Salário menor, maior informalidade e menor participação no mercado: apesar de as mulheres, especialmente a partir dos 15 anos, frequentarem mais a escola que homens e terem em média um nível maior de escolaridade, elas seguem em desvantagem quando o assunto é trabalho. As informações são do estudo Estatísticas de Gênero, divulgado nesta sexta-feira, 8, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um dos motivos para isso, conforme mostram os dados, é que essa fatia da população ainda dedica muito mais tempo (21,3 horas semanas) que os homens (11,7 horas) a afazeres domésticos ou ao cuidado de pessoas, cenário que se torna ainda mais comprometedor entre mulheres pretas e pardas.
A frequência escolar das mulheres supera cada vez mais a dos homens, conforme passam os anos. De acordo com o IBGE, na faixa de 15 a 17 anos, 92,5% das adolescentes estudam, ante 91,9% dos jovens. Já entre aqueles que têm de 18 a 24 anos, as proporções são de 32,6% para as mulheres e 28,1% para os homens. Mais uma vez, no entanto, o recorte racial é fator de peso: nessa mesma faixa etária, por exemplo, 39,7% das brancas de 18 a 24 anos estudam, enquanto entre pretas e pardas essa proporção cai para 27,9% — o que se repete também em outros indicadores. O cenário é ainda pior, nesse caso, entre homens pretos e pardos: apenas 24,6% frequentam instituições de ensino nesse momento da vida.
Ao mostrar que as mulheres têm ainda maior escolaridade, o Censo volta a reforçar o cenário desigual em relação aos homens no mercado de trabalho. A partir dos 25 anos, por exemplo, o percentual de homens que não têm instrução ou não concluíram o ensino fundamental é de 35,5%. Entre elas, tal proporção é menor: 32,7%. Já as trabalhadoras que têm nível superior completo nessa faixa etária são 21,3%, ante apenas 16,8% entre eles. E, mais uma vez, o recorte racial escancara quem são os mais prejudicados: entre as mulheres, 29% das brancas completaram esse grau de ensino, enquanto entre as pretas e pardas o percentual cai para 14,7%; já os homens pretos que se formaram em universidades são somente 10,3%, menos da metade do registrado pelos brancos (24,9%).
Mas a vantagem na escolaridade não se reflete em vantagem no mercado de trabalho para elas. O rendimento das mulheres, segundo o Censo, equivale a 78,9% do que recebem os homens. É fato, contudo, que a distância tem diminuído: em 2012, o início da série histórica, trabalhadoras recebiam 75,4% do que ganhavam eles. Houve uma redução na diferença, portanto, de 3,5 pontos percentuais em dez anos, já que os dados correspondem ao levantamento feito em 2022.
A desigualdade salarial volta a aumentar, porém, quando tratamos de cargos em posição mais elevada na hierarquia. No grupo de diretores e gerentes, que apresenta os maiores rendimentos médios do país, elas recebem 73,9% do recebido pelos homens. O cenário só se inverte em mercados específicos, como entre os membros das Forças Armadas, policiais e bombeiros. Nesse caso, elas recebem, em média, mais do que eles (109,0%). “Isso se explica por estarem mais presentes em postos de comando e carreiras especializadas, como médicas e arquitetas”, diz o analista do instituto, Leonardo Athias.
Mas, no geral, em carreiras no setor público, o problema é acentuado, segundo estudo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), realizado em 2022. Na Justiça estadual, a participação de magistradas é de 38,0%; na Justiça federal, de 31,0%; e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), de apenas 23,0%. Na administração pública federal, segundo dados do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, a participação feminina é de 30,7% nos cargos e funções mais elevados.