O ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, decidiu entregar à Comissão de Ética da Presidência da República (CEP) a gravação feita por Joesley Batista, na qual o empresário negocia o pagamento de propina de 6 milhões para o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira. O empresário gravou a fita para comprovar o pagamento. A CEP instaurou processo ético e vai ouvir a íntegra da fita e poderá pedir o afastamento do ministro do governo Michel Temer (PMDB). A próxima reunião será em janeiro.
“O gabinete do ministro Fachin comunicou à secretaria da Comissão de Ética Pública que as fitas estão vindo em sua integralidade”, disse o presidente da CEP, Mauro Menezes. Ele ouviu o trecho no qual o empresário e o ministro discutem sobre cifras, divulgado por VEJA, mas afirmou que é necessário ouvir toda a gravação. “A fita tem indícios que sugerem ter havido ali uma negociação imprópria”, disse. Segundo ele, a gravação pode corroborar a delação de Joesley Batista. A CEP havia aberto o processo ético somente com base na colaboração premiada, antes da divulgação da conversa.
No encontro com Joesley, o ministro fala sobre os pagamentos: “Eu não lembro mais a conta”, provoca o empresário. Marcos Pereira responde: “Meia cinco zero”. O ministro ressalta que já haviam se reunido cinco vezes. Joesley faz as contas da propina: “Uma… Cinco e quinhentos… Cinco vezes cinco… Cinco de quinhentos dá… Dois e quinhentos, tá”, diz Joesley, que continua somando: “Mais uma, dá mais quinhentos (…) “Três e seiscentos e cinquenta. Três seiscentos e cinquenta”. Joesley pede que o ministro inclua em suas anotações o valor do pagamento daquele dia: “Então, anota aí… Mais seiscentos e vinte”. O ministro concorda com os cálculos: “Seis, é isso aí… É isso aí”.
Joesley disse aos procuradores que pagou propina ao ministro, que é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, para conseguir um empréstimo de 2,7 bilhões de reais na Caixa Econômica Federal, ainda no governo Dilma Rousseff. Na época, o empresário foi procurado por Antônio Carlos Ferreira, vice-presidente do banco, que ocupava o cargo por indicação do PRB, o partido do ministro. Segundo Joesley, ele e o pastor se encontraram e combinaram a tramoia. A Caixa liberaria o empréstimo e, em troca, a JBS repassaria 6 milhões de reais ao pastor da Igreja Universal. A propina foi repassada em parcelas, sendo a última delas entregue nas mãos do ministro.
Na conversa, Marcos Pereira se mostra cauteloso. Em momento algum usa a palavra dinheiro: “Seiscentos e vinte ‘pessoas”. Joesley, no entanto, quer deixar claro que está falando de dinheiro e utiliza mais de uma vez a palavra “saldo”: “Três, três seiscentos e cinquenta… Mais seiscentos e vinte… Quatro duzentos e setenta”, diz Joesley. “Menos seis, dá quanto? O saldo. Um setecentos e trinta. Divide por três aí. Dividido por três… Um setecentos e trinta dividido por três”, continua Joesley. O empresário comemora: “Mais umas três vezes nós mata essa p… (se referindo à propina)!”.
Joesley ainda pergunta ao ministro se o “menino” da Caixa está firme. “O Antonio Carlos… Ele é bom, né?”, diz Joesley, fazendo referência ao vice-presidente do banco, Antonio Carlos Ferreira. “Mantivemos ele (…) Brigamos muito, né? Foi uma queda de braço com seu amigo baiano”, diz Marcos Pereira, sem esclarecer quem seria o amigo baiano. A CEP também vai receber a fita da conversa de Joesley com Antonio Carlos.