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Caso Marielle: Ronnie Lessa é condenado a 78 anos de prisão; Élcio Queiroz pega 59 anos

Réus confessos, eles foram a júri popular em sessão que durou dois dias e terminou no início da noite desta quinta-feira

Por Lucas Mathias Atualizado em 31 out 2024, 21h01 - Publicado em 31 out 2024, 18h23

Os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram condenados, nesta quinta-feira, 31, pelo 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. Réus confessos pela execução da ex-vereadora Marielle Franco, os dois foram a júri popular em sessão que durou dois dias e tiveram sua sentença definida há pouco. Lessa terá 78 anos e 9 meses de reclusão, enquanto Queiroz pegou 59 anos e 8 meses de prisão, conforme definiram os sete julgadores sorteados. 

Além do tempo da sentença, os dois também terão de pagar uma pensão a Arthur, filho de Anderson Gomes, motorista de Marielle também morto no dia do crime, até que ele complete 24 anos. E uma indenização por dano moral a Arthur, Ághata Reis (viúva do motorista), Luyara Franco (filha de Marielle), Monica Benício (viúva de Marielle) e Marinete Silva (mãe da ex-vereadora), no valor de 706 mil reais, para cada uma delas.  Lessa e Queiroz poderão recorrer da decisão, mas seguirão presos preventivamente, sem o direito de fazê-lo em liberdade. 

A sessão foi conduzida pela juíza Lucia Glioche, que pouco antes de proclamar as condenações destacou que significava a prevalência da “vontade do povo em maioria”. E que os réus seriam punidos pelo crime de “querer tirar a vida de outra pessoa”.

“A sentença que será dada agora talvez também não responda à pergunta que ecoou pelo mundo: ‘quem matou Marielle e Anderson?’. Todavia, se dirige aos acusados aqui presentes. E mais: se dirige aos vários Ronnies e vários Élcios que existem na cidade do Rio de Janeiro, livres por aí”, pontuou a magistrada.

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz
Ronnie Lessa e Élcio Queiroz (Bruno Dantas/TJRJ/Divulgação)

“Por anos, os acusados juraram inocência. Pondo a todo tempo em dúvida a prova trazida contra eles”, disse a juíza, antes de lembrar da mudança de postura de Lessa e Queiroz quando decidiram assinar suas delações premiadas. “A Justiça, por vezes, é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta. Mas ela chega. A Justiça chega mesmo para aqueles que, como os acusados, acham que jamais vão ser atingidos pela Justiça. Mas ela chega aos culpados”, completou.

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O julgamento

Ainda na manhã desta quinta-feira, segundo dia de julgamento, o Ministério Público do Rio havia pedido que Lessa e Queiroz fossem condenados à pena máxima, que era de 84 anos de reclusão. Os dois respondiam pelo duplo homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima — contra Marielle e Anderson, além da tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, ex-assessora da vereadora e que também estava no carro, igualmente qualificada de forma tripla.

Marielle Franco, ex-vereadora do Rio, foi assassinada em março de 2018
Marielle Franco, ex-vereadora do Rio, foi assassinada em março de 2018 (Mario Vasconcellos/Câmara Municipal do Rio de Janeiro/AFP)

Para o promotor do MPRJ, Eduardo Martins, Lessa e Queiroz só aceitaram colaborar com as investigações porque eles sabiam que seriam descobertos e na esperança de ter suas penas reduzidas. Os dois firmaram acordos de delação premiada, em que confessaram a execução do crime e apontaram os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, respectivamente conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro e deputado federal, como mandantes. 

“Que arrependimento é esse com algo em troca? Vocês já pediram arrependimento a alguém e disseram: ‘Quero seu perdão se me der alguma coisa em troca’? Porque foi isso que eles fizeram. Eles são réus colaboradores. Eles não vieram e se arrependeram. Eles vieram ao Ministério Público e pediram algo em troca para falar o que falaram”, afirmou Martins, que teve sua fala reforçada pelo promotor de Justiça Fábio Vieira.

Familiares de Marielle Franco acompanharam o julgamento no Fórum Central do Rio de Janeiro
Familiares de Marielle Franco acompanharam o julgamento no Fórum Central do Rio de Janeiro (Brunno Dantas/TJRJ/.)

Já na quarta-feira, 30, primeiro dia de julgamento, depuseram como testemunhas familiares da parlamentar assassinada, os dois acusados e agentes que participaram da investigação.

No depoimento dado por Lessa, ele mostrou calma e frieza ao descrever a execução com detalhes, o que incluiu os momentos anteriores e posteriores ao crime, além da estratégia usada para os disparos, feitos com uma submetralhadora, que teve a mira na cabeça de Marielle. Tanto ele, quanto Queiroz foram ouvidos por videoconferência, das penitenciárias onde estão. O primeiro está preso em Tremembé, no interior de São Paulo, e o segundo, em Brasília.

Familiares da ex-vereadora também depuseram e reforçaram, em declarações emocionadas, a tese de que a atuação da parlamentar pelo direito a moradia pode ter sido um dos motivos do crime. A intenção dos irmãos Brazão, apontados como mandantes da execução, de flexibilizar a legislação para a grilagem de terras, é uma das linhas centrais para a motivação do caso.

Lessa e Queiroz estão presos desde março de 2019, quando foram denunciados pelo Ministério Público do Rio, após ação do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) com a Delegacia de Homicídios da Polícia Civil. 

O conselheiro do TCE/RJ Domingos Brazão, o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ) e o delegado da Polícia Civil RIvaldo Barbosa
O conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão, o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ) e o delegado da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa (Arte/Alerj, Câmara dos Deputados e Polícia Civil/.)

Queiroz disse ter dirigido o veículo usado para o crime e apontou Lessa como o responsável pelos disparos. Em seguida, Lessa reconheceu ter sido o executor de Marielle, apontando ainda os irmãos Brazão como mandantes. Ele também disse que o delegado de Polícia Civil Rivaldo Barbosa atuou junto aos Brazão na organização do crime e ao dificultar sua elucidação.

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