Em março de 2018, os moradores do bairro do Pinheiro, em Maceió, foram surpreendidos por um tremor de terra. O episódio era o início de um processo de rachaduras e afundamentos em imóveis e ruas que já atinge cinco bairros da capital alagoana e foi responsável pelo desalojamento de 55 mil moradores. O problema foi causado pela extração inadequada de sal-gema, usado na produção de cloro e soda cáustica, pela petroquímica Braskem.
Na última quarta-feira, 29, diante do risco de colapso de uma das minas da empresa no bairro do Mutange, a mina 18, a prefeitura da cidade declarou estado de emergência por 180 dias e iniciou a retirada de moradores de um bairro próximo também afetado pelo afundamento do solo, o Bom Parto.
Diante da movimentação que colocou a Defesa Civil municipal em alerta máximo, o mapa da área de risco foi atualizado e a gestão municipal solicitou ajuda federal para realocar os novos moradores atingidos pelo desastre em andamento. Com base em dados da prefeitura de Maceió, da Braskem e do Ministério Público Federal em Alagoas (MPF-AL), VEJA preparou este conteúdo para explicar o alerta de colapso que voltou os olhos do país para Maceió.
Por que os bairros de Maceió estão afundando?
Os bairros do Pinheiro, Mutange, Bom Parto, Bebedouro e Farol estão em uma área onde, a partir da década de 1970, houve a exploração de sal-gema. Na região, há 35 minas onde a retirada do insumo para produção de cloro, soda cáustica e PVC ocorreu de forma indevida. Em 2019, estudos do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) constataram que as fissuras, rachaduras e afundamentos foram causados pela extração realizada pela petroquímica Braskem.
Qual é a área afetada pelos danos?
Segundo a prefeitura de Maceió, a região compreende 2,99 km².
Desde 2018, quantas pessoas foram deslocadas dos bairros que estão afundando?
Mais de 55 mil pessoas tiveram de sair dos cinco bairros atingidos.
Quantas pessoas foram retiradas do Bom Parto desde o decreto de emergência? Quantas se negaram a sair?
Neste momento, há 25 pessoas abrigadas, tanto do Bom Parto quanto dos Flexais (de Cima e de Baixo). Outras foram para casas de familiares. Não há balanço sobre quantas quiseram permanecer.
Para onde vão os moradores desalojados?
Até o momento, seis escolas municipais foram selecionadas para receber os moradores e outras três estão de sobreaviso. Segundo a gestão municipal, as unidades têm capacidade para receber até 5 mil pessoas.
Onde está localizada a mina 18?
Em sobrevoo à região, o prefeito JHC (PL-AL) mostrou fissuras na mina e indicou que 60% dela está dentro da Lagoa Mundaú, na região do bairro do Mutange. Segundo a Defesa Civil, o trecho crítico fica onde funcionava o centro de treinamento do time alagoano CSA.
Confere a informação de que, em caso de colapso da mina 18, uma cratera de 300 metros de diâmetro se formaria no local?
Não. De acordo com a gestão municipal, não há uma previsão exata, mas uma estimativa de que teria um raio maior que cinco vezes o perímetro da mina.
O que está previsto em caso de colapso? O que pode acontecer com a Lagoa Mundaú?
Ainda não é possível prever. “Somente depois do colapso conseguiremos medir as consequências”, diz a prefeitura. Em nota, a Braskem informou que há duas possibilidades sobre o que pode ocorrer com a acomodação do solo da mina: “Um cenário é o de acomodação gradual até a estabilização; o segundo é o de uma possível acomodação abrupta”.
Qual a atual situação das minas da Braskem?
Segundo a petroquímica, a extração de sal-gema em Maceió foi encerrada em maio de 2019 e as ações para o fechamento definitivo dos poços de sal estão previstas para terminar em 2025. Atualmente, 70% dos trabalhos foram concluídos.
A Braskem sofreu alguma punição?
No mês passado, a Justiça determinou que a petroquímica indenize o estado de Alagoas pelos impactos da atividade da empresa na capital. A Braskem estabeleceu um programa de compensação e, até maio deste ano, 18.994 propostas foram apresentadas aos moradores das áreas desocupadas, das quais 18.114 foram aceitas e 17.160 indenizações foram pagas. Também neste ano, assinou um termo de acordo com o município de Maceió para indenização no valor de R$ 1,7 bilhão.
Mapa da área de risco
Fonte: Gabinete de Gestão Integrada, que monitora o afundamento dos bairros