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Promotoria investiga ida de candidato do PSL à casa de menina estuprada

Vídeos e áudios mostram político católico pressionando a família a desistir do aborto legal; Promotoria viu conduta ilegal e pediu indenização de R$ 300.000

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 ago 2020, 18h15 - Publicado em 21 ago 2020, 16h40

O estupro da menina capixaba de 10 anos deveria ter se restringido a um caso policial, mas ganhou contornos políticos após grupos religiosos com interesses eleitorais se intrometerem no assunto e fazerem pressão para impedir a interrupção da gestação – autorizada pela Justiça e fruto de violência sexual.

Além de ter denunciado o suspeito do crime – o tio da vítima -, o Ministério Público do Espírito Santo agora se debruça sobre duas ações civis públicas para apurar as condutas de uma liderança política católica de São Mateus (ES) e da ativista extremista Sara Geromini, conhecida como Sara Winter, no constrangimento ilegal à vítima e seus familiares.

Pré-candidato a vereador de São Mateus e recém-filiado ao PSL, Pedro Teodoro coordenou um grupo de religiosos que foi até a casa da avó da menina para tentar convencê-la a desistir do aborto, no dia 15 de agosto. Na visão da Promotoria, ele “invadiu” a residência e promoveu um verdadeiro “terror psicológico” contra os familiares da garota, que na ocasião estava sob os cuidados do Conselho Tutelar.

Conforme áudios e vídeos obtidos por VEJA, ele pede para a avó se tornar uma voz contra o aborto legal da criança. Diz também ter conversado com um assessor da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves (“Só para saber o nível de informação que eu tenho”) e ofereceu à família um corpo médico de São Paulo e Brasília, “que sabe lidar com esse tipo de situação”.

“Só que eu, mesmo com o projeto, mesmo com o suporte, não tenho força. Mas a senhora tem. A senhora tem a sua voz, eu não sou familiar dela, mas se a senhora se pronunciar contra…”, afirma ele. Nas imagens, o político aparece rezando no quintal, enquanto a avó da menina passa mal e quase desmaia.

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No fim da conversa, ocorre uma discussão entre os familiares e os religiosos. “Se tem uma alma ali, foi Deus quem colocou?”, diz o político. “Não foi Deus, não. Não foi Deus que colocou”, responde um familiar. “Mas Deus permitiu”, responde uma mulher do grupo religioso.

Em suas redes sociais, Teodoro se apresenta como fundador do projeto “Família Cristã”, católico, empreendedor, palestrante e escritor. No dia 17 de agosto, o bispo de São Mateus, Dom Paulo Bosi Dal’Bó, divulgou uma nota, informando que “a família da gestante foi visitada pessoalmente a fim de ser informada de todas as possibilidades de ajuda tão necessárias no momento” e que protocolou na Justiça um ofício oferecendo “estrutura hospitalar e assistência social”.

Após a tal “visita”, Teodoro divulgou o nome da vítima nas redes sociais ao saber que ela havia decidido pelo aborto legal, com os dizeres: “Todos a favor da vida me ajudam a levantar a # acima. Não se paga um mal, cometendo outro maior ainda!”.

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Esses posts estão elencados na ação do Ministério Púiblico, que pede uma indenização por dano moral coletivo no valor de 300.000 reais. “O negócio foi tão nojento que pessoas iam lá com intenções de fazer campanha política, usando uma dor familiar em benefício eleitoral”, disse uma autoridade envolvida nas investigações sob condição de anonimato.

A Promotoria destaca que ele está incluído em uma “estratégia midiática” iniciada por Sara Geromini, que também divulgou o nome da menor nas redes sociais e o endereço do hospital onde ela faria a interrupção da gravidez, em Recife. A avó e a menina, que moram em São Mateus (ES), precisaram viajar 1.630 quilômetros para conseguir realizar o procedimento. O MP pediu 1,32 milhão de reais de indenização a Geromini.

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