Para detentos, agentes não controlam presídio em Goiás
Durante vistoria de emergência, presos não admitiram a existência de facções; rebelião teria ocorrido por causa da morte de um interno no ano passado
Detentos do presídio de Aparecida de Goiânia, em Goiás, onde nove pessoas foram assassinadas no dia 1º, relataram nesta quarta-feira a autoridades do Poder Judiciário e do Ministério Público que os agentes não têm controle sobre a cadeia. As afirmações foram feitas durante vistoria de urgência determinada pela ministra Cármen Lúcia, presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Juízes e promotores de presos que esse controle pertence a internos das alas B e C, os que entraram em choque e cometeram os assassinatos. A inspeção contou com as presenças do desembargador Gilberto Marques Filho, presidente do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), do procurador-geral de Justiça do estado, Benedito Torres Neto, e do superintendente de Administração Penitenciária, coronel Edson Costa Araújo.
Três detentos da ala C disseram desconhecer o motivo do ataque, mas reconheceram disputa entre grupos. Para as autoridades, não admitiram a existência de facções, e falaram em descontentamento com a superlotação do local e a demora na análise de processos. Outros três homens, da ala D, confirmaram a tensão pela superlotação e falaram de problemas recorrentes de falta de água e energia.
Sobre as mortes, narraram que “tudo começou com uma ala atacando a outra”. Disseram ainda que as duas alas “disputam o comando da cadeia e há duas facções por trás, mas não as nominaram”. A suspeita é de disputa entre Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).
Os detentos disseram ainda que muitos colegas fugiram por medo ao escutarem tiros, mas “que muitos querem cumprir a pena”. “Insistiram no medo e contaram que sequer conseguem dormir, pois não fazem parte de disputas, mas temem ser atacados a qualquer momento”, descreve a inspeção.
A iniciativa terminou com a sugestão de uma força-tarefa para analisar processos de presos. O governador do estado, Marconi Perillo (PSDB), telefonou para Cármen Lucia, para agradecer a interferência dela, e reclamou tanto do Judiciário de Goiás quanto do governo federal. Segundo ele, a ministra pensa em ir pessoalmente ao Estado.
Em nota no site da secretaria, o coronel Edson Costa disse que os presos informaram que “a rebelião é consequência da morte de Thiago César de Souza (o Thiago Topete), em fevereiro do ano passado”. A pasta, em nota oficial, admite problemas estruturais e cobra “sensibilidade” do governo federal para obter mais recursos.