Caso Marielle: Ronnie Lessa é condenado por destruição de provas
Além do ex-PM, outras quatro pessoas foram responsabilizadas pelo descarte das armas; promotoras deixam força-tarefa que investiga o duplo assassinato
A Justiça do Rio de Janeiro condenou o ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de ser o assassino de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, sua mulher, o cunhado e dois amigos pelo crime de destruição de provas. De acordo o Ministério Público fluminense, os cinco são responsáveis por jogar armas no mar da Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade, entre as quais a submetralhadora HK MP5 utilizada para matar a vereadora e seu motorista, em 14 de março de 2018. Neste sábado, 10, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) também confirmou que as duas promotoras de Justiça Simone Sibílio e Letícia Emile, que estavam à frente do inquérito sobre o duplo assassinato há dois anos e dez meses, deixaram o caso.
Em nota, o MP fluminense disse que as duas promotoras “optaram voluntariamente por não mais atuar na força-tarefa que investia o caso Marielle Franco e Anderson Gomes”. E acrescentou: “A Procuradoria-Geral de Justiça do MPRJ reconhece o empenho e a dedicação das promotoras ao longo das investigações, que não serão prejudicadas. O MPRJ anunciará em breve os nomes dos substitutos”. Nos bastidores, ventila-se que a causa da saída das duas promotoras está relacionada ao temor de que interferências externas comprometam o andamento das investigações dos assassinatos de Marielle e seu motorista.
O acordo de delação premiada com o MP da viúva do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, Júlia Lotufo, que teria, além de informações do submundo da contravenção, pistas sobre os mandantes do Caso Marielle, estaria no centro da polêmica. As promotoras Simone Sibílio e Letícia Emile e o delegado Moysés Santana, que deixou a chefia da Divisão de Homicídios da capital (DH) esta semana, não teriam tido voz no acordo de colaboração da viúva do ex-PM, morto em janeiro de 2020 na Bahia.
No caso da condenação do ex-PM Ronnie Lessa por destruição de provas, as investigações apontam que as armas foram retiradas de um apartamento seu, no bairro da Taquara, na Zona Oeste do Rio, dias após sua prisão, em março de 2019. Em depoimento à Delegacia de Homicídios (DH) da capital na época, um pescador contou que um comparsa de ex-PM contratou seu barco e jogou seis armas no mar perto de um conjunto de ilhas chamadas Tijucas. O descarte do material teria ocorrido exatamente um ano após o crime e envolvido a mulher do PM, Eliane Lessa, que é uma das donas do imóvel junto com o marido; Márcio Montavano, respoonsável pela retirada das caixas de armas de dentro do apartamento; Bruno Figueiredo, irmão de Eliane, apontado como auxiliar na execução do plano; e Josinaldo Freitas, que teria jogado os objetos no mar.
Embora em março e junho de 2019 a Marinha tenha feito buscas na região indicada como o ponto de descarte das armas, a pedido da Polícia Civil, nada foi encontrado. Lessa e os outros envolvidos no crime de destruição de provas foram condenados a quatro anos de prisão em regime aberto. Como o ex-PM responde pelo assassinato de Marielle e Anderson, segue preso na cadeia de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Os demais responderão em liberdade. Na ocasião da prisão de Lessa, também foi preso o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz. Os dois são acusados de homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, emboscada e sem dar chance de defesa às vítimas.
Três anos após o assassinato da vereadora Marielle e do motorista Anderson, a polícia ainda não chegou aos mandantes do crime. No início do mês, pela quarta vez, as investigações do caso mudaram de delegado. A Delegacia de Homicídios é chefiada agora por Henrique Damasceno, que esteve à frente da investigação e resolução do caso do menino Henrique Borel, de 4 anos, assassinado na madrugada de 8 de março e cujos suspeitos do crime são seu padrasto, o vereador Jairinho, e sua namorada, a mãe do menino Monique Medeiros.