Pela primeira vez em anos, a direita tem algum protagonismo sem falar de Bolsonaro
Ao levantar a bandeira do combate ao crime organizado, a oposição tira Lula da zona de conforto e volta a dialogar sobre a vida real com a sociedade
Desde que as forças de segurança do Rio de Janeiro ocuparam comunidades dominadas pelo Comando Vermelho para cumprir cerca de 100 mandados de prisão expedidos pela Justiça, a direita brasileira não fala mais de Jair Bolsonaro.
O ex-presidente deve ser preso nos próximos dias para começar a cumprir a pena de 27 anos e 3 meses de prisão. O calvário judicial de Bolsonaro, aos poucos, tornou-se um labirinto por onde a oposição a Lula perdeu-se em brigas públicas e disputas por protagonismo.
Refém da agenda da anistia e de outros interesses pessoais de Bolsonaro, a oposição se desconectou dos problemas da vida real e deixou de dialogar com a sociedade e de ser um contraponto ao governo petista em questões importantes.
Enquanto penava com os tiros no pé de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, a oposição ajudou Lula e o PT a consolidarem um discurso de defesa da democracia e da soberania nacional. O petismo estava num lugar confortável, curtindo a “química” com Donald Trump.
Os opositores, perdidos, buscavam em iniciativas isoladas tentar emplacar algum discurso que rendesse alguns minutos de fama no sempre barulhento ambiente bolsonarista. Quase sempre quem se destacava era fustigado por Eduardo e outros filhos de Bolsonaro nas redes. O clã não admitia perder o controle da “narrativa”, como eles gostam de dizer.
Quando os blindados entraram no Complexo da Penha para enfrentar o exército do Comando Vermelho, esse jogo virou. A oposição encontrou uma bandeira muito maior que os Bolsonaro para levantar. O combate ao crime organizado e a defesa das ações policiais como resposta a facções uniu governadores com ótimos resultados a mostrar na área de segurança pública em seus estados.
Além de um discurso único e claro, os opositores conseguiram atrair a atenção da sociedade para um evidente contraste entre a violência crescente em estados governados pela esquerda. A “química” rolou entre quem deseja o combate ao crime e quem tem algo a dizer sobre o tema.
Sem o clã Bolsonaro para atrapalhar, foi a vez da esquerda cometer erros de “narrativa” ao atacar a ação policial no Rio de Janeiro enquanto a sociedade referendava a operação.
Vendo o tempo virar, Lula se recolheu e abandonou a esquerda em seu discurso contra a ação policial. Em vez de críticas a Cláudio Castro e aos policiais que foram enfrentar traficantes fortemente armados na mata do Complexo do Alemão, Lula divulgou um pequeno texto sobre a ação defendendo a união dos governos contra o crime.
A segurança pública é um tema desconfortável para Lula e seus aliados. Será um dos grandes pontos da próxima eleição. É uma área na qual a distribuição de bolsas e auxílios não exerce o menor impacto na resolução de problemas. É uma área onde o governo precisa mostrar que é competente e inovador. Tudo que tem faltado ao petismo.
Precisando de algo a mostrar, Lula e seu governo elegeram a PEC da Segurança Pública, que estava engavetada na Câmara, com a grande arma contra o crime. Os governistas também tiraram da gaveta uma CPI. Pura embromação.
O jogo dos burocratas em Brasília, que encenam um combate ao crime organizado por meio de novas leis, é algo batido e amplamente rejeitado pelos eleitores nas pesquisas.
Conectada com o sentimento da sociedade, a oposição criou uma frente de governos estaduais para promover políticas de segurança pública efetivas contra a criminalidade. Além de sair das cordas e se libertar de Bolsonaro, a direita agora tem uma forte bandeira eleitoral para apresentar ao país.
Resta saber por quanto tempo o clã Bolsonaro permitirá que as discussões sobre segurança pública sigam sem a velha ladainha da anistia. A semana foi boa para a direita, mas os ventos viram rapidamente em Brasília.
Nos próximos dias, os Estados Unidos podem suspender o tarifaço imposto ao Brasil dando a Lula novamente protagonismo nacional.
A prisão de Bolsonaro, prevista para as próximas semanas, também pode tirar o foco da oposição e beneficiar o petismo. As cartas estão na mesa.
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