‘Nunca um governo dispensou tanta atenção aos indígenas’, diz Bolsonaro
Após situação de emergência sanitária em terras ianomâmis, ex-presidente usou redes sociais para tentar se descolar da crise
Diante da crise humanitária na Terra Indígena Yanomami, alvo recente de uma declaração de emergência de saúde pública por parte do governo Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou neste sábado, 28, se descolar da situação de absoluto descaso do governo federal em relação à população indígena e usou as redes sociais para afirmar que “nunca um governo dispensou tanta atenção e meios aos indígenas como Jair Bolsonaro”. A declaração ocorre após imagens de ianomâmis com quadros de desnutrição severa terem corrido o mundo e escancarado os efeitos da presença recorde de garimpeiros em índices de mortes de crianças, contaminações por malária e subnutrição. O ex-mandatário não teceu maiores considerações sobre o pandemônio sanitário, e se limitou a publicar o relatório final da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que, em 2008, investigou situações de subnutrição entre crianças indígenas, insinuando que os problemas decorrem de anos.
Conforme mostra a edição de VEJA que chega neste fim de semana às bancas e plataformas digitais, pelo menos desde 2019 entidades alertavam o governo federal sobre a situação dos ianomâmis. Sucessivos avisos de organizações não-governamentais e mesmo decisões judiciais foram ignoradas. Na quarta-feira a Polícia Federal abriu inquérito para apurar a prática de crime de genocídio contra os indígenas. A investigação do caso também estará centrada em suspeitas de omissão de socorro, desvio de medicamentos e de vacinas durante a pandemia e crimes ambientais.
No ano passado, o Ministério Público identificou um esquema de corrupção que desviou pelo menos 3 milhões de reais em medicamentos destinados aos ianomâmis. Há suspeitas de participação de funcionários do Ministério da Saúde. Em paralelo, órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU) analisam se o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga e a ex-chefe da pasta de Direitos Humanos Damares Alves também podem ser responsabilizados. Os dois, ao lado dos ex-presidentes da Funai (Fundação Nacional do Índio) Franklimberg Ribeiro de Freitas e Marcelo Augusto Xavier da Silva, são alvos de um pedido do PT para serem investigados criminalmente.