Após uma semana marcada por confrontos entre traficantes e pela ocupação por tropas do Exército e da Polícia Militar desde a última sexta-feira, a favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, viveu um dia menos violento no domingo. O clima de aparente tranquilidade foi quebrado por um rápido tiroteio no fim da tarde. Lanchonetes e bares reabriram e moradores foram às ruas. Por segurança, pelo menos oito escolas públicas e particulares da região não terão aulas nesta segunda-feira.
Nas redes sociais, foram compartilhadas fotos de residências que teriam sido invadidas ilegalmente por policiais militares. São imagens de portas arrombadas e casas reviradas, com relatos de supostas agressões verbais e físicas contra moradores. Também há denúncias de roubo de pertences pessoais, como celulares e pares de tênis.
A 11ª DP informou não ter registrado ocorrências do tipo e não foi possível confirmar se há investigação. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), disse desconhecer informações sobre essas invasões. “Estou em contato permanente com muitos moradores que conheço da Rocinha”, afirmou. Segundo ele, a PM “fica o tempo que for necessário para continuarmos com as apreensões de drogas e fuzis e levar paz àquela comunidade.”
Mais cedo, um suspeito foi preso e houve apreensões de drogas e de um fuzil. Na véspera, contudo, houve vários confrontos por outros pontos da cidade – três mortos, nove presos e pelo menos dezoito fuzis apreendidos.
A madrugada deste domingo foi a mais calma na favela desde o domingo anterior (17). Nesse dia, criminosos ligados a Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, que está em um presídio federal de Rondônia, atacaram bandidos chefiados por Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, chefe do tráfico no morro. Ex-comparsas do mesmo bando, ligado à facção Amigo dos Amigos (ADA), os dois se desentenderam.
Os seguidores de Nem arregimentaram cúmplices em outras favelas. A polícia investiga se Rogério 157 tem apoio de outra facção, o Comando Vermelho, prestado a partir de favelas da Tijuca, na Zona Norte.
O preso deste domingo, conduzido sob escolta à 11.ª DP (Rocinha) à tarde, era Emanuel Bezerra de Araújo, de 19 anos, conhecido como Maicon ou Playboy. Ele estava em casa e não ofereceu resistência. Os policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha o localizaram após denúncia. Bezerra é apontado como integrante do grupo de Rogério 157.
O fuzil foi achado na mata atrás da comunidade, em cima da garagem de uma empresa de ônibus, por policiais da UPP do local e do batalhão do Leblon. Segundo a TV Globo, policiais encontraram no sábado 23 a casa onde chegou a se esconder Rogério 157, mas ele já não estava no local.
Escolas
Por segurança, ao menos oito escolas, entre públicas e privadas, na região da Rocinha não funcionam nesta segunda-feira por causa do risco de confrontos. Cinco escolas, duas creches e um Espaço de Desenvolvimento infantil estão fechados, deixando sem aulas cerca de 2.500 alunos.
Instituições privadas de ensino nos arredores da comunidade, como Teresiano, Escola Parque e Escola Americana, na Gávea, já avisaram que não funcionarão nesta segunda. A Escola Americana anunciou que as aulas estão suspensas até quarta-feira.
Fundo
Pezão participou do lançamento, no Rock in Rio, do calendário de eventos “Rio de Janeiro a Janeiro”, para estimular o turismo, que tem sofrido com a crise de insegurança. Ele também anunciou que vai propor a criação de um Fundo de Segurança, com recursos da arrecadação de royalties do pré-sal. A proposta será enviada esta semana ao Legislativo.
“Dos 10% que vão para o Fundo de Conservação Ambiental, vamos repassar 5% para a segurança pública e garantir a integração com a prefeitura nas operações Segurança Presente e a melhora das condições de trabalho das polícias Militar e Civil”, disse Pezão. O fundo deverá destinar 197 milhões de reais para o setor.
(Com Estadão Conteúdo)