na primeira fase da operação, foram bloqueados 282 milhões de reais. O último prefeito a entrar na lista foi o de Criciúma, Clésio Salvaro, do PSD, também preso.
Os inquéritos tramitam em sigilo. “Foi uma surpresa desagradável, mas faz parte, não dá para dizer que houve exagero nem arbitrariedade, foi um trabalho lamentavelmente necessário”, diz o senador Esperidião Amin (PP-SC), que teve seis correligionários presos.
Orildo Severgnini foi condenado a mais de 100 anos de prisão em 2022. A Justiça também condenou o prefeito de Itapoá, Marlon Neuber (PL), a 18 anos de cadeia por organização criminosa e corrupção ativa. No último dia 3, foi a vez do prefeito de Pescaria Brava, Deyvisonn Souza (MDB), que recebeu uma pena de 60 anos de prisão por organização criminosa e corrupção.
As condenações não intimidaram alguns. Pelo menos quatro prefeitos que passaram um período na prisão em Santa Catarina tentarão a reeleição em outubro — caso do prefeito de Cocal do Sul, Fernando de Fáveri (MDB), de Ipira, Marcelo Baldissera (PL), de Imaruí, Patrick Corrêa (Republicanos) e de Ponte Alta do Norte, Ari Wollinger (PL). Procurados, eles não se pronunciaram.