Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Morre em SP o ex-governador Orestes Quércia, 72 anos

Peemedebista sofria de câncer de próstata e abandonou as últimas eleições

Por Da Redação
24 dez 2010, 08h32

Empresário do ramo do café e das telecomunicações – e alvo de várias suspeitas graves de corrupção -, Orestes Quércia acumulou fortuna durante sua carreira pública e de administrador privado. À Justiça Eleitoral, declarou possuir patrimônio avaliado em 117,479 milhões de reais, entre empresas e propriedades

O ex-governador Orestes Quércia (PMDB-SP), figura controversa e influente de um dos principais partidos políticos do país, morreu na manhã desta sexta-feira, em São Paulo. Ele estava internado no Hospital Sírio Libanês desde o dia 18 de novembro para tratar um câncer de próstata. Quércia tinha 72 anos. Segundo a assessoria de imprensa do hospital, a morte ocorreu em decorrência de complicações causadas pela doença, que foi detectada no mês de setembro deste ano. Durante o período eleitoral, Quércia passou 36 dias internado. Ele será velado no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo.

Ao longo de toda a internação, a pedido da família de Quércia, não foram divulgados boletins médicos sobre o estado de saúde do político. Segundo informações do hospital, o câncer que causou a morte de Quércia é uma recidiva de um tumor que o político já havia tratado há mais de dez anos. No início do tratamento, em setembro, Quércia chegou a afirmar em entrevistas que a doença havia sido descoberta precocemente. Quércia desistiu de concorrer ao Senado nas eleições deste ano por causa da doença. Ele era candidato pela coligação de Geraldo Alckmin (PSDB). Com a saída de Quércia, o governador eleito passou a apoiar o tucano Aloysio Nunes, que foi eleito.

Trajetória – Jornalista, advogado e administrador de empresas por formação, Orestes Quércia nasceu em Pedregulho, interior de São Paulo, em agosto de 1938, e começou sua carreira pública em 1962, quando foi eleito vereador em Campinas pelo Partido Libertador. Com a instauração do regime militar em 1964, Quércia se filiou ao MDB – o único partido de oposição aceito no período da ditadura. Pelo MDB, ele foi eleito deputado estadual em 1966 e prefeito de Campinas em 1968.

Continua após a publicidade

Quércia foi o grande responsável pela expansão do MDB em São Paulo, ao mesmo tempo em que se posicionava como crítico parcimonioso da ditadura militar, sobretudo a do general Ernesto Geisel. Em 1977, diante de acusações de corrupção na prefeitura de Campinas, houve rumores de que Quércia poderia ser cassado pelo AI-5 – fato que não se consumou devido à ausência de provas. Nos anos 80, com a volta do pluripartidarismo, Quércia foi um dos fundadores do PMDB e presidiu o partido entre 1991 e 1993, quando renunciou à presidência devido a uma década de sucessivas denúncias de corrupção.

Foi também responsável pela expansão do PMDB no interior, criando trezentos diretórios municipais do partido. Em 1982 foi eleito vice-governador de São Paulo durante a eleição do governador Franco Montoro. Em 1986, conseguiu ser eleito para o governo de São Paulo – cargo que ocupou até 1991. Polêmico, arrumava brigas por criticar publicamente políticos peemedebistas ligados ao governo. Também quis impedir a então nomeação do deputado federal Mário Covas para disputar a prefeitura de São Paulo em 1983 e a eleição do senador Fernando Henrique Cardoso à presidência do diretório estadual do PMDB naquele mesmo ano.

Divisão – Além das brigas políticas em São Paulo, as denúncias de corrupção criaram um racha dentro do PMDB – sobretudo nas lideranças paulistas. Os políticos contrários a Quércia, como Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e José Serra, entre muitos outros, abandonaram o PMDB para fundar, no final dos anos 1980, o PSDB. Sob o comando de Quércia, o PMDB paulista (sobretudo na capital) sempre se opôs ao PSDB. Em 2002, Quércia apoiou o então pré-candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva, após declarações de Lula sobre a inexistência de provas sobre corrupção nos antigos mandatos do político.

Continua após a publicidade

A aliança não durou muito devido à insatisfação de Quércia com o espaço dado ao PMDB paulista no governo. Assim, em 2008, o político rompeu com o presidente Lula e passou a liderar a oposição do PMDB em São Paulo, apoiando José Serra. Tal aliança causou surpresa, pois reuniu em um mesmo palanque duas décadas de brigas políticas. Empresário do ramo do café e das telecomunicações, Quércia acumulou fortuna durante sua carreira pública e de administrador privado. Em sua declaração de bens à Justiça Eleitoral em 2010, o empresário declarou possuir patrimônio avaliado em 117,479 milhões de reais, entre empresas, propriedades imobiliárias e rurais.

Leia no blog do Reinaldo Azevedo:

O homem que teve um papel sem dúvida importante no processo de redemocratização – não se conhece um só flerte seu com teses autoritárias – deixou, no entanto, um passivo ético considerável. O que a história e suas ironias nos mostram? Morreu na manhã deste 24 de dezembro de 2010 um amador nas artes em que o PT se tornou especialista juramentado – e, nesse particular, nem um nem outro merecem perdão. Quércia, ao menos, nunca flertou com teses autoritárias. O mesmo não se pode dizer sobre os petistas.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.