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Filho do governador de Mato Grosso vira alvo da PF e caso respinga no pai

Ação mira organização que abastecia garimpos em quatro estados da Amazônia, além dos crimes de lavagem de dinheiro, receptação e falsidade documental

Por Victoria Bechara Atualizado em 17 nov 2023, 08h08 - Publicado em 17 nov 2023, 06h00

A Polícia Federal e o Ibama deflagraram no último dia 8 a Operação Hermes 2, a maior ação já promovida contra o uso ilegal de mercúrio. Ela mira uma organização que abastecia garimpos em quatro estados da Amazônia, além dos crimes de lavagem de dinheiro, receptação e falsidade documental. A Justiça determinou o cumprimento de 34 mandados de busca e apreensão e o sequestro de 2,9 bilhões de reais em bens dos investigados, entre eles o empresário Luis Antonio Taveira Mendes, filho do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil). Os agentes bateram às portas de duas empresas de mineração pertencentes a Luis Antonio e o delegado responsável pelo caso chegou a pedir a prisão dele, o que foi negado pela Justiça. Dono de uma extensa lista de negócios, o empresário, no entanto, ficou proibido de mudar de endereço ou deixar o país sem autorização e o caso respingou no governador, que está no segundo mandato.

Aos 26 anos, Luis Antonio é o mais velho dos três filhos de Mauro Mendes e da primeira-dama, Virgínia. Formado em direito, ele já acumula a participação em 23 empresas, como sócio, administrador, diretor ou presidente. Ao menos quinze delas foram abertas nos últimos cinco anos. A maioria está localizada em Cuiabá, mas ele também tem interesses no Pará, Alagoas e Acre. Segundo a PF, Luis é sócio da Kin Mineração e da Mineração Aricá, alvos da Operação Hermes 2 por compra de mercúrio ilegal para garimpo de ouro.

FLAGRANTE - A Hermes em ação: agentes tentam desestruturar atividade ilegal
FLAGRANTE - A Hermes em ação: agentes tentam desestruturar atividade ilegal (Polícia Federal/.)

Luis Antonio renunciou ao cargo de diretor da Kin em março, mas uma de suas empresas ainda consta como sócia das duas mineradoras. Ele também atua no setor de construção e energia, é sócio do Azuri (um restaurante japonês famoso na capital mato-grossense), do Aragon (especializado em culinária ibérica) e da casa noturna Vozz Club. Em seu perfil no Lin­kedIn, apresenta-se apenas como diretor do Grupo Sollo, que inclui quatro companhias com capital social total de 86 milhões de reais. Uma delas, a Sollo Construções, tem dívida ativa de 16 milhões de reais com a Receita Federal, o que levou ao confisco de um jatinho da companhia. A defesa de Luis Antonio afirma que algumas das dívidas são questionadas judicialmente e que as comprovadas serão parceladas e pagas na forma estabelecida pela lei. O advogado diz ainda que Luis não é o responsável pela gestão da empresa e que o arrolamento da aeronave é um “mecanismo comum e usual” da Receita.

Apesar dessa miríade de negócios, a entrada do empresário no radar da PF e do Ibama se deu basicamente por conta do mercúrio. A PF aponta que as empresas ligadas a Luis Antonio compravam o produto do líder do esquema, Arnoldo Veggi, que trazia o metal ilegalmente da China. Foram importadas mais de 5 toneladas do produto em dois anos. Segundo um relatório policial, Arnoldo emitiu notas fiscais em 2022 simulando a venda de bolas de ferro para a Aricá, de forma a disfarçar o contrabando de mercúrio. Em mensagens, membros da organização se referiam à Aricá como “o garimpo do Mauro Mendes”.

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REI DO OURO - Valdinei Mauro: sociedade com Mauro Mendes
REI DO OURO - Valdinei Mauro: sociedade com Mauro Mendes (./Divulgação)

A investigação ainda revelou que um dos maiores compradores de mercúrio era Valdinei Mauro de Souza, bilionário conhecido como Nei Garimpeiro e velho amigo da família Mendes. O empresário e o governador adquiriram uma mineradora avaliada em 700 milhões de reais em 2014. A empresa passou a se chamar Maney, juntando as iniciais dos nomes dos dois amigos, que viraram réus por suposta fraude na compra — foram absolvidos em agosto de 2022. Uma das companhias da qual Luis Antonio é administrador, a Minerbras Mineração, usa o endereço eletrônico de Nei nos registros oficiais, apesar de o nome dele não constar no quadro societário. O garimpeiro já havia sido alvo da primeira fase da Hermes, suspeito de lucrar 33 milhões de reais com o ouro produzido com mercúrio ilegal.

Após a operação da PF, o deputado estadual Valdir Barranco (PT) estuda pedir a abertura de uma CPI para apurar o suposto envolvimento do governador no esquema de compra de mercúrio, mas admite que dificilmente a iniciativa vai prosperar. “Os parlamentares têm medo”, resigna-se. A Polícia Civil de Mato Grosso resolveu agir no caso, mas isso só reforçou as teorias de bastidores de que a família está “blindada”: foi instaurado um inquérito para apurar a conduta de cinco jornalistas que publicaram reportagens sobre Luis Antonio. O governador, por sua vez, alega que tudo não passa de uma grande armação, destinada a manchar o nome do clã. Em nota enviada à redação de VEJA, a defesa de Luis Antonio afirma que o governador abandonou mais de três décadas de vida empresarial para entrar na política, deixando a cargo do filho a administração dos negócios, com a ressalva de que ele não tem ligação direta com as empresas investigadas na Hermes, ao contrário do que diz a PF. “Portanto, ele não tem nenhuma responsabilidade sobre a suposta compra de mercúrio de forma irregular. Tudo isso está sendo demonstrado judicialmente”, afirma o texto. Somente uma investigação séria e independente poderá esclarecer agora quem está dizendo a verdade.

Publicado em VEJA de 17 de novembro de 2023, edição nº 2868

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