Em meio aos ataques na Esplanada dos ministérios, o presidente Michel Temer convocou nesta quarta-feira as Forças Armadas para conter atos de vandalismo em protestos contra o peemedebista, em Brasília. Esta é a segunda vez que um presidente da República recorre a uma ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) contra manifestações violentas desde 1999, quando entrou em vigor a lei que regulamenta o emprego das Forças Armadas, segundo o Ministério da Defesa. A primeira ocorreu em atos marcados contra o leilão do Campo de Libra, o primeiro do pré-sal a ser oferecido para a iniciativa privada, em 20 de outubro de 2013, no Rio de Janeiro.
O dispositivo já foi acionado em outras ocasiões na capital federal, mas apenas para fazer a segurança de encontros da cúpula do BRIC e do Mercosul, da Copa do Mundo e Olimpíadas, das eleições e da visita do então presidente americano Barack Obama, em 2011. Nunca em casos específicos de protestos. De acordo com a legislação, as ações de Garantia da Lei e Ordem ocorrem apenas em situações nas quais há “o esgotamento das forças tradicionais de segurança pública, em graves situações de perturbação da ordem”.
Em comunicado às lideranças do Congresso, o Planalto informou que a ação já “foi utilizada por diversas vezes, em diversos estados da federação, atendendo pleitos dos senhores governadores. Mencionam-se os Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pernambuco, Amazonas e Rio Grande do Norte”. O governo Temer só não disse que, nesses locais, as Forças Armadas foram usadas para reprimir a ação de organizações criminosas em decorrência do descontrole do sistema prisional ou de greve da Polícia Militar. E não para reprimir vândalos. O governo frisou que a ação tem a “única intenção de garantir uma manifestação pacífica e não destrutiva”.
Em 20 de junho de 2013, num episódio que guarda semelhanças com o que aconteceu hoje, manifestantes tentaram invadir o Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, depois de não conseguir entrar nas dependências do Congresso. Mascarados chegaram a quebrar vidraças e a atear fogo em objetos. Na ocasião, a presidente Dilma Rousseff poderia ter recorrido às Forças Armadas, mas não o fez. Quem atuou na repressão à depredação foi a Polícia Militar e fuzileiros da Marinha, que já protegem o prédio do Itamaraty.
As Forças Armadas são tratadas como último recurso. Antes dela, recorre-se à Força Nacional, constituída por policiais de diferentes Estados que recebem treinamento especial e são empregados em situações de emergência. No anúncio da medida, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que o pedido pelas tropas militares foi feito pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Maia, no entanto, desmentiu o ministro: “Quero deixar claro que meu pedido ao governo foi do apoio da Força Nacional. A decisão tomada pelo governo certamente tem relação com aquilo que o governo entendeu relevante para garantir a segurança tanto dos manifestantes como daqueles que trabalham na Esplanada”.
A Secretaria de Comunicação do Planalto informou, em nota, que decidiu pelo uso dos militares após constatar que não havia efetivo suficiente da Força Nacional em Brasília.
O instrumento usado por Temer é assegurado pela Lei Complementar 97 de 1999 e pelo artigo 142 da Constituição. Conforme o decreto desta quarta-feira, 1.300 homens do Exército e 200 fuzileiros navais irão fazer a segurança dos prédios da Esplanada dos Ministérios até o dia 31 de maio. Segundo a Defesa, a atuação dos militares se restringe à segurança dos prédios públicos. Se ocorrer, por exemplo, atos de vandalismo no gramado da Esplanada, quem deverá agir é a Polícia Militar.