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Caso Henry: vídeos e chats mostram como Jairinho controlava as mulheres

A exemplo do que aconteceu com Monique, mãe da criança morta, registros obtidos por VEJA mostram que poder financeiro movia convívio com ex-mulher e amante

Por Marina Lang, Sofia Cerqueira Atualizado em 6 jul 2021, 09h43 - Publicado em 5 jul 2021, 20h28

Cassado pela Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro na última quarta-feira, 30, o ex-parlamentar Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, controlava as mulheres com quem se relacionava usando sua influência e seu poder financeiro. Isso ficou evidente a partir da quebra de sigilo de dois dos seus aparelhos celulares e de trocas de mensagens obtidas em investigação policial, a cujo conteúdo VEJA teve acesso com exclusividade. 

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Um vídeo produzido pelos investigadores durante as apurações da morte do menino Henry Borel, de apenas 4 anos, assassinado no apartamento em que vivia com Jairinho, seu padrasto, e a mãe, Monique Medeiros (ambos estão presos e são réus por homicídio triplamente qualificado e tortura da criança), mostra a troca de mensagens entre ele e uma de suas ex-namoradas. A assistente social Débora Mello Saraiva, que ainda mantinha relacionamento com o ex-vereador até depois da madrugada de 8 de março, quanto Henry foi morto, pede dinheiro a Jairinho para situações rotineiras – como abastecer o carro, fazer compras no supermercado e até mesmo comprar pia e vaso sanitário para a casa onde morava, no Engenho de Dentro (Zona Norte do Rio). Débora é mãe do garoto que foi torturado pelo ex-parlamentar a ponto de ter o fêmur quebrado em um “passeio”, conforme VEJA revelou em 2 de abril. Jairinho foi denunciado na semana passada pelo Ministério Público do Rio após investigação capitaneada pela Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav).

 

 

No dia seguinte à morte de Henry, às 12h07, Débora escreve ao político cassado: “Boa tarde! Preciso de dinheiro! Pode fazer pra mim?”, diz ela, aludindo a uma transferência bancária.  Em 10 de março, a amante reforça a cobrança. Jairinho responde, então, que providenciaria recursos naquela data. Cerca de 24h depois, ela reclama: “pedi sua ajuda para um monte de coisas e você cagou. Quando eu sumir, você vem atrás. Mas tá beleza. Eu não tenho dinheiro nem para colocar gasolina”. Quatro dias após o assassinato do menino, em 12 de março, Débora pergunta se Jairinho acha caro pagar 200 reais para instalar um “gabinete” de banheiro e um vaso sanitário. Em seguida, pede dinheiro a ele para o serviço, ao que o ex-vereador responde: “Claro”. Na troca de mensagens, a mulher ainda manda um print de um concurso público da Prefeitura do Rio de Janeiro e pede para que ele lhe ajude.

Quando o caso se tornou público, no dia 17 daquele mês, a assistente social voltou a solicitar dinheiro. “Jairinho, preciso de 600 reais. Pode me dar hoje?”, questiona. “Amanhã sem falta”, responde ele, que até aquele momento não havia mencionado a morte de Henry para a ex-namorada. Em depoimento à polícia, Débora disse que só soube do que aconteceu por meio da imprensa.

 

Outra personagem demonstra depender financeiramente do político cassado: a ex-mulher e nutricionista Ana Carolina Ferreira Netto, cujas conversas foram capturadas pelo software israelense Cellebrite, usado pelas autoridades fluminenses em quebras de sigilos de telefones. Dois dias antes da madrugada em que Henry foi assassinado, Jairinho troca mensagens com ela, que lhe diz: “Você já me ajuda muito financeiramente”. O ex-vereador, então, responde: “Vê o que é preciso comprar! Qualquer coisa posso comprar hoje! Ou amanhã!”. O tom, contudo, nem sempre é amistoso.

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JAIRINHO, CHATS,
(Reprodução/Reprodução)

Em 8 de março, enquanto Jairinho tentava apressar o atestado de óbito da criança – na tentativa de evitar que o corpo fosse exumado pelo Instituto Médico Legal (IML) -, Ana Carolina fazia cobranças sem saber o que tinha acontecido. “Jairinho, que horas você vai chegar aqui pra entregar o que falta?”. Nove minutos depois da mensagem, às 9h46, ele responde: “Tô num problema gravíssimo. Te ligo em 30 min. Te falo depois. Muito sério”. Sem entender o que estava acontecendo, a ex-mulher seguiu em cobranças financeiras. “Aguardando o que resta pra pagar as contas hoje conforme você combinou. Jairinho, você enviou 3 700 [reais]. Do nosso acordo faltava 4 000 [reais]”. O ex-vereador demonstrou que repassava cifras à Ana Carolina em dinheiro vivo. “Nota de 200 reias [sic]. Olha direito”, diz. A ex-mulher também foi vítima de agressões por parte de Jairinho e registrou um boletim de ocorrência em 2014 contra ele, em que narrava um perfil violento e que já havia apanhado antes. No entanto, voltou atrás nas declarações prestadas à polícia neste ano. Em 2019, vizinhos do condomínio de luxo onde o casal morava na Barra da Tijuca (Zona Oeste do Rio) registraram mais um procedimento na polícia devido a brigas constantes e violentas dos dois.

Jairinho
(Reprodução/Reprodução)
Jairinho
(Reprodução/Reprodução)

A questão econômica também movia o relacionamento de Jairinho com a mãe de Henry, Monique Medeiros, também acusada pela morte da criança. Conversas extraídas pela polícia no celular da babá Thayna de Oliveira Ferreira com seu pai, cinco dias antes da morte do garoto, mostram um episódio em que a cuidadora narra uma briga entre Dr. Jairinho e Monique. Segundo o laudo, Thayna descreve que, após apanhar, a namorada do ex-vereador “ameaçou ‘fuder ele’ caso não continuasse ‘pagando as contas dela’, o que o teria feito ficar ‘com o rabo entre as pernas’”. De acordo com o delegado Henrique Damasceno, que chefiou as investigações, isso denota que Monique “teria algum subterfúgio a lançar mão que fazia com que Jairinho se submetesse às condições por ela impostas”. O inquérito apontou que havia indícios de que a namorada teria sofrido algumas agressões por parte do parlamentar. No entanto, diz o relatório final do inquérito, “há provas de que ela não se sentia subjugada” por Jairinho. 

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O vereador Dr. Jairinho, a mãe de Henry, Monique: têm prisão preventiva decretada e viram réus
O ex-vereador Dr. Jairinho, a mãe de Henry, Monique (Arquivo pessoal/Reprodução)
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