Nada menos que mil moradores do Rio de Janeiro foram vitimas de balas perdidas nos últimos seis anos. A estatística faz parte de um levantamento realizado pelo Instituto Fogo Cruzado (IFC), que analisou os casos de violência na região metropolitana do estado entre 2016 e 2022. De acordo com o estudo, 229 perderam a vida, o que significa quase um quarto do total.
Para os coordenadores, o enfrentamento da polícia no combate ao crime organizado é o principal fator que contribui para o fenômeno. “A cada 10 vítimas de bala perdida, 6 são decorrência de ações ou operações policiais em locais ultra populosos e, em parte, durante os horários de pico”, explica Carlos Nhanga, coordenador regional do Fogo Cruzado.
Outros dados do IFC mostram que não há lugar seguro, já que, do total de feridos, 151 foram atingidos quando estavam no transporte público, ou em casa, em momentos de lazer. As idades das vítimas também atestam a imprevisibilidade do fenômeno. Os adultos são maioria, com 688 feridos, sendo 137 mortos, no entanto, pessoas abaixo dos 18 anos e idosos também engrossam os números: 298, com 125 mortes. Há até três casos de bebês atingidos, sendo 2 mortos e um ferido.
A permanente – porém inconstante – luta contra a violência espalha o medo e afeta diariamente a vida dos cariocas. Segundo uma pesquisa do Datafolha, 80% da população fluminense tem medo de bala perdida e 59% dos entrevistados trocaria de cidade, se pudessem.
O Instituto de Segurança Pública, autarquia governamental responsável pelo registro oficial dos dados da violência, deixou de computar as vítimas das balas perdidas há uma década. A pesquisa do IFC, contudo, revela marca assustadora já foi superada. O menino Juan Davi, 11 anos, morto na varanda de casa, em Mesquita, na Baixada Fluminense, e uma adolescente de 13 anos atingida no Humaitá, entraram para a lista das vítimas. Ambos foram atingidos durante as comemorações da virada do ano.