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O líder do governo Lula no diálogo com evangélicos

Evangélico sob influência da mãe, o advogado-geral da União, Jorge Messias, tem conversado semanalmente com a ala religiosa da Câmara

Por Lucas Mathias 19 jul 2023, 13h32
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  • Escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para representá-lo há pouco mais de um mês na Marcha pra Jesus em São Paulo, o advogado-geral da União, Jorge Messias, tem atuado como o principal elo do governo com os evangélicos do Congresso. O papel terá importância ainda maior a partir do dia 2 de agosto, quando a bancada evangélica da Câmara terá novo líder, o deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), mais aberto a um diálogo com o Planalto que seu antecessor, Eli Borges (PL-TO). 

    Evangélico por influência da mãe, que frequenta a Igreja Batista, Messias é religioso e tem o hábito de citar passagens bíblicas em suas falas. No discurso de posse na AGU, em janeiro deste ano, por exemplo, ele escolheu trecho do evangelho de Matheus: “Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”, finaliza o texto, que trata sobre solidariedade. A relação com a religião e o alinhamento com o governo fizeram com que o ministro, naturalmente, ganhasse o papel da articulação com os evangélicos, em meio a uma preocupação por retomar o contato com o segmento. 

    Para o trato político com a ala religiosa do Legislativo, sua estratégia é um diálogo constante, de modo a entender quais são suas necessidades. Messias tem conversado semanalmente com líderes evangélicos em igrejas, nas instalações do governo e da Câmara. Na sede da AGU, não é incomum que reuniões no dia a dia do ministro desemboquem no tema religioso. 

    Um dos personagens frequentes desses encontros é o ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica, ligado à Assembleia de Deus Madureira, deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP). A VEJA, o parlamentar disse que “já esteve com o governo diversas vezes”, “praticamente toda semana”, nas figuras do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e de Messias. Foi ele quem também estava ao lado do advogado-geral da União na Marcha pra Jesus, quando Messias foi vaiado em seu discurso ao citar o presidente Lula. Lá, o AGU foi apresentado por Cezinha a Estevam Hernandes, líder neopentecostal e fundador da Igreja Apostólica Renascer, além de presidente da marcha. 

    Para Cezinha, o papel do parlamentar “não é de arrumar briga ou fazer oposição” ao governo. “É papel dialogar, conversar e impedir o avanço de pautas ruins à nossa sociedade, que é em sua maioria conservadora”, diz. Filiado ao PSD, que tem votado junto com o governo, ele defende que a frente parlamentar evangélica é temática e, por isso, deve tomar posição apenas nos casos que interferem diretamente nos valores cristãos. Quem critica essa postura, para ele, o faz porque “quer lacrar”. 

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    Racha na bancada

    Para interlocutores de Messias, o deputado é visto como o principal elo, hoje, do governo com a bancada evangélica, e deve ter papel relevante neste segundo semestre. Conforme combinado no início deste ano, o bloco terá revezamento em seu comando até o fim de 2024. Até então, era liderado por Eli Borges, que agora passa a bola para Silas Câmara, presidente até o final deste ano. 

    Também ligado à Assembleia de Deus, Câmara já presidiu a bancada evangélica no passado e tem feito acenos ao governo Lula desde o início do ano. Ele também já conversou com Messias, e há a esperança de que o diálogo com os evangélicos seja mais amigável nos próximos meses. 

    A possibilidade, contudo, tem gerado conflitos dentro da própria bancada. Uma das bases mais fiéis ao ex-presidente Jair Bolsonaro durante seu mandato, a bancada evangélica ainda tem muitos bolsonaristas e integrantes filiados ao PL, partido de Bolsonaro. É o caso de outro deputado que já liderou a frente parlamentar, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). 

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    Presente, em fevereiro deste ano, no acordo que definiu revezamento na presidência da bancada, Sóstenes faz questão de marcar oposição ao governo Lula e diz que, mesmo com a mudança no comando, “o divórcio continua”. “O que determina a posição é a relação do governo com o segmento. É impossível conversar com o governo de esquerda, que vai contra os valores cristãos”, afirma. 

    Sóstenes lista, ainda, dez decretos editados pelo governo federal, em março deste ano, que justificam por que, segundo ele, para os evangélicos, o “Lula 3 é pior que os outros dois governos do presidente”. Entre os temas, estão documentos que citam termos como a “transversalidade de gênero” e que direcionam políticas públicas para “mulheres trans, travestis e outras possibilidades do gênero feminino”, além de medidas que buscam “igualdade de gênero” – pautas que, para o deputado, ferem os valores cristãos.

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