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Lula e apoiadores tentam fazer da Bluesky uma ‘trincheira’ da esquerda

Na esteira da crise com Elon Musk, a diáspora governista em direção à rede social arrasta muita gente

Por Bruno Caniato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 16h45 - Publicado em 21 abr 2024, 08h00

Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se o primeiro chefe de Estado do mundo a ter uma conta oficial no Bluesky, rede social que vem ganhando popularidade no país e que virou uma espécie de refúgio para usuários indignados com Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), e suas bravatas contra a Justiça e o governo brasileiros. Enquanto a plataforma do bilionário sul-africano atrai os aplausos da direita bolsonarista, o novo aplicativo, criado em outubro de 2021, passou a abrigar uma crescente comunidade alinhada à esquerda — a plataforma já é casa de ministros como Marina Silva e Paulo Pimenta, de perfis oficiais de ministérios, do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e do candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL).

EM ALTA - Bluesky: 100 000 usuários no Brasil em menos de duas semanas
EM ALTA - Bluesky: 100 000 usuários no Brasil em menos de duas semanas (Rafael Henrique/SOPA Images/Getty Images)

A diáspora governista em direção ao Bluesky arrastou muita gente. Desde que Musk começou a disparar contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, no dia 6, acusando-o de censura e de ter ajudado Lula a se eleger, mais de 100 000 perfis foram abertos no Bluesky. A avalanche desencadeou a transformação da rede em uma espécie de trincheira progressista. Bastam alguns minutos no aplicativo para constatar a prevalência do apoio a Lula e o repúdio ao bolsonarismo entre os usuários. O perfil do petista já tem 35 000 seguidores. Pautas ligadas à diversidade sexual, contra o racismo e pela legalização do aborto são comuns na tela principal. Em contrapartida, a direita parece não querer explorar a nova fronteira. O ex-presidente Jair Bolsonaro, campeão em seguidores entre políticos brasileiros no X, ainda não tem perfil na plataforma, tampouco seus filhos ou aliados mais próximos, todos bastante ativos no ex-Twitter.

arte Bluesky

Em muitos aspectos, a experiência da navegação no Bluesky é quase idêntica à do X. A tela inicial é composta por feeds com publicações de até 300 caracteres e é possível curtir, compartilhar e comentar textos e fotos — vídeos ainda não são suportados. A semelhança, aliás, vai além da interface: o criador do Bluesky é o bilionário Jack Dorsey, o mesmo engenheiro que, há quase vinte anos, fundou o Twitter. Enquanto Musk bate na tecla da liberdade irrestrita em sua rede, o Bluesky dá outra sinalização. “Não toleramos assédio, discurso de ódio ou desinformação”, diz a americana Jay Graber, 33 anos, que comanda a rede desde sempre (leia abaixo). A plataforma não divulga detalhes sobre as estratégias de controle de conteúdo, mas diz que conta com equipes de moderadores no Brasil, embora não tenha escritórios físicos em nenhum lugar do mundo.

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No momento em que Musk segue apontando o dedo para as instituições e inflando o bolsonarismo, o Bluesky adota outro tom: repostou a primeira manifestação de Lula e saudou o petista. “Estamos muito animados por dar as boas-vindas a ele!”, diz Graber. A recíproca da esquerda é verdadeira. “Pessoal, vamos criar uma grande resistência à tirania de Elon Musk aqui no Bluesky”, publicou o deputado Lind­bergh Farias (PT-RJ). Um dos capítulos mais recentes da crise desencadeada pelos ataques do bilionário sul-africano envolveu o movimento da Secretaria de Comunicação Social do governo, chefiada por Paulo Pimenta, que suspendeu a publicidade oficial no X. Nesse ponto, no entanto, o Bluesky não vai poder faturar com a briga. A rede é gratuita, veta anúncios e abre mão de empregar algoritmos de recomendação de conteúdo, o que inviabiliza lucrar com as mais comuns fontes de renda. Segundo a plataforma, a ferramenta para exploração de propaganda será implementada “em algum momento”.

“Não toleramos discurso de ódio”

OPORTUNIDADE - Jay Graber: de olho nos descontentes com o dono do X
OPORTUNIDADE - Jay Graber: de olho nos descontentes com o dono do X (./Reprodução)

A americana Jay Graber, de 33 anos, dirige o Bluesky desde o seu início, em 2021. Seu nome de batismo é Lantian, dado pela mãe, que viveu na China (em mandarim, significa “céu azul”, como a rede que ajudou a criar). A VEJA, Graber falou sobre o crescimento do negócio por aqui nas últimas semanas:

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Por que usuários do Brasil estão migrando para o Bluesky? Os brasileiros estão entre as primeiras comunidades a entrar no Bluesky em 2023, quando não tínhamos nem 20 000 usuários. Nesse ambiente mais restrito, nossa equipe se aproximou bastante deles, pois achamos o pessoal bastante dinâmico e sociável. Muitos brasileiros do início ajudaram a construir a nossa cultura com piadas e memes, e esperamos que o grupo continue a crescer.

Existem características que diferenciam a sua empresa de outras redes? O Bluesky foi construído para que a rede social se torne mais democrática. Fizemos isso para que as principais experiências sociais possam ser feitas pelos usuários.

Qual é a sua posição em relação às responsabilidades das plataformas? Acreditamos que a moderação de conteúdo é o pilar dos ambientes on-­line saudáveis. Além dessa base sólida, os usuários podem criar e incorporar camadas adicionais de moderação para ter mais controle dos seus espaços.

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Como esse tipo de moderação é feito no Brasil? Temos equipes locais para monitorar conteúdo no país, e as ferramentas de moderação possuem códigos abertos para que todos os usuários possam operá-las. Não toleramos assédio, discurso de ódio ou desinformação.

Publicado em VEJA de 19 de abril de 2024, edição nº 2889

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