Uma das autoras do pedido de impeachment que culminou na saída da presidente Dilma Rousseff, a advogada Janaína Paschoal anunciou pelo Twitter que irá “trabalhar de graça” para a gestão municipal de João Doria, em São Paulo, fiscalizando os banheiros do Parque do Ibirapuera.
Ela explicou a atividade ao site de VEJA.
Por que tomou essa iniciativa?
Neste último domingo, eu fui até o parque andar de bicicleta e precisei ir ao banheiro. Quando entrei, vi uma mãe tentando fazer a filha usar o local, mas a menina se recusava. Estava tudo tão sujo, tão largado, os cestos de lixo transbordando, o chão e as pias sujas também. A menininha estava até com ânsia de ficar naquele lugar. Eu fiquei tão indignada e falei: ‘Ah, não, eu vou começar a fiscalizar esses banheiros’. Isso é absurdo. Eu gosto muito do parque e percebi que no início do ano estava rolando uma limpeza, mas foi passar o período eleitoral e pararam de limpar regularmente. Eu sou super aficionada com limpeza e, já que frequento o parque, passarei a assumir essa responsabilidade como cidadã. O brasileiro sempre espera que alguém tome uma iniciativa, que alguém faça alguma coisa.
Fiscalizará eventualmente outros banheiros de outros parques?
Essa fiscalização é voluntária e esporádica no Ibirapuera. Tenho meus compromissos como advogada no meu escritório e como professora da Universidade de São Paulo (USP). Isso que me propus a fazer é como cidadã.
Contará o dia a dia desse trabalho no Twitter?
Com certeza. Quando eu encontrar situações absurdas como neste último domingo, certamente relatarei no Twitter. Pretendo passar isso para a prefeitura também. Não tem como um banheiro público ser como o banheiro da nossa casa, mas é importante estar minimamente limpo.
Como você recebeu as críticas que surgiram após a sua declaração? Muitos usuários do Twitter fizeram piadas e criaram memes.
Vi algumas pessoas dizendo no Twitter “Você é mesmo uma fiscal de merda”. Esse tipo de comentário mostra o quanto a pessoa vê com desprezo um trabalho fundamental que é a manutenção e a limpeza dos locais públicos. As pessoas deixam de perceber que também podem ter um papel nisso, isso é parceira com poder público. Não é demérito nenhum, é virtude.
O prefeito João Doria (PSDB) já procurou a senhora?
Ele me ligou ontem à noite e foi muito engraçado. Ficou sabendo dessa história e pediu para passar fotos dos banheiros para ele. Eu o avisei que iria ao parque nesta manhã e já encaminhei as dos banheiros. O prefeito até falou brincando sobre fazer uma nomeação, eu agradeci, mas eu não gosto dessas formalidades e o meu trabalho será de cidadã para mostrar que os cargos não são tão essenciais assim, esse será um trabalho voluntário. O trabalho voluntário é muito desvalorizado por essa mentalidade esquerdista de que quem faz isso é ‘dondoca’.
A senhora aprova o projeto “Cidade Linda” do governo Doria? Como avalia a atitude do prefeito de se vestir de gari no primeiro dia do governo?
Eu achei isso excelente e espero que ele dê seguimento a isso. Isso é a valorização do trabalho braçal. O brasileiro ainda está muito atrasado ao desvalorizar esse tipo de trabalho. Valorizar não é simplesmente pagar. Ao elogiar, mostrar a importância daqueles trabalhadores, também está valorizando. Quando o prefeito desce do pedestal, veste um uniforme de gari e sai fazendo a varrição da cidade, ele está dando um exemplo.
Por fim, à luz de janeiro de 2017, o impeachment tem se mostrado uma boa solução para o país?
Em nenhum momento falei que, tirando a presidente, os problemas políticos e econômicos do país estariam resolvidos. Muito pelo contrário, depois que levantei esse processo, muitos outros problemas surgiram. O intuito não foi tirar a presidente para acalmar os ânimos, foi tirá-la para que outros escândalos viessem à tona, afinal todos estavam se protegendo. Quando se tira a autoridade central, eles começam a se acusar e, com isso, temos chances de ver uma realidade que estava acobertada. De certa maneira, o banheiro tem ligação com o impeachment, por que mostramos que as coisas não podem continuar do jeito que estão. O impeachment foi uma chacoalhada para colocar um fim nesse conformismo.