Datas: Max Lopes, Matteo Messina Denaro e Giorgio Napolitano
O carnavalesco, o mafioso e o político

Seria difícil fazer frente à inauguração, em 1984, do sambódromo desenhado por Oscar Niemeyer — a Marquês de Sapucaí emoldurada por concreto, que substituía a tradição da Avenida Presidente Vargas. E então, no início de março, a Mangueira entrou na pista ao amanhecer da segunda noite, com o enredo Yes, Nós Temos Braguinha, em homenagem ao compositor de clássicos como As Pastorinhas e Chiquita Bacana. “Carnaval! O povo vibra de alegria / ao cantar a tua poesia / será que hoje tudo já mudou? / O Arlequim tão sonhador? / Chora Pierrô, chora se tua Colombina foi embora.” O bonito enredo acordou as arquibancadas, mas o espantoso mesmo, à luz do dia, foi o estilo barroco dos carros alegóricos imaginados pelo carnavalesco Max Lopes, campeão pela primeira vez — a verde e rosa não ganhava desde 1973.
Não por acaso, dado o esfuziante trabalho (somado a um ineditismo — quando as regras de contagem de tempo eram outras — de as alas terem chegado à apoteose para retornar na “contramão”), Max, cuja criatividade só era menor que seus bigodes, foi logo apelidado de “o mago das cores”. Ele voltaria a vencer pela Imperatriz Leopoldinense, em 1989 (Liberdade, Liberdade! Abra as Asas sobre Nós), e novamente pela Mangueira (Brasil com Z É pra Cabra da Peste, Brasil com S é Nação do Nordeste), em 2002. Morreu em 24 de setembro, aos 74 anos, em decorrência de um câncer na próstata.
O poderoso chefão

O mafioso Matteo Messina Denaro é acusado de ter participado de alguns dos mais hediondos crimes da Cosa Nostra, a máfia italiana nascida na Sicília. Em 2002, ele foi condenado e sentenciado à prisão perpétua por ter matado pessoalmente ou ordenado o assassinato de dezenas de pessoas. Apelidado de “Diabolik” ou “U Siccu”, o Magro, em dialeto siciliano, Denaro prosperou nos negócios tortos alimentados pelo pai, criador de um império ilícito na indústria de coleta de lixo, energia eólica e varejo. Ele passou mais de trinta anos foragido, até ser preso em janeiro deste ano. Morreu em 25 de setembro, aos 61 anos, em L’Aquila, de câncer no cólon.
A política como arte

No sistema parlamentarista que rege a Itália, o presidente sempre apareceu como personagem de presépio, sem poder. Não foi o caso de Giorgio Napolitano, que assumiu a Presidência de 2006 a 2015. Ele fez história por ter sido o primeiro a ser reeleito ao cargo, mas representou muito mais. Formado, na juventude, pelo Partido Comunista, na maturidade ajudou a fundar uma outra agremiação, os Democratas de Esquerda. Afeito a muita conversa e reconciliações, tinha um jeitão pacato. Definido pelo jornal Corriere della Sera como um “anglo-saxão num país de sangue quente”, lidou com a grave crise da dívida de 2011 — e, simultaneamente, em gesto rápido e preciso, colocou Mario Monti à frente de um governo de tecnocratas para substituir Silvio Berlusconi, envolvido em um de seus sucessivos escândalos. Disse o papa Francisco, que esteve no velório: “Lembro com gratidão das reuniões pessoais que tive com ele, durante as quais apreciei sua humanidade e visão ao tomar escolhas importantes com retidão, especialmente em momentos delicados para a vida do país”. Morreu em 22 de setembro, aos 98 anos.
Publicado em VEJA de 29 de setembro de 2023, edição nº 2861