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Crônica de um desastre anunciado

Além de Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo estão na rota da lama

Por Jennifer Ann Thomas, de Barão de Cocais (MG)
Atualizado em 17 jul 2019, 17h48 - Publicado em 31 Maio 2019, 07h00

É como se todos os relógios em Barão de Cocais — município mineiro de 30 000 habitantes a 90 quilômetros de Belo Horizonte — tivessem estacado. A cidade, de 300 anos, parou no tempo. Desde 8 de fevereiro, data em que 454 pessoas, de quatro comunidades, foram retiradas de suas casas, a população vive numa angustiante espera diante da expectativa do rompimento da Barragem Sul Superior da Mina de Gongo Soco, da mineradora Vale. A estrutura retém cerca de 6 milhões de metros cúbicos de rejeitos de extração de minério de ferro, metade do volume que causou o desastre de Brumadinho, em janeiro passado, com saldo de 270 vítimas. O talude, espécie de parede de contenção que compõe a mina, deve desabar ou deslizar, o que pode gerar vibrações de grande intensidade e, dessa maneira, provocar o rompimento da barragem. O clima de tensão chegou ao ápice quando a própria Vale estimou que o pior aconteceria entre os dias 19 e 25 de maio, o que não se confirmou.

Além de Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo estão na rota da lama. Mas é sabido que Cocais será mesmo o município mais afetado pelos rejeitos. Como parte das medidas de prevenção destinadas a minimizar os danos da catástrofe, as áreas que correm risco maior de ser engolfadas pelo lamaçal foram sinalizadas com uma pintura laranja no meio-fio — o infortúnio iminente ganhou forma e cor.

Enquanto não se dá o rompimento, a população dorme e acorda pensando na barragem. O temor de cair em sono profundo e a preocupação em deixar as malas prontas são alguns dos sintomas relatados pelos moradores das cidades ameaçadas. Odete de Jesus, de 74 anos, é o retrato do desalento que tomou conta dos habitantes de Barão de Cocais. Ela se recusa a sair da casa onde vive, situada na rota dos rejeitos. “Vou para onde? Não tenho mais para onde ir. Se alguma coisa acontecer, alguém passa aqui e me busca de carro”, diz ela, como que hipnotizada pela tinta do perigo que marca a beira da calçada.

Publicado em VEJA de 5 de junho de 2019, edição nº 2637

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