Escolas de samba protestam contra corte de recursos no Rio
Dirigentes ressaltam que escolas também têm creches, entre outros projetos sociais
Sambistas de diversas escolas do Rio de Janeiro se reuniram neste sábado em frente à sede administrativa da prefeitura, na Cidade Nova, região central da cidade, para protestar contra a decisão do prefeito Marcelo Crivella de cortar 50% da subvenção municipal às agremiações do grupo especial, que desfilam na Marquês de Sapucaí. Crivella informou na última segunda-feira que a outra parte dos recursos seria deslocada para a manutenção das creches conveniadas ao município. A manifestação, convocada pelas redes sociais, reuniu um número menor que o previsto — as estimativas variam de 60 a 250 pessoas — de integrantes das escolas consideradas a elite do carnaval carioca, mas também das agremiações da Série A (antigo grupo de acesso ao especial), que todo ano costumam enfrentar mais dificuldade de recursos.
O coordenador de Carnaval da Beija-Flor de Nilópolis, da Baixada Fluminense, Laíla, classificou a decisão do prefeito de demagógica e lembrou que durante a campanha eleitoral ele tinha se comprometido a manter os recursos da prefeitura para as agremiações. Laíla chamou a atenção para os projetos sociais desenvolvidos pelas escolas. “Ele está se esquecendo que dentro das escolas de samba há um trabalho social muito grande. Na Beija-Flor, a diretoria banca a creche para 1.200 crianças e não é de hoje. Temos muitas crianças necessitadas no Rio de Janeiro. Não só as das creches da prefeitura”, disse, acrescentando que as agremiações também geram empregos. “Tem muita gente que trabalha o ano inteiro no desenvolvimento do carnaval. Todo mundo tem família.”
O compositor Raphael Carvalho, um dos autores dos sambas da Imperatriz Leopoldinense, escola de Ramos, na zona norte do Rio, disse que a decisão do prefeito interfere até no trabalho dos compositores, que precisam se preparar para participar da disputa de sambas-enredo. “As escolas já estão dando enredo. Eu já peguei a sinopse da escola e vou começar a fazer o samba. Tenho que gravar. Tudo é gasto. Tanto a Liga (Liga Independente das Escolas do Estado do Rio de Janeiro-Liesa) quanto a prefeitura têm que entrar em acordo”, disse.
Para o carnavalesco Jorge Silveira, que pela primeira vez estará responsável pelo desfile de uma escola do grupo especial, a São Clemente, a prefeitura precisa entender que além das agremiações há toda uma estrutura que funciona não apenas nos dias dos desfiles da elite do Sambódromo. “Faz falta para o grupo especial, mas não podemos esquecer que faz falta para o grupo de acesso, para o grupo da Intendente Magalhães (estrada onde ocorrem os desfiles das séries B, C, D e E), para o carnaval de rua, para toda a cadeia produtiva do carnaval e para a gente poder planejar”, lembrou.
O carnavalesco Gabriel Haddad, da Acadêmicos do Cubango, escola de Niterói, que desfila na Série A, sabe bem o que é a dificuldade das escolas menores. Em 2016 estava à frente do carnaval da Acadêmicos do Sossego, que naquele ano conquistou o campeonato na Série B e ganhou o direito de desfilar pela Série A, na Passarela do Samba, na Marquês de Sapucaí. Gabriel Haddad disse que a ameaça de cortes da prefeitura atinge também essas escolas, para as quais qualquer centavo faz diferença. “A gente desfila na Marquês de Sapucaí na sexta e no sábado e, muitas vezes, o interesse privado é menor. As escolas do grupo de acesso dependem muito mais dos recursos públicos”, afirmou.
Para a professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Mairce Araújo, que desfila na ala de baianas da Mangueira, houve pouco tempo para a convocação e o importante é que ficou evidente o descontentamento com a decisão da prefeitura. “Para mim, este movimento está bastante representativo. Nós vivemos um momento onde todo mundo está sofrendo muito com os ataques aos direitos que a gente vai perdendo, mas as respostas estão vindo”.
Depois da polêmica causada pela declaração de Crivella na segunda-feira passada, a prefeitura garantiu que o corte para destinar esses recursos às creches mantidas pela administração municipal, não significa que as escolas de samba ficarão sem apoio. A ideia é fazer os investimentos diretamente nas agremiações por meio do Conselho de Turismo, com a utilização de um fundo setorial ou por cadernos de encargos, que contariam com financiamentos de empresas privadas.
Desfile
Depois da concentração em frente à prefeitura, os sambistas saíram em caminhada pela Rua Afonso Cavalcanti em direção ao Sambódromo, onde fizeram um desfile até o meio da Passarela do Samba.
O presidente da Riotur, Marcelo Alves, deve se reunir na segunda ou terça-feira com o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Castanheira, para discutir a questão. Estava prevista uma reunião do prefeito com representantes das escolas do grupo especial na segunda-feira, mas foi desmarcada por causa de uma viagem de Crivella para a Holanda.
(Com informações da Agência Brasil e Estadão Conteúdo)