Na quarta-feira, 9, o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro deflagrou a Operação “E$quema S” que revelou desvios de 151 milhões de reais da Fecomércio-RJ, do SESC e do SENAC, para diversos escritórios de advocacia. Esses recursos teriam sido desembolsados para comprar influência em tribunais em Brasília. Entre os 26 acusados, que se tornaram réus, estão Cristiano Zanin, defensor do ex-presidente Lula, e Eduardo Martins, filho do ministro Humberto Martins, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Essa denúncia se baseou no acordo de delação premiada de Orlando Diniz, ex-presidente da Fecomércio-RJ. Em depoimentos em vídeo, obtidos por VEJA, o empresário confessou ter repassado dinheiro para diferentes bancas, sem qualquer prestação de serviço. O objetivo disso era tentar se preservar em seu cargo, ameaçado por uma disputa política e judicial.
Em um dos capítulos de sua colaboração, Diniz conta que, no início de 2012, marcou uma reunião no bar da piscina do hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, com os advogados Roberto Teixeira e Cristiano Zanin, companheiros de Lula. O empresário não queria um serviço jurídico, mas sim uma solução política para que pudesse continuar no comando da Fecomércio-RJ. Por isso, decidiu contratar pessoas próximas ao ex-presidente, que exercia influência no governo petista. Essa fatura, segundo Diniz, custou inicialmente um milhão de reais em espécie. Para o delator, ficou claro que esses recursos seriam destinados à “área política”.
Ainda de acordo com o depoimento de Diniz, Zanin também foi o responsável por indicar uma “contratação importante” em Brasília — o advogado Eduardo Martins, filho do ministro Humberto Martins, atual presidente do STJ. O jovem inexperiente de 29 anos de idade recebeu quase 40 milhões de reais para ajudar o presidente a vencer a batalha judicial no Superior Tribunal de Justiça. Esses recursos foram repassados do caixa da Fecomércio-RJ para diversos escritórios. Uma parte desses valores chegou a ser devolvida em espécie, numa “grande mala preta”, para o próprio Diniz.
O Ministério Público Federal cruzou as informações fornecidas por Diniz com quebras de sigilos bancários, fiscal e telefônico. Para os investigadores, há indícios da prática de crimes de tráfico de influência, exploração de prestígio, lavagem de dinheiro, entre outros. Os envolvidos negam a acusação do MPF. Em nota, Zanin afirmou que todos os pagamentos recebidos por seu escritório foram “processados internamente pela Fecomércio-RJ por meio de seus órgãos de administração e fiscalização e foram todos aprovados em assembleia pela entidade — com o voto dos associados”.