Pedido para Bolsonaro ‘dar ordem’ era para ‘apaziguar’, diz coronel a CPMI
Reportagem de VEJA revelou que Jean Lawand Júnior incentivou o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro a seguir com plano antidemocrático

O coronel Jean Lawand Júnior prestou depoimento nesta terça-feira, 27, na CPMI do 8 de Janeiro. Ele foi o responsável por enviar mensagens com teor golpista a Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, conforme revelou reportagem de VEJA. O militar respondeu a maioria das perguntas, mas, beneficiado por decisão da ministra do STF Cármen Lúcia, pôde invocar o direito ao silêncio diante de perguntas que poderiam levá-lo a se autoincriminar.
Em sua fala inicial, o coronel negou o tom golpista das mensagens com Cid. “Afirmo aos senhores que em nenhum momento falei sobre golpe. Em nenhum momento atentei contra a democracia brasileira. Em nenhum momento eu quis quebrar, destituir ou agredir qualquer uma das instituições, porque isso não faz parte do que eu aprendi durante toda a minha carreira e toda a minha vida”, disse.
Ao ser questionado pela relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), sobre a mensagem enviada a Cid dizendo que Jair Bolsonaro “tinha que dar a ordem” sobre uma possível intervenção e que isso “legitimaria” um golpe, o depoente negou ter falado em golpe e afirmou que usou a palavra “ordem”. Justificou ainda que uma fala do então presidente faria com que as pessoas retornassem para suas casas e que sua intenção sobre a “ordem” de Bolsonaro era “apaziguar” o país.
A respeito da mensagem enviada ao colega militar no dia 1º de dezembro — “então ferrou, vai ter que ser pelo povo mesmo” —, Lawand disse que isso significaria que “o povo iria se conscientizar de que não haverá nenhuma ordem presidencial, de que não será atendido aquilo que pleiteiam, que terão que retornar pras suas casa e fazer o Brasil continuar”. Sobre a sequência de atos antidemocráticos cometidos por bolsonaristas após a declaração, o depoente disse se tratar de “coincidência”.
Durante sua fala, o deputado Rogério Correia (PT-MG) acusou Lawand de mentir no seu depoimento e chegou a afirmar que ele deveria sair preso da CPMI. No momento, o presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), interveio e disse que tal decisão caberia à mesa diretora. Depois, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também colocou em xeque as respostas do coronel e disse que a CPMI não poderia “engolir” tais justificativas.
Outros depoimentos
Na segunda-feira 26, o ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar (DOP) do Distrito Federal Jorge Eduardo Naime afirmou que Agência Brasileira de Inteligência (Abin) havia alertado aos órgãos de inteligência sobre ataque às sedes dos Três Poderes, às 10 horas, do dia 8 de janeiro. No entanto, segundo ele, o núcleo de inteligência do DOP não teve acesso a esses alertas.
Na semana passada, a CPMI ouviu o empresário George Washington Sousa — que está preso acusado de ter colocado uma bomba em um caminhão próximo ao Aeroporto JK, em Brasília, em 24 de dezembro do ano passado —; o diretor do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Polícia Civil do DF, Leonardo de Castro; e os peritos da Polícia Civil do DF Renato Carrijo e Valdir Pires Filho, que fizeram exames nas proximidades do aeroporto e no caminhão.
(com Agência Câmara)