Governo do Rio fecha exposição na Casa França-Brasil
A mostra Literatura Exposta teria no último dia encenação com críticas à ditadura militar que, após o veto, será realizada em frente ao centro histórico
A Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro suspendeu a exposição Literatura Exposta na Casa França-Brasil. A programação de domingo, 13, teria uma performance do coletivo És Uma Maluca, que tinha como tema uma crítica à tortura durante a ditadura militar.
A encenação, indicada para maiores de 18 anos, seria realizada por duas mulheres nuas interagindo com baratas de plástico que saiam de um ralo. A obra era parte de uma das instalações que estavam na Casa França e que já havia sido alterada a pedido da direção do centro histórico. Na ocasião, um áudio com discursos do presidente Bolsonaro sobre o Coronel Brilhante Ustra, considerado o líder das torturas na ditadura militar, foi substituído por uma receita de bolo.
Em nota à imprensa, o secretário de Cultura e Economia Criativa, Ruan Lira, afirmou que o cancelamento foi realizado devido a uma quebra de contrato. Segundo ele, a programação deste domingo não estaria incluída no que foi firmado com a secretaria.
“A decisão foi tomada devido ao descumprimento do contrato assinado entre as partes em 3 de julho de 2018 e que prevê o cancelamento unilateral em caso de descumprimento das obrigações estabelecidas. O referido contrato não inclui em seu objeto a programação informada para o último dia do evento. Também exige que as atividades sejam autorizadas pelo Iphan, com pedido feito com 45 dias de antecedência, o que não ocorreu – impedindo, portanto, a realização do programa agendado para este domingo”, escreveu.
Em uma publicação no Instagram, o curador da exposição, Álvaro Figueiredo, afirmou que a direção da Casa França-Brasil já sabia qual seria a programação, invalidando a justificativa dada pela Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro.
“Censura à exposição Literatura Exposta! Fecharam nossa exposição um dia antes da data oficial como forma de impedir que as performances da finissage acontecessem. Comuniquei com antecedência o teor das performances à direção da Casa, foi autorizado e ontem à noite enviaram esse comunicado. Esse é o governo que temos. A arte vai sobreviver aos ignorantes”.
Em conversa com Veja, Figueiredo afirmou que acredita ser uma decisão do governador do Rio, Wilson Witzel, e que em nenhum momento foi pedido aos artistas que declarassem o tema de cada performance. “É censura, não tenho dúvida. O contrato que recebi destaca somente a proteção do prédio da Casa França que, por ser tombado, deve preservar a estrutura de paredes e pisos. Cuidei para que as obras não afetassem em nada o centro e, assim, tivemos autorização para realizar a exposição”.
Em nota publicada no Facebook, o coletivo És Uma Maluca, divulgou que faria a encenação em frente a Casa França-Brasil em sinal de protesto. “Não vamos nos calar. Este trabalho é apenas o início de um processo que terá muitos desdobramentos e ações. Vamos realizar a performance na rua”.