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Família Busca-pó: vídeos mostram como quadrilha embarcava cocaína

Na mira da Polícia Federal, gangue de tráfico internacional de drogas era chefiada por mulher considerada a "baronesa do pó"

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 set 2019, 19h46 - Publicado em 13 set 2019, 11h56

Enquanto os índices de criminalidade vem caindo no Brasil a um ritmo acelerado, o negócio das drogas continua a todo vapor. Só neste ano, de janeiro a agosto, a Receita e a Polícia Federal apreenderam mais de 35 toneladas de cocaína nos portos brasileiros, superando o recorde do ano inteiro de 2018, de 32 toneladas. Se o número representa um fortalecimento na fiscalização, também revela que a produção, a venda e o consumo do entorpecente vem aumentando ano após ano, como confirmam os últimos relatórios da ONU.

Reportagem de VEJA publicada nesta semana mostra a ascensão de uma quadrilha capitaneada pelo casal Karine Campos e Marcelo Ferreira, que é suspeito de enviar mais de 6 toneladas de cocaína para o exterior no último ano. Os dois foram alvos da Operação Alba Vírus, mas conseguiram escapar. A mesma sorte não tiveram as outras doze pessoas que pertenciam à quadrilha, entre elas Sandra de Oliveira, mãe de Karine.

Provas reunidas na investigação mostram que a carga de drogas interceptada ainda é muito menor do que o volume remetido para fora. Em fevereiro, ao seguir um ex-policial militar envolvido com o tráfico, a PF conseguiu localizar uma das bases da quadrilha em uma casa no Guarujá, onde encontrou, além de drogas e dinheiro vivo, vinte celulares escondidos no forro do teto. Nos aparelhos, haviam vídeos gravados pelos próprios criminosos escondendo drogas em contêineres que seriam embarcados para a Europa (veja abaixo).

O objetivo das gravações era mostrar onde a droga estava escondida em meio a carregamentos de madeira e carne congelada e atestar que carga milionária fora devidamente embarcada. Após o envio, os celulares deveriam ser descartados — mas os agentes os encontraram antes disso. “Eles deviam fazer isso há tanto tempo que nem se preocuparam mais em esconder o rosto nos registros”, afirmou a delegada Fabiana Lopes Salgado, responsável pela investigação.

As imagens revelam o modus operandi e foram anexadas como provas no processo. “Olha aqui já desmontamos o pallet. (…) Vai estar no segundo e no terceiro”, explica um integrante do grupo ao focar em uma carga de madeira que estava sendo desmontada. Em seguida, ele filma os tabletes coloridos colocados no meio da carga. “Colocamos o primeiro pallet, saindo com 600 peças, vamos lacrar ele agora. (…) Show, papai, vamos para o próximo”, declara, empolgado.

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Em outro vídeo, um criminoso anda em cima de uma fila de tijolos de cocaína. O integrante explica quanto havia misturado à mercadoria: “Pallet fechado, 1.168 (provavelmente, quilos), vamos fechar agora”. Em cada tablete do entorpecente, aparece o logo de uma “barra de ouro”. A comparação não é nenhum exagero, já que, conforme os cálculos da polícia, cada quilo de cocaína vale 35.000 euros no mercado europeu (quase 157.000 reais).

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Os investigadores descobriram que os contêineres “contaminados” — segundo o jargão policial — com mais de 2,3 toneladas de pasta-base de cocaína embarcaram no Porto Paranaguá em um navio com destino a Antuérpia, na Bélgica, no dia 7 de dezembro do ano passado. “A carga foi entregue no destino final sem problemas”, diz o inquérito. Para se ter uma ideia, no ano todo de 2018, as autoridades apreenderam 4,7 toneladas em Paranaguá, um pouco mais do que o dobro do que a quadrilha enviou em apenas um dia.

Família Busca-pó

De acordo com as investigações, a quadrilha era liderada por Karine de Oliveira Campos, que já havia sido investigada por tráfico de drogas em 2008, 2011 e 2015. Apesar do histórico, ela respondia aos inquéritos em liberdade e conseguiu escapar da polícia junto com o marido, Marcelo Ferreira, quando a Alba Vírus foi deflagrada. Os dois são considerados foragidos e devem ter seus nomes incluídos na lista da Interpol. “Pelo que estamos acompanhando há anos, é possível dizer que ela é a maior traficante de drogas do país. É a baronesa do pó”, disse o delegado da PF Rodrigo Motta.

Karine e Marcelo foram presos em janeiro de 2009 acusados de chefiar o tráfico nas cidades de Alagoinhas e Camaçari, no interior da Bahia. Ficaram pouco tempo na cadeia e, no decorrer dos anos, ascendeu na carreira do tráfico. Em 2018, a PF detectou carregamentos coordenados pelo casal nos portos de Santos, Navegantes, Itajaí, e Salvador que chegam a mais de 6 toneladas de cocaína.

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Há também indícios de que, antes da deflagração da operação, eles estiveram em Fortaleza e Recife possivelmente para estruturar os negócios nos portos de lá. Em endereços ligados à quadrilha, os agentes encontraram aproximadamente 31 milhões de reais em dinheiro vivo — a segunda maior apreensão em espécie da PF após  a descoberta do bunker de Geddel Vieira Lima, com 51 milhões de reais.

Os investigadores descrevem Karine como uma verdadeira gestora do tráfico. No nome de terceiros, ela mantinha duas transportadoras, com cerca de 30 caminhões circulando por rodovias que ligam a fronteira aos portos, segundo a PF. Nos últimos anos, o bando passou a contar com o empresário Eduardo Cardoso, que tinha uma importadora com sede em Madrid, na Espanha.

“Ela tinha o controle de todas as pontas do tráfico. Desde os fornecedores na Bolívia ao pessoal da Europa”, afirmou o delegado Motta. Segundo ele, Karine utilizava um sofisticado esquema de criptografia para se comunicar e era obcecada em manter-se nas sombras. O excesso de zelo, no entanto, não foi suficiente. Na casa do Guarujá, onde foram encontrados os celulares, haviam duas CNHs falsas com os nomes de Gisele e Ticiani, mas as fotos eram de Karine.

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