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Novo abrigo para moradores de rua de SP tem canil e funciona 24h

O primeiro Centro Temporário de Acolhimento (CTA) para moradores de rua da gestão Doria terá capacidade para 164 pessoas, com acolhimento 24 horas e canil

Por Da Redação
Atualizado em 10 Maio 2017, 16h19 - Publicado em 10 Maio 2017, 16h13

A prefeitura de São Paulo inaugurou no fim da manhã desta quarta-feira o primeiro Centro Temporário de Acolhimento (CTA) para moradores de rua da gestão do prefeito João Doria (PSDB), na Radial Leste, na região do Brás, centro da capital paulista. Entre as novidades estão o acolhimento 24 horas, garagem para carroças e canil. Quem chegar com seus animais de estimação poderá deixá-los em onze baias com acesso a comida e água.

A administração municipal promete entregar pelo menos nove centros 24 horas até o final deste ano. O local foi construído para atrair moradores de rua, que queixam-se de horários restritos, presença de percevejos e falta de espaço para abrigar os cães em outros albergues municipais. Para a instalação dos próximos equipamentos, há quatro regiões no radar: Santo Amaro, na zona sul; Canindé, na região central; Parque da Juventude, na zona norte; e Vila Leopoldina, na zona oeste.

O CTA do Brás foi inaugurado ainda sem a conclusão do canil, que poderá receber onze cães a partir do fim de maio. Já foram recebidas doações de camas, rações e potes. O atendimento dos animais ficará sob a responsabilidade dos voluntários indicados pelas ONGs parceiras que ajudaram no planejamento do espaço durante o projeto.

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Ração no Centro Temporário de Acolhimento (CTA)
Materiais para cachorros arrecadados em parcerias público-privadas no Centro Temporário de Acolhimento (CTA) (Leon Rodrigues/Divulgação)

Percevejos

Marcelo Gomes, de 45 anos, mora há três anos na rua. Hoje, passeia pela região da Mooca, na zona leste da cidade, com dois cachorros. Ele diz que, tendo canil e curso, parte dos problemas práticos está resolvido. Há, no entanto, o aspecto pessoal. “Não me sinto bem”, afirma.

“Eles fazem um albergue e querem que a gente vá de qualquer jeito, seguindo as regras deles. Mas, por exemplo, estou fazendo curso de Informática e de DJ. Inclusive, sou o MC Zói e os Dogs, sabia? Mas quem vai me contratar pela experiência que tenho?”

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Um rapaz de 27 anos, que pede para não ser identificado, está abrigado em um centro de acolhida na região central e mostra para a reportagem os braços, o pescoço e as costas povoados de caroços. Segundo ele, foram causados por percevejos. Vários moradores de rua fizeram a mesma queixa e relatam que “é horrível” dormir com a coceira.

Na última segunda-feira, o jovem conseguiu um emprego por meio do programa Trabalho Novo, parceria da gestão Doria com empresas. “Um dia, quero trabalhar como assistente social para ver se as coisas melhoram. Porque, para a sociedade, nós somos lixo. Aliás, somos tratados como lixo. Passa um guarda-civil metropolitano e diz: ‘Ei, lixo, levanta daí'”, afirma.

Já a travesti Paola Richelly, de 29 anos, cinco na rua, acha que a sensibilidade dos funcionários no trato com os moradores pode ser melhor. “É difícil. Tem que ter coragem para enfrentar o preconceito. E, além disso, eles dão um espaço que é novo e acham que você precisa estar à vontade, que você vai se acostumar com aquele ambiente. Mas não é simples assim”, explica Paola.

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Restrição de horário

Para Daniel Guerra, de 33 anos, o cenário de um abrigo “dá até medo” e “parece cadeia”. Daniel aponta como um dos principais problemas dos abrigos a limitação de horário de entrada e de saída para quem quer fazer pernoite. “Quem trabalha à noite, por exemplo, como faz para dormir durante o dia se os abrigos só recebem a partir do fim da tarde?”, questionou.

O secretário municipal da Assistência Social e do Desenvolvimento, Filipe Sabará, explica que há convênios com centros de acolhida em dois modelos: de 16 horas e 24 horas.

A gestão Doria avalia estratégias para unificar os centros de acolhida no horário ininterrupto. “Estamos trabalhando para que todos sejam 24 horas. Mas nem todos podem ser 24 horas por questão de espaço físico e de vagas de cama”, explicou.

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Sabará diz que há um estudo em andamento na pasta para calcular o impacto econômico de aditamento do contrato que estenderia de 16 para 24 horas o horário de funcionamento dos equipamentos. Também sob análise da secretaria está a necessidade de reforma em cada albergue, já que alguns estão em excelente estado e outros, não. Ele cita um equipamento em Santo Amaro, na zona sul, e o Complexo Prates, na Luz, no centro.

“Uns na periferia estão em uma situação não muito boa. Em Santo Amaro, tem um que vai passar por reforma. O Prates teve problema de um prédio ceder e vai passar por uma reforma mais intensa. Os outros só vão passar por pintura”, disse. A Prefeitura avalia ainda quais antigos abrigos com espaço suficiente para receber canis.

Primeiro CTA

O albergue inaugurado nesta quarta terá capacidade para 164 pessoas: 102 homens e 62 mulheres, incluindo os quatro leitos para pessoas com mobilidade reduzida. Embora tenha o nome “temporário”, o CTA não tem tempo de permanência fixo.

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“Temos essa sequência de anos onde o que vem acontecendo é que as pessoas acabam ficando nos centros. O nome é centro temporário de acolhida para reforçar que é temporário. É de passagem”, explica Sabará. “Estamos focando no desenvolvimento social, por isso que as pessoas estão no treinamento de qualificação socioemocional.”

Por uma semana, das 9h às 16h, os moradores têm curso de profissionalização para ocupar as 10.020 vagas de emprego do programa Trabalho Novo. Atualmente, participam do projeto mais de 20 empresas, dos ramos alimentício ao farmacêutico, tendo contratado 477 moradores de rua. Até o fim de 2017, a expectativa da Prefeitura é obter 20 mil vagas de trabalho.

(Com Estadão Conteúdo)

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