O que diz Federal de Viçosa sobre professor acusado de abusos sexuais
Onze alunas e ex-alunas da universidade denunciaram prestigiado docente por crimes que vão de abuso de poder, violência física, assédio a estupro
Em silêncio desde de 2019, quando foi aberta uma sindicância interna que se desdobrou em um Processo Administrativo Disciplinar, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) se viu obrigada agora dar uma satisfação a seus estudantes e professores sobre a sucessão de denúncias que recaem sobre um prestigiado docente. Diante da enxurrada de críticas por omissão que vem recebendo, sobretudo nas redes sociais, a direção da instituição publicou uma nota de esclarecimento sobre a investigação que se arrasta há três anos em torno das denúncias de crimes que teriam sido cometidos pelo professor do Departamento de Letras Edson Ferreira Martins, de 43 anos. Ele é acusado por onze alunas e ex-alunas de, entre outros, abuso de poder, violência física, assédio moral e sexual e até estupro.
O caso foi revelado por VEJA na edição desta semana com base em um documento de 870 páginas, ao qual a reportagem teve acesso. Nele, as onze jovens que motivaram o processo interno na UFV, situada na Zona da Mata mineira, relatam com riqueza de detalhes os abusos dos quais afirmam ser vítimas, umas recentemente, outras até uma década atrás. Na nota divulgada pela universidade, ela esclarece que “A comissão responsável finalizou a fase de instrução processual e, em breve, após análise das provas que foram reunidas e dos argumentos da defesa, indicará se haverá ou não o indiciamento”.
A instituição ainda informa que encaminhou a denúncia contra Martins ao Ministério Público Federal em 2019. E ressalta: “A UFV jamais se omitirá diante da necessidade de apuração e investigação de quaisquer fatos que, nas dependências dos campi universitários, atentem contra os princípios que regem a gestão pública”, afirma o texto publicado no seu site.
A universidade, por meio da sua Divisão de Divulgação Institucional, ainda afirmou nesta terça-feira, 4, que não se silenciou diante das denúncias contra o docente. “A universidade tomou todas as medidas cabíveis a ela, inclusive notificando o Ministério Público Federal, e segue apurando o caso. A UFV não se manifestou publicamente antes porque o processo encontra-se protegido por sigilo legal e a integridade de todos os interessados deve ser respeitada”, informou a divisão. E acrescentou que como o caso veio a público “viu a necessidade de esclarecer que apura o caso com o máximo rigor e seriedade, respeitando os princípios constitucionais que garantem o devido processo legal”.
Em meio as investigações das denúncias contra o professor Edson Ferreira Martins, pós-doutor em estudos clássicos com especialidade em Machado de Assis, a reportagem verificou que o docente foi promovido pela UFV. Passou de nível 1 para 2, em 19 de setembro de 2021. As acusações feitas pelas estudantes traçam um perfil de Martins com um modus operandi muito peculiar. Segundo relato das vítimas, ele se valia do poder do cargo e da admiração intelectual que inspirava para se aproximar e seduzir as moças, especialmente calouras. “Edson me deu de tudo para beber — vinho, cerveja, vodca. Fiquei sem capacidade de discernir, vulnerável, e ele me estuprou. Ele me atormentou até meu último dia em Viçosa. Entrei em depressão e perdi 7 quilos. Dez anos depois, ainda faço terapia”, conta uma das ex-alunas, de 28 anos. “Estávamos conversando, eu discordei da opinião dele e, do nada, ele explodiu, aos gritos. Enquanto eu chorava e tremia, Edson veio para cima de mim para fazer sexo. Não reagi por medo. Me senti suja e humilhada por muito tempo”, diz outra vítima, de 30 anos.
Veja na íntegra o texto da Universidade Federal de Viçosa:
“A UFV se dirige à comunidade universitária para prestar informações e esclarecimentos sobre a notícia, divulgada na revista Veja, na última sexta-feira (30), de um docente acusado de crimes sexuais por alunas e ex-alunas da instituição. A Universidade esclarece que o processo administrativo disciplinar que apura as denúncias contra o professor está em andamento no âmbito da Unidade Seccional de Correição da UFV, encontrando-se protegido pelo sigilo legal. As informações dos autos apresentadas pela revista não foram transmitidas pela Universidade, que apura o caso com o máximo rigor e seriedade. A comissão responsável finalizou a fase de instrução processual e, em breve, após análise das provas que foram reunidas e dos argumentos da defesa, indicará se haverá ou não o indiciamento. Além disso, a UFV encaminhou a denúncia ao Ministério Público Federal em 29 de outubro de 2019, assim que a Reitoria teve ciência do parecer resultante da sindicância que precedeu o processo administrativo disciplinar. A UFV jamais se omitirá diante da necessidade de apuração e investigação de quaisquer fatos que, nas dependências dos campi universitários, atentem contra os princípios que regem a gestão pública. Dessa forma, não nos desviaremos das condutas inerentes à boa governança, dentre as quais é necessário destacar o absoluto respeito aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, pois sem o devido processo legal não pode existir democracia.”