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Polícia Civil e MP abrirão força-tarefa para investigar João de Deus

Mais de 30 relatos de abusos sexuais cometidos pelo médium foram divulgados

Por Da Redação Atualizado em 10 dez 2018, 20h44 - Publicado em 10 dez 2018, 11h43
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  • A Polícia Civil e o Ministério Público de Goiás vão criar uma força-tarefa para se dedicar à série de denúncias de abusos sexuais atribuídos a João Teixeira de Faria, o João de Deus. No último sábado, 8, o programa da Rede Globo Conversa com Bial trouxe dez relatos contra o médium que atende na cidade de Abadiânia (GO).

    O grupo vai reunir quatro promotores e duas psicólogas, que vão se dedicar a investigar os casos. Até agora, vítimas ainda não se apresentaram formalmente ao Ministério Público. “Dependemos desses relatos para instruir a investigação e para que a Justiça seja realizada”, afirmou o promotor Steve Gonçalves Vasconcelos. Um e-mail (denuncias@mpgo.mp.br) foi criado especialmente para receber denúncias.

    Luciano Meireles, coordenador do centro de apoio operacional criminal do Ministério Público de Goiás, afirmou que vítimas de outros estados podem buscar também o Ministério Público mais próximo para prestar depoimento. As investigações ficarão concentradas em Goiás.

    Com base nas investigações, não está descartada a determinação da prisão preventiva do médium e do fechamento da casa onde ele presta atendimento. Um procedimento específico para o fechamento do local foi iniciado.

    “Testemunhas que saibam de qualquer suspeita nos atendimentos podem entrar em contato com o Ministério Público, incluindo as que vivem no exterior”, afirmou a coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos, Patrícia Otoni. “É importante que todas prestem depoimentos, para que possamos somar o que ocorreu no local”, disse a coordenadora.

    Além dos depoimentos, a força-tarefa deverá realizar uma avaliação de ações arquivadas contra o líder religioso por falta de prova. “Identificamos alguns processos. Conforme os depoimentos forem coletados, poderemos reabrir os casos.”

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    Segundo o Ministério Público, outras denúncias foram encaminhadas à Polícia Civil ainda no primeiro semestre. O delegado-geral da Polícia Civil, André Fernandes de Almeida, confirmou que foram abertas investigações em outubro pela Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic).

    “Ele está sendo investigado há 45 dias, bem antes de o caso ter sido levado à TV.” O delegado contou que a apuração foi transferida para a Deic, na capital goiana, pela complexidade da situação e pelo risco de haver intimidação das testemunhas, além do fato de ser uma delegacia especializada.

    Mais mulheres procuraram distritos policiais neste fim de semana, alegando terem sido vítimas de João de Deus. Ao Fantástico, da Rede Globo, o MP disse no último domingo ter relatos de assédio desde 2010 e deve criar uma força-tarefa para analisar todas as queixas. O programa levantou acusações desde os anos 1980.

    Considerando reportagens da TV Globo e do jornal O Globo, feitas nos últimos três meses, há mais de trinta relatos de mulheres de 30 a 40 anos. Sempre em um espaço particular, a portas trancadas, elas alegam ter sido obrigadas a praticar atos sexuais e teriam o corpo tocado por João de Deus para “uma limpeza espiritual”.

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    Após as acusações, a Federação Espírita Brasileira (FEB) veio a público para destacar que “o espiritismo orienta que o serviço espiritual não deve ocorrer isoladamente, apenas com a presença do médium e da pessoa assistida. Não recomenda, portanto, a atividade de médiuns em trabalho individual, por conta própria”, afirmou a FEB em nota oficial.

    A reportagem não conseguiu localizar João de Deus no domingo para tratar do caso. À TV Globo, seu advogado, Alberto Toron, destacou que ele “recebe com indignação as denúncias”, e nega qualquer ilegalidade.

    “Amanhã mesmo [segunda-feira] nós vamos nos dirigir às autoridades judiciárias da cidade de Abadiânia pra dizer que ele está à disposição da polícia, do juiz e do Ministério Público pra ser ouvido em qualquer momento. Achamos que tudo isso deve ser um objeto de uma investigação marcada pela seriedade, e nós esperamos que isso aconteça pra que a verdade venha à tona”, afirmou Toron.

    ‘Era assédio’

    Uma estudante paulista que se identificou como Antônia falou sobre o assédio cometido por João de Deus, quando procurou ajuda do médium. Ela pretende ir ao Ministério Público para formalizar a denúncia. “Não quero dinheiro, quero Justiça”, afirmou. Os abusos teriam ocorrido desde 2016, em quatro ocasiões distintas. Antônia (nome fictício), de 28 anos, foi a Abadiânia pela primeira vez em 2015. Depois, começou a atuar como guia. Sua responsabilidade era levar pessoas de São Paulo para o centro espiritual.

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    Ela conta que sofreu assédio quando procurou ajuda do médium. “Terminado o trabalho, ele pediu para que eu o encontrasse numa sala contígua ao salão onde os fiéis são atendidos. Ao chegar à sala, João pediu para que trancassem a porta [foi quando uma acompanhante de Antônia ficou com olhos fechados, virada para parede]“.

    “João dizia que a limpeza dos chacras teria de ser feita sem a observação de ninguém. Ele colocou o pênis para fora e perguntou a minha idade. Disse 26. E ele respondeu: ‘Então você vai mexer aqui 26 vezes’. Fiquei desorientada, mas não consegui fazer nada além de obedecer.”

    “Chegando à pousada, chorei muito. Mas não conseguia abandonar o trabalho. Além disso, acreditava que ele ajudava as pessoas. Não conseguia ver o que era o ritual, o que era abuso. Em outras três ocasiões, os abusos se repetiram. Num determinado momento, não consegui continuar [como guia]. Em outubro do ano passado, porém, decidi voltar para Abadiânia. Ao ver que eu estava sempre acompanhada de um homem, ele evitou se aproximar”, disse.

    “Daí ficou claro para mim que se tratava de assédio. De que não havia nada de limpeza de chacras. Ao ver o depoimento de mulheres [na TV Globo] decidi dividir a história. Claro que foi doído. Mas, ao mesmo tempo, me ajudou a me libertar, a ver que não estava sozinha e não precisava carregar a culpa que ainda carregava”, completou Antônia.

    (com Estadão Conteúdo)

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