Sargento revela ter feito pagamento para a família Bolsonaro
Declaração foi dada por Luis Marcos dos Reis durante depoimento à CPMI do 8 de Janeiro

A CPMI do 8 de Janeiro ouviu nesta quinta-feira, 24, o depoimento de Luis Marcos dos Reis, sargento do Exército que integrava a equipe da Ajudância de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Reis é apontado como responsável por movimentação atípica de recursos financeiros que tiveram como destinatário o coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro.
As informações estão em relatório de inteligência financeira (RIF) produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e enviado à CPMI no último dia 11. O documento é sigiloso, mas partes de seu conteúdo foram divulgadas pela imprensa.
Em sua fala inicial, o militar negou ter participado de suposto esquema de falsificação de cartões de vacina do ex-presidente Jair Bolsonaro, seus familiares e assessores, motivo pelo qual está preso desde maio por ordem do STF. O sargento também negou ter participado das invasões aos prédios dos Três Poderes no dia 8 de janeiro ou ter feito parte do planejamento dos atos.
Questionado pela relatora da comissão, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), sobre ter feito uma transferência de 70.000 reais para Mauro Cid dois dias antes dos atos golpistas, o sargento disse que realizou o pagamento após ter vendido, a pedido do ex-ajudante de ordens, um carro que valia 72.000 reais . “Ele (Mauro Cid) me falou: ‘Passa 70.000 reais, fica para você o restante pelo seu trabalho'”, afirmou Reis. Uma das linhas de investigação da CPMI é apurar quem financiou os ataques. De acordo com a relatora, o depoente, que recebia, em média, 13.000 reais por mês, movimentou 3 milhões de reais em um ano e meio, segundo dados do Coaf.
Após ter dito que não participou da quebradeira nos Três Poderes, o depoente assumiu que subiu a rampa do Congresso durante os atos do 8 de Janeiro e que se arrepende da conduta, bem como de ter tirado fotos e vídeos no local. “Eu estive aqui no 8 de Janeiro. (Primeiro) acompanhei pela minha casa, assistimos, acompanhando pela televisão… Minha esposa chamou para ir, eu disse: ‘Vamos lá, vamos por curiosidade'”, afirmou.
O sargento disse que chegou com a esposa por volta das 17h na Praça dos Três Poderes e que as forças de segurança já tinham contido os ataques. “Foi um ato impensado”, declarou. “Descemos do carro no Conjunto Nacional e descemos a pé pela Esplanada. Quando chegamos na Esplanada, a Força Nacional estava do lado do Palácio da Justiça, mas já estava tudo dominado pela segurança pública”, acrescentou.
Questionado pelo deputado Rubens Pereira Júnior se já havia feito pagamentos para o ex-presidente Jair Bolsonaro e/ou para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o militar disse que “não”. Logo depois, contudo, ele voltou atrás e, ao ser questionado se fez “pequenos pagamentos” em nome da família Bolsonaro respondeu “já fiz”, explicando qual seria esse pagamento na sequência: “Fiz um pagamento de boleto da filha do presidente, do colégio que ela estudava”, afirmou. Em seguida, ao ser indagado se esse pagamento foi feito com dinheiro próprio, Luis Marcos decidiu se calar.
O requerimento
No requerimento em que pediu a convocação de Reis, a senadora Eliziane Gama identifica o sargento como “servidor responsável por atender demandas de Mauro Cid” e afirma que o seu depoimento é “fundamental”. Outros seis parlamentares pediram a convocação. Todos os requerimentos foram apresentados antes de a comissão ter acesso ao RIF, portanto não citam as movimentações financeiras como justificativa para a convocação. O assunto poderá ser abordado pelos parlamentares mesmo assim.
Os requerimentos se debruçam principalmente sobre as ligações de Reis com a organização dos atos do 8 de Janeiro. O senador Fabiano Contarato (PT-ES), por exemplo, explica que as investigações policiais envolvendo a equipe de auxiliares do ex-presidente Bolsonaro apontam premeditação e envolvimento dos servidores. “Tais documentos que comprovariam a tentativa de golpe de Estado foram encontrados em mensagens trocadas entre o coronel Mauro Cid e o sargento Luis Marcos dos Reis”, diz o senador.
Luis Marcos dos Reis será ouvido na condição de testemunha. Em maio, ele foi preso durante as investigações de um esquema de falsificação do cartão de vacinação de Jair Bolsonaro.
(Com Agência Senado)