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Quero ser Farrah Fawcett: visual exuberante dos cabelos ganha adeptos

O look com franjão faz sucesso nas redes sociais como sinônimo de sensualidade e liberdade femininas

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h02 - Publicado em 9 out 2020, 06h00
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  • Nunca houve cabelos como os de Farrah Fawcett (1947-2009) — ou, posto de outra forma, nunca as madeixas definiram tanto um tempo da civilização quanto os anos 1970 impregnados nos fios da atriz de As Panteras. Os cabelos, enfim, são como um tratado de sociologia que sai do salão para andar pelas ruas. Podem ser ultrafemininos e sensuais como os de Farrah, na pele da detetive particular Jill Munroe, que enchia a tela com a juba loira, esvoaçante e repicada, completamente imune a cenas de ação e perseguições. Podem ser curtíssimos e utilitários como o corte rente na nuca de Coco Chanel, criado há cem anos, logo depois da Gripe Espanhola e da I Guerra, quando as mulheres começavam a brigar pelo direito ao trabalho. Não há enigma: diga-me como cortas o cabelo e te direi quem és, simples assim. Neste estranho 2020 da pandemia, de nostalgia como socorro a um presente difícil e futuro incerto, o estilo Farrah Fawcett voltou a ganhar simpatizantes e se popularizou nas redes sociais, sobretudo no TikTok, a invenção chinesa que colou. Há adeptas dos 8 aos 80.

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    A história começou com coleções de roupas lançadas no finzinho de 2019, inspiradas em peças da década de 70. Estava tudo lá: as calças com barras avolumadas, casacos de alfaiataria, acessórios com pedrinhas e o jeitão um tanto desleixado de andar de Farrah Fawcett. Para chegar à mítica cabeleira o passo foi pequeno. A modelo Sofia Richie, a atriz Hailee Steinfeld e a cantora Jennifer Lopez, todas americanas, foram algumas das que apareceram com o novo visual. “O corte exuberante fica bem em quase todos os tipos de rosto”, diz o cabeleireiro Marcos Proença, dono de dois cobiçados salões paulistanos.

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    Mas pegou, mesmo, agora, porque pode ser feito em casa, ali onde a civilização se fechou desde março. Proliferam nas redes sociais tutoriais nos quais meninas que mal passaram dos 20 anos ensinam com proficiência como usar os datados bobes e os modeladores de cabelo (muitas vezes ao som das melodias da banda sueca Abba). Há aulas de como cortar a franja característica e o jeito correto de movimentar escovas e pranchas com as mãos, a fim de conquistar os fios avolumados que contornam o rosto em formato de cascata. “Para as jovens, reexibir o que foi moda há cinquenta anos é uma potente forma de expressão, é celebrar os aspectos libertários daquele tempo”, diz o professor de história da moda na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) João Braga.

    Não há, portanto, futilidade alguma no movimento de imitação de Farrah. Trata-se de um modo de expressão. Ressalve-se que exibir as melenas lindas, livres e soltas já foi um tabu. No início do século XX, poder enxergar um bom volume de fios livres desde o topo da cabeça era um benefício concedido apenas ao marido, na intimidade do lar, entre quatro paredes. Os lenços eram compulsórios, associados a chapéus. A lógica só começou a ser invertida com movimentos como os de Chanel e, depois da I Guerra, numa nova versão, com os chamados cortes à la garçonne (do francês “ao modo dos rapazes”). Na década de 50 surgiriam as tinturas para ser usadas em casa e, então, brotou a mágica de Marilyn Monroe, com cabelos loiríssimos.

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    Lembre-se que o fenômeno Farrah Fawcett, esse que renasceu, era o desfecho de uma revolução que tinha nascido um pouco antes, na virada dos anos 1960 para os 1970 — havia portanto uma avenida aberta para avanços notáveis. As mulheres já podiam usar pílula anticoncepcional, desciam ao asfalto para defender seus direitos, se tornaram donas da própria liberdade sexual e passaram a decidir ter ou não filhos. Uma liberdade coroada magistralmente com a chegada de Farrah Fawcett e sua personagem. “Ela reunia as qualidades de ser heroína, poderosa, feminina e glamourosa, algo totalmente relacionado à imagem da mulher naqueles anos”, diz a historiadora da moda Laura Ferrazza, autora do livro Quando a Arte Encontra a Moda. O retorno de um ícone que simboliza liberdade em um momento como o de agora, quando a independência foi tão tolhida com a pandemia, é extraordinariamente emblemático. Tem a força de um belo manifesto feminino.

    Publicado em VEJA de 14 de outubro de 2020, edição nº 2708

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