Grave. Repugnante. Estarrecedor. Hediondo. Esses adjetivos não bastam para classificar os planos de assassinato do presidente Lula, do vice, Geraldo Alckmin, e do ministro do STF Alexandre de Moraes. Muito já foi dito sobre a tentativa de golpe orquestrada por alguns militares e pessoas ligadas ao governo de Jair Bolsonaro para impedir a posse da chapa eleita em 2022 — que culminaria na infâmia do 8 de Janeiro do ano seguinte. Em junho do ano passado, VEJA conseguiu com exclusividade informações em torno da engrenagem antidemocrática, revelada numa capa com o título “O roteiro do golpe”. Mas nada, nem de longe, se compara aos detalhes sórdidos que surgiram na investigação que resultou na prisão de militares — entre eles, um general — que planejavam não apenas a prorrogação do poder, na marra, como também a execução daqueles que os criminosos consideravam obstáculos a seu projeto.
Por qualquer ângulo que se olhe, o plano Punhal Verde e Amarelo — eis o nome ridículo da tentativa de golpe — é chocante. Como mostra reportagem da edição, o planejamento, a ousadia e a frieza chamam a atenção pela organização, pelas minúcias, um trabalho de preparação que incluía desde as armas que seriam utilizadas, passando pelo monitoramento dos alvos, até a melhor maneira de assassiná-los. Era uma ode à loucura, em completa desconexão com os valores democráticos e republicanos — e no avesso da realidade de um país como o Brasil, apesar da polarização ideológica. Os criminosos acreditavam sair impunes. Imaginavam, tolos, poder fugir do crivo da sociedade, que havia acabado de escolher um presidente. Supunham não haver reação, com a economia seguindo seu curso, diante do olhar benévolo de países com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas. Absurdo.
Diante da grave ameaça às instituições, as consequências precisam ser rígidas. As informações coletadas pela Polícia Federal não vieram de delações ou de depoimentos, mas, sim, de documentação consistente a partir de mensagens e arquivos. Não há dúvida nenhuma das intenções. É algo sólido, palpável. As penas para esses bandidos devem estar à altura de seus atos. Em paralelo, a investigação não pode parar. Os cinco golpistas presos atuaram sozinhos ou havia mais pessoas na cadeia de comando? Qual o papel exato de figuras como o general Braga Netto, candidato a vice na chapa derrotada, nessa operação? E, fundamentalmente, Jair Bolsonaro sabia ou participou de alguma maneira do ensaio de terror? São questões sensíveis, que podem mudar a história do Brasil. Contudo, para seguir em frente, o país exige respostas urgentes.
Publicado em VEJA de 22 de novembro de 2024, edição nº 2920