O Ministério Público de Goiás (MP-GO) denunciou João Teixeira de Faria, o João de Deus, na tarde desta sexta-feira, 28, por quatro crimes, dois delitos de violação sexual mediante fraude e dois crimes de estupro de vulnerável, todos referentes a fatos ocorridos no ano de 2018.
A denúncia, a primeira desde o início das acusações de assédio contra o médium, abarcaram os relatos de dezenove possíveis vítimas. Dessas, em cinco casos o Ministério Público entendeu haver a necessidade de diligências complementares, e nos outros dez, os fatos relatados prescreveram ou decaíram, de acordo com a promotora Gabriella de Queiroz, que integra a força-tarefa do “caso de Abadiânia”, em referência à cidade onde João de Deus mantinha seu centro espiritual.
Segundo a promotora, o MP-GO levou em conta evidências apresentadas pelas acusadoras, como comprovantes de que estiveram no local nas datas alegadas e foram atendidas pessoalmente pelo médium, bem como depoimentos de pessoas próximas e até psicólogos, para quem os fatos teriam sido confidenciados ao longo dos últimos anos.
Outro elemento é a conexão entre os relatos, que repetem modelos de atuação. Gabriella de Queiroz afirmou que o órgão considerou as alegações de defesa de João de Deus “não verossímeis”.
As dez mulheres cujas acusações não poderão mais ser julgadas foram listadas na denúncia na condição de testemunhas. Dessas, oito são casos de prescrição, sendo o mais antigo um fato ocorrido em 1975,. Outros dois casos, um de 2015 e outro de maio deste ano, foram enquadrados como decadências, quando a vítima reuniria condições de prestar queixa contra o agressor, mas não o fez em um prazo de seis meses.
O MP-GO informou ter pedido à Justiça que João de Deus continue preso preventivamente e, se condenado, seja obrigado a indenizar as quatro mulheres citadas na acusação. Ele se entregou à polícia no último dia 16.
As duas acusações por violação sexual mediante fraude envolvem um atendimento em coletivo a duas mulheres. Os dois crimes de estupro de vulnerável foram resultado, segundo a promotora Gabriella de Queiroz, de atendimentos individuais. Procurado por VEJA, o advogado Alberto Toron, que defende João de Deus, não se manifestou até a publicação desta nota.
Em depoimento ao Ministério Público sobre os casos que resultaram na denúncia desta sexta, o médium afirmou não conhecer as vítimas citadas e negou as acusações. “Ele explicou pormenorizadamente aos promotores que as fotos dos locais em que, segundo as mulheres, teriam ocorrido os abusos, indicam espaços abertos, onde sempre há muita gente esperando ser atendida ou o auxiliando”, alegou o advogado Alex Neder, que acompanhou Faria durante a defesa.